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acupuntura na gravidez

Osteopatia & Acupuntura na gravidez

A acupuntura na gravidez pode ter efeitos muito benéficos em alguns sintomas como no alívio da dor ou no trabalho de parto.

Alguns estudos sugerem que esta terapia possa ter um papel muito importante no alívio e outros sintomas como insónia ou depressão.

Noutros casos os dados são mais conflitantes com uma provável indicação do uso desta terapia no bebé pélvico e a ausência de resultados visíveis no uso de moxibustão para bebé pélvico.

5 Benefícios da Osteopatia e Acupuntura na gravidez de acordo com estudos clínicos e a nossa experiência clinica

A nossa experiência traduzida por números

Para este artigo foram usados 40 casos clínicos tratados na nossa clinica de Osteopatia e Acupuntura em Lisboa.

Os nossos dados tem algumas limitações evidentes:

1 – Muitas pacientes apresentam quadros complexos com sintomas variados e não somente um sintoma isolado.

2 – Apesar de alguns sintomas serem idênticos a história clinica é muito diferenciada e isso tem relevância para a eficácia clinica.

Por exemplo é diferente tratar uma grávida com ataques de pânico quando jé tem um historial de depressão complicado e não quando são casos isolados.

3 – As pacientes podem parar os tratamentos por várias razões: financeiras; sem sucesso inicial, razão entre despesa e melhorias já obtidas, etc…

4 – Amostras muito pequenas.

No entanto dentro dos casos contabilizados para este artigo é possível apontar algumas métricas relevantes:

7,5% das pacientes apresentaram intolerância ao tratamento ou sensibilidade mais elevadas às agulhas. Ao todo foram 3 pacientes com insónia, depressão pós-parto e para indução de parto.

5% das pacientes foram reencaminhadas para outros serviços.

 

Os melhores resultados parecem estar associados ao tratamento da dor e indução de parto.

No tratamento da dor a parceria entre acupuntura e osteopatia tem apresentado muitos benefícios para as grávidas

Vómitos e Enjoos no primeiro trimestre de gravidez

De acordo com Smith (2002), Belluomini (1994) e Norheim (23001) a acupuntura pode ajudar a tratar vómitos e enjoos durante a gravidez.

Da amostra da nossa clinica, 7.5% das pacientes apresentavam náuseas e vómitos. 1 paciente tomava nausef para aliviar as náuseas sem sucesso.

Das 3 pacientes tratadas 1 agravou os vómitos (33,3%) e as outras 2 pacientes sentiram grandes melhorias (66,6%) incluindo a paciente que tomava nausef.

Tratamento da dor

A acupuntura na gravidez é útil no tratamento da dor de acordo com Han (2004) e Cooper 2012).

Outro estudo indicou que esta terapia foi mais eficaz que a fisioterapia no alívio de lombalgia em grávidas (Wedenberg 2001).

No entanto a dor representa uma série de problemas diferenciados.

Em grávidas são comuns as lombo-ciatalgias devido ao peso que o bebé exerce sobre os estruturas adjacentes.

22,5% das pacientes apresentavam lombalgia, ciática ou uma combinação das 2. 

1 destas pacientes apresentava dor nos glutões e 2 apresentavam lombalgia decorrente do parto ou como complicação da gravidez.

1 paciente também apresentava dorsalgia a acompanhar a ciática que se conseguiu tratar com sucesso.

Para a maioria das pacientes foram usadas técnicas osteopáticas e técnicas invasivas.

Todas as pacientes (100%) referiram melhoras significativas ou desaparecimento completo da dor lombar ou ciática. Em média cada pacientes fez 3.57 sessões de acupuntura e Osteopatia na gravidez.

2 Pacientes (5%) referiram cervico-braquialgias. 1 paciente ficou assintomática ao final de 2 sessões e outra decidiu parar tratamentos ao final da 2ª sessão mas com grandes melhorias em relação ao quadro inicial.

2,5% de pacientes grávidas apresentavam dor no ombro. Com uma média de 2 consultas a paciente ficou assintomática.

1 paciente (2.5%) apresentava diagnóstico com suspeita de tendinite de Quervain. Foram feitas 4 consultas sem sucesso.

Distúrbios de foro emocional durante a gravidez

Estudos científicos indicam que a terapia pode ter um papel interessante no tratamento de insónia (Guerreiro da Silva 2005) e depressão (Manber 2005) em grávidas.

Outros estudos apontam que a acupuntura pode ajudar na depressão leve a moderada mas não apresenta benefícios na depressão major.

12,5% das pacientes grávidas apresentavam insónia como queixa isolada ou acompanhada de outras queixas.

A acupuntura na insónia apresentou uma eficácia relativa em 40% das pacientes e não apresentou resultados satisfatórios em 60% das pacientes.

7,5% das pacientes apresentava ansiedade como queixa principal. Apesar da variedade de causas da ansiedade nestas pacientes foi possível observar uma resposta positiva em 66,6% das pacientes.

5% das pacientes apresentavam ataques de pânico durante a gravidez. (outras pacientes tinham historial de ataques de pânico mas não apresentavam o sintoma).

1 paciente respondeu positivamente aos tratamentos (50%) enquanto a outra paciente não respondeu.

7,5% das pacientes referia depressão pós-parto. Nenhuma das pacientes (0%) apresentou uma resposta que pudesse ser considerada clinicamente relevante.

Uma paciente não conseguiu fazer os tratamentos devido a reação vaso-vagal (33,3%), outra paciente não respondeu positivamente de forma continuada (33,3%) e outra paciente apresentava melhorias de curta duração que não compensava o investimento financeiro no tratamento (33,3%).

Com excepção da 1ª paciente que desistiu logo na primeira consulta foram feitas uma média de 5.5 sessões por doente.

Bebé Pélvico

Tradicionalmente a aplicação de acupuntura na gravidez é aconselhada para tratar bebé pélvico.

Estudos clinicos tem demonstrado que esta técnica pode ser útil (Berg 2008), mas o uso de moxibustão não demonstrou benefícios (Smith 2005).

22,5% das grávidas apresentava bebé pélvico.

Deste grupo 22,2% eram grávidas com menos de 34 semanas e 77,7% eram grávidas com mais de 36 semanas.

Do grupo de grávidas entre as 32 e 34 semanas, todas (100%) responderam positivamente aos tratamentos.

De momento ainda estamos em contacto com o grupo de grávidas acima das 36 semanas para tentar analisar a % de sucesso ou insucesso.

Indução de parto

Estudos mostraram que este tratamento pode ser útil na indução do trabalho de parto (Smith 2004; Hanson 2003; Smith 2011). 

Outro estudo notou que aliviava as dores e reduzia o tempo de trabalho de parto sem efeitos secundários associados (Hantoushzadeh 2007).

As grávidas que procuram acupuntura para indução de parto estão com uma média de 39,5 a 40 semanas de gestação e tentam evitar procedimentos mais invasivos ou com maiores efeitos secundários.

10% das pacientes da nossa amostra procuraram acupuntura na gravidez para indução de parto.

Ao todo fizeram uma média de 1.25 consultas com um sucesso de 100%.

primeiro trimestre de gravidez osteopatia acupuntura

Dúvidas mais frequentes sobre os benefícios e riscos da Osteopatia e Acupuntura na gravidez

Quais os riscos e contra-indicações da acupuntura na gravidez?

A punção abdominal é contra-indicada na gravidez. De resto a acupuntura na gravidez é um tratamento seguro e com muitos poucos efeitos secundários.

A acupuntura elétrica costuma ser contra-indicada durante a gravidez mas tem existido vários estudos a usá-la na altura de indução de parto.

A acupuntura na gravidez tem um perfil de poucos efeitos secundários muito satisfatório e é um tratamento seguro para as grávidas! A nossa equipa pode ajudá-la.

Estas terapias são indicadas no 1º trimestre de gravidez?

Efetivamente podem ser usadas em qualquer fase da gravidez. O risco de se usar estas terapias é extremamente baixo.

No primeiro trimestre a acupuntura tem sido usada para prevenir aborto espontâneo e tratar outros sintomas como vómitos e náuseas.

As evidências da acupuntura para náuseas em grávidas são superiores às existentes que suportam o uso da acupuntura para prevenir aborto espontâneo.

Quais os benefícios da Osteopatia na gravidez?

A osteopatia na gravidez é uma mais valia para a gestante por várias razões.

Em primeiro lugar oferece um conjunto de técnicas com grande eficácia no alivio da dor.

Em segundo lugar consegue trabalhar problemas motores com limitações de mobilidade e aumenta grandemente a sensação e bem estar da futura mamã.

Em terceiro lugar é extremamente segura com virtualmente zero riscos para a grávida.

No nosso gabinete damos atenção a um conjunto de técnicas osteopáticas muito focadas na mobilidade articular, restabelecimento das propriedades neuro-motoras do sistema nervoso periférico e relaxamento muscular.

Osteopatia pós-parto e Osteopatia pediátrica

Na nossa clinica não disponibilizámos serviços de osteopatia pós-parto (para reabilitação perineal por exemplo) nem osteopatia pediátrica.

No entanto, se desejar aceder a estes serviços pode contactar a Associação Independente de Osteopatia (AIO) através do seu site oficial.

acupuntura na gravidez osteopatiaFoto de Kamille Sampaio no Pexels

Casos clínicos tratados com técnicas manuais e invasivas

Dor de cabeça na gravidez e congestão nasal

Dor de cabeça na gravidez, dor facial e congestão nasal foram as queixas que levaram esta paciente às consultas de acupuntura.

A paciente recorreu à acupuntura na gravidez de forma a evitar a toma de medicação.

Paciente apresentava historial clínico de sinusite.

A análise semiológica dos sintomas indicou a existência de um padrão de vento-humidade-frio possivelmente a agravar para calor.

Os sintomas indicavam predominância de humidade face aos outros padrões sendo o frio menos significante.

A paciente fez 5 sessões na totalidade.

Ao longo das 5 sessões sentiu melhoras significativas nos espirros, desaparecimento quase total da cefaleia frontal e dor facial, melhoria nos padrões de sono e melhoras menos proeminentes, mas mesmo assim com significado clínico, na congestão intensidade e frequência da congestão nasal.

No final da 5ª sessão a paciente parou os tratamentos por motivos pessoais.

terapeutas tratamentos de acupuntura

Prevenir aborto espontâneo com tratamentos de acupuntura

Paciente do sexo feminino com 33 anos.

Teve uma primeira gravidez com aborto espontâneo às 9 semanas.

Recorreu à consulta de acupuntura para conseguir ultrapassar as 12 semanas de gravidez sem problemas e prevenir aborto espontâneo.

A paciente apresentava alguns sintomas após a gravidez interrompida que permitiram reconhecer a existência de um padrão de Estase de Sangue e outro de Súbida de Yang.

Outros sintomas denunciavam a possível existência de padrões de deficiência como Vazio de Sangue e/ou Qi.

O tratamento iniciou antes da paciente conseguir engravidar.

A paciente não apresentava problemas em engravidar e, conseguiu engravidar, mais rapidamente do que se esperava.

Após o inicio da gravidez a paciente parou de tomar as fórmulas de matéria médica e continuou unicamente com os tratamentos de acupuntura até fazer as 12 semanas.

Durante este período a paciente foi observada num período quinzenal, em vez de semanal como tinha sido antes do inicio da gravidez, durante o qual foram analisados e abordados alguns sintomas.

A paciente fez as 12 semanas com uma gravidez normal.

tratar grávidas com acupuntura e medicina chinesa

Dor na gravidez e bebé pélvico

Dor na gravidez e bebé pélvico foi a queixa que trouxe esta paciente, de 32 anos, às consultas de acupuntura na gravidez.

Não se fez diagnóstico de medicina tradicional chinesa e o tratamento de eleição foi a acupuntura e moxibustão. 

Nas consultas fez-se acupuntura e a paciente foi ensinada a usar moxa de cone em casa de forma a poder aplicar todos os dias.

A paciente respondeu positivamente aos tratamentos sendo que ao final de 3 sessões não apresentou mais dor e o bébé já se apresentava na posição normal.

Ao todo a paciente fez 3 sessões para tratar dor na gravidez e bebé pélvico.

Tratar insónia em grávidas

Paciente do sexo feminino com 27 anos de idade que apresentava insónia desde o inicio da gravidez.

Encontrava-se grávida de 4 meses (17 semanas e dois dias) na altura da 1ª consulta.

Esta era a segunda gravidez.

A paciente apresentava todo um conjunto de sintomas que denunciavam um padrão de vazio de yin (suores nocturnos, insónia, agitação psíquica, nervosismo, olhos secos e quentes, etc…).

A paciente recorreu à acupuntura porque a insónia já existia desde o incío da gravidez e não indicava estar a melhorar.

Devido ao estado de gravidez, que impossibilitava a toma de medicação, a paciente decidiu recorrer à acupuntura.

Para tratar insónia em grávidas selecionou-se a acupuntura como tratamento de eleição.

Devido à resposta positiva da paciente decidi não recorrer à fitoterapia.

A paciente respondeu de forma extremamente positiva aos tratamentos de acupuntura sendo necessários um total de 5 tratamentos de acupuntura.

As primeiras 4 consultas para tratar insónia em grávidas foram dadas com 1 semana de intervalo e a última consulta com 3 semanas de intervalo.

Grávida com vómitos, ataques de pânico e dor ciática

Gestante de 4 meses, recorreu às consultas de acupuntura devido à presença de vários sintomas como vómitos, enjoos, dor ciática e ataques de pânico.

Era a segunda gravidez e na primeira gravidez também referiu a presença de vários sintomas de severidade moderada a elevada como vômitos cursivos, sonolência, cansaço, lombalgia e ciática.

A lombociatalgia tinha tendência a agravar com o aumento de peso e do perímetro abdominal devido à compressão que o bebé exercia sobre os nervos locais.

Para tratar esta paciente foram usadas uma combinação de técnicas de Osteopatia e Acupuntura.

Os ataques de pânico responderam bem aos tratamentos.

Técnicas osteopáticas de relaxamento em sinergia com acupuntura conseguiram promover uma grande melhoria da qualidade de sono, diminuir a ansiedade dando maior estabilidade emocional e eliminar os ataques de pânico.

Para tratar a dor foram usadas técnicas de punção local para relaxamento muscular e neuromodulação periférica para estímulo de determinados troncos nervosos.

Todos os sintomas foram grandemente reduzidos ao longo dos últimos meses de gravidez.

A paciente precisou de acompanhamento durante toda a gravidez num total de 22 consultas aos longo de 5 meses.

Indução de parto às 40 semanas

Várias gestantes, recorreram à acupuntura para indução de parto após as 40 semanas.

Regra geral as grávidas respondem muito positivamente aos tratamentos sendo necessário entre uma a duas sessões.

Os tratamentos tem sido feitos só com acupuntura manual e sem estímulos elétricos.

Os protocolos e pontos de acupuntura usados tem sido pensados numa combinação de acupuntura tradicional com contemporânea.

Os pontos de acupuntura tradicionais são pensados numa lógica de neuromodulação periférica associada a técnicas de dermoneuromodulação vagal.

Testemunhos dos nossos pacientes

“Tive uma experiência fantástica com o Dr. Nuno, graças ao seu profissionalismo que consegui passar uma gravidez tranquila sem dores de ciática e com menos vómitos. Um muito obrigada pelo acompanhamento que me fez.”

Joana Adriano

5/5

beneficios da osteopatia e acupuntura na gravidez

Reflexões académicas sobre acupuntura na gravidez

Gravidez e evolução: pensar na Medicina Chinesa fora da caixa

Regra geral, as mulheres grávidas sofrem enjoos no início da gravidez.

A medicina ocidental e a medicina chinesa desenvolveram tratamentos de forma a aliviar estes sintomas e a melhorar a qualidade de vida da grávida.

Tradicionalmente qualquer pessoa com formação em saúde olhava para os vómitos como um sintoma, uma forma do corpo do paciente comunicar que algo está mal, que precisa de tratamento.

Nós aplicamos esse pensamento em todas as situações, mesmo durante a gravidez, no entanto a gravidez não é uma doença.

Poderá um sintoma, como o enjoo, durante a gravidez ser considerado um sintoma de doença?

Tudo depende da forma como olhamos o problema; ora olhamos numa perspetiva clinica, ora olhamos numa perspetiva evolutiva.

Façamos algumas perguntas simples:

Porque é que as mulheres grávidas têm enjoos e vômitos?

Se isso é tão mau porque é que a seleção natural não os eliminou?

Estas foram as questões com que Margie Profet se interrogou antes de chegar à sua teoria dos enjoos da gravidez que lhe valeu o prémio da MacArthur Foundation, em 1993.

De inicio começou por colocar várias hipóteses como:

(1) as mulheres grávidas podem ser “particularmente vulneráveis à doença” sendo os enjoos uma consequência de um agente infeccioso;

(2) os enjoos podem ser provocados por um qualquer agente tóxico;

(3) uma consequência inevitável de alterações hormonais;

(4) podem ser benéficos para a gravidez, uma vez que o feto não tem capacidade de aguentar muitos dos produtos tóxicos existentes em vários alimentos.

David Wilson, na sua magistral obra “A Evolução Para Todos“, publicada na Gradiva mostra-nos o pensamento seguido para testar cada uma destas hipóteses.

Se os vómitos fossem provocados por um agente bacteriológico, então seria possível descobri-lo e tratar os sintomas com antibióticos.

Se fosse um agente tóxico então teria de ser algo recente da nossa sociedade e, de certeza, que existiriam sociedades em que as mulheres não sentiriam enjoos e se os enjoos da gravidez fossem um sub-produto de modificações hormonais que têm lugar durante a gravidez (como a cauda enrolada do cão), então devia ser possível descobrir as associações ocultas”. (1)

Por outro lado a hipótese de ser um mecanismo evolutivo cuja finalidade consiste em proteger o embrião leva-nos a novas lógicas que permitem validar ou negar esta hipótese.

Neste caso pode-se supor que as náuseas deveriam ser mais intensas no período em que o embrião é mais vulnerável e deveriam ser desencadeadas por alimentos com maior probabilidade de fazerem mal ao embrião”. (2)

Margie começou a colocar estas questões e a compará-las com os dados científicos que dispunha.

Em primeiro lugar, os enjoos são mais frequentes no início da gravidez, ou seja, no período em que o embrião ainda está a desenvolver os seus sistemas e órgãos e em que é mais sensível às toxinas presentes nos alimentos.

Em segundo lugar, sabemos que alimentos mais condimentados e amargos têm maior probabilidade de provocar o aborto e estes alimentos também são aqueles que maior probabilidade tem de provocar enjoos durante a gravidez.

Em terceiro lugar, outros dados médicos, como os dados de um investigador médico que em 1940 mostravam uma maior prevalência de abortos em mulheres que não sofriam enjoos durante a gravidez, vieram fortalecer a hipótese evolutiva.

E estes não foram os únicos dados.

Maggie conseguiu reunir toda uma vasta gama de dados que tornaram a teoria válida e coesa a ponto de ser galardoada com o prémio da Fundação MacArthur.

Deixemos, novamente, o fabuloso David Wilson falar.

“As grávidas não só evitam determinados alimentos, mas os seus corpos também trabalham mais para eliminar os produtos tóxicos dos alimentos que elas ingerem. Os alimentos deslocam-se mais lentamente através dos intestinos. O fluxo sanguíneo para os rins aumenta. O fígado eleva gradualmente a produção de enzimas. O nariz torna-se mais sensível aos cheiros. Até o hábito aparentemente bizarro de comer argila se torna explicável, uma vez que se provou que a argila reduz a absorção de produtos químicos tóxicos para a corrente sanguínea e é um ingrediente fundamental do Kaopectate, usado para tratar problemas de estômago e náuseas. Estas alterações coordenadas têm todas a marca distinctiva de um importante «plano de guerra» fisiológico que evoluiu ao longo de milhões de gerações, muito antes do nosso aprecimento como espécie, para resolver um problema recorrente de sobrevivência e reprodução.” (3)

Uma conversa com Stephen Birch sobre pontos proibidos na gravidez

Uma das coisas que aprendi enquanto estudante de medicina chinesa estava relacionado com a proibição de usar determinados pontos na gravidez.

Na altura ensinava-se que os pontos do baixo ventre não podiam ser usados. Compreendo e aceito que não se usem pontos no baixo abdómen em grávidas. É somente lógico que assim seja.

A nível dos pontos distais, o 6BP e o 4IG eram os mais falados como proibidos pois, supostamente estes pontos provocam contrações uterinas sendo usados para favorecer o trabalho de parto.

Eu compreendo que sejam usados para trabalho de parto mas não compreendo que sejam proibidos durante a gravidez.

As minhas dúvidas prendiam-se com algumas características próprias da acupuntura na medicina chinesa:

1 – pontos anatomicamente próximos têm indicações clinicas semelhantes;

2 – patologias dos meridianos.

Gravidez e acupuntura e a patologia dos meridianos

Os meridianos (vasos longitudinais) não são mais do que formas de associar pontos que tratam sintomas idênticos.

Por isso existem as chamadas patologias de meridianos que não são mais do que coleções de sintomas associados a regiões do corpo atravessadas por esses meridianos.

Isso significa que ao longo do meridiano vamos encontrar pontos com indicações e contra-indicações muito semelhantes.

Algumas contra-indicações podem ter a ver com a localização do ponto como acontece com a proibição de se usar pontos localizados no abdómen em grávidas.

Outros pontos exigem cuidados pois a sua puntura não é proibida mas pode ser perigosa.

Como exemplo temos os pontos localizados na região do tórax cuja puntura pode provocar um pneumotórax.

Mas não existe nenhuma contra-indicação deste tipo para o ponto 6BP.

Em primeiro lugar, localiza-se na perna, afastado do baixo abdómen.

Em segundo lugar, a sua contra-indicação durante a gravidez deve-se a uma indicação clinica especifica: provocar contrações uterinas.

No entanto, pela teoria dos meridianos, deveriam existir outros pontos para tratar este mesmo sintoma.

Não há um exemplo único de um ponto que seja para tratar um sintoma sendo essa indicação única ao longo de todo o meridiano.

Como consequência deveriam existir mais pontos do meridiano do Baço a provocarem contrações uterinas e, como tal, a serem proibidos durante a gravidez. No entanto isso não acontece. Mais nenhum ponto deste meridiano é contra-indicado na gravidez.

O pensamento associado ao 6BP aplica-se igualmente ao 4IG. E o 4IG localiza-se na mão e não na perna, o que torna a situação ainda mais bizarra.

Pontos anatomicamente próximos

O primeiro princípio da combinação de pontos refere “seleção de pontos locais”.

No tratamento da dor com eletropuntura um dos principais princípios refere que os pontos locais são os mais importantes.

Por outras palavras, pontos anatomicamente próximos possuem indicações clinicas idênticas.

E o que vale para os pontos locais também vale para os pontos distais.

Pontos anatomicamente próximos possuem indicações clinicas semelhantes.

Para comprovar isto basta comparar as indicações clinicas dos pontos de dada região do corpo sem olhar aos meridianos.

Por exemplo, no antebraço temos um conjunto de pontos extra e de meridianos sendo a função destes pontos muito idêntica.

As indicações clinicas do pontos extra Bizhong (localizado no centro do antebraço) confundem-se facilmente com as indicações dos pontos do meridiano do pericárdio por exemplo (existem exceções mas não negam esta regra).

Logo se o 6BP tem indicações clinicas relacionadas com o parto, então outros pontos locais também deveriam ter e efetivamente é isso que acontece.

Mas se isto se observa porque razão a puntura desses pontos também não é proibida?

E o 4IG ainda é mais estranho (para variar).

É que a maioria dos pontos à volta do 4IG não são aconselhados para aumentar as contrações uterinas.

Conversa com Steven Birch sobre gravidez e acupuntura

Há uns anos atrás, quando Stephen Birch veio à ESMTC, pela primeira vez, houve uma reunião na escola.

Nessa reunião tivemos uma discussão muito interessante sobre investigação científica e problemas associados à investigação científica na acupuntura.

No final da reunião enquanto descíamos a Rua das Portas de Santo Antão, nas antigas instalações da ESMTC, decidi interpelar o convidado especial com esta questão.

Já me andava a chatear há muito tempo e nunca tinha encontrado uma resposta satisfatória ou algum trabalho que abordasse o problema.

Ainda por mais depois de ter lido um estudo onde usavam o 4IG para tratar dor de dentes em grávidas.

De acordo com a opinião do Stephen Birch, tinha-se generalizado a história da proibição sem existir fundamento para tal.

A maioria dos clássicos que ele estudara não referia essa proibição, nunca se tinha provado qualquer tipo de relação causal e um desses pontos, 6BP, era dos principais pontos para tratar problemas associados à gravidez, desde dor a insónia.

Ou seja, é perfeitamente seguro punturar o 6BP e o 4IG durante a gravidez.

21VB: a fronteira entre a retenção placentária e a cefaleia

O ponto 21VB é usado no tratamento de retenção placentária.

Este ponto é daquelas raridades que tratam problemas diferentes dos pontos locais.

O ponto encontra-se no ombro e é o único ponto aí falado seriamente para o tratamento de retenção placentária.

Se o ponto trata a queixa ou não é outra questão.

Eu pretendo aqui chamar a atenção para o facto que, tal como o 4IG, o ponto 21VB é daquelas raridades que consegue tratar problemas que escapam à capacidade dos seus pontos vizinhos.

Por causa disto, o ponto é igualmente contra-indicado no tratamento de mulheres grávidas.

Pelo menos de acordo com algumas escolas de pensamento.

Existe uma fronteira muito ténue entre clinica e filosofia na acupuntura tradicional chinesa e facilmente nos perdemos nela.

Ganha quem questiona e não se deixa levar em verdades absolutas sem o mínimo de comprovação.

Num caso antigo uma grávida com cefaleia derivada da presença de cefaleia não foi corretamente tratada porque a colega que a atendeu achou que havia pontos proibidos como o 21VB.

Foi através da estimulação dos pontos gatilho no trapézio, na região do 21VB, que eu lhe tratei as dores de cabeça.

Referências Bibliográficas

(1) David Sloan Wilson; A evolução para todos, pág. 113.

(2) Idem, idem, pág. 115. O leitor deve estar a perguntar-se o que são as associações ocultas ou o que este problema tem a ver com a cauda enrolada do cão. Na realidade coloquei esta citação propositadamente. Se consegui estimular a curiosidade do leitor, então, aconselho a comprar o livro. Vale a pena. Palavra de acupuntor.

(3) Idem, idem

(4) Idem.idem, pág. 116