Chi Kung ou Qi Gong
TABELA DE CONTEÚDOS
O Qi Gong ou Chi Kung não é uma ginástica ou uma forma de desporto como o futebol ou o hóquei.
Não existe uma data especifica de origem, um inventor ou um criador do método.
O Qi Gong, tal como é conhecido hoje, resulta da experiência de centenas de praticantes ao longo dos séculos em vertentes como saúde, desporto, artes miliatares ou esotéricas.
É o acumular da troca de experiências entre indianos e chineses e na sua constante adaptação cultural e histórica.
Hoje o Chi KUng é essencialmente conhecido como um grupo de exercícios para treinar o corpo e a mente.
Na versão chinesa o Chi Kung permite a manipulação do Qi e na versão ocidental permite a manipulação da energia.
O Qi Gong vive nesta fronteira mal definida entre desporto, meditação e religião.
Esta característica torna-o interessante ao mesmo tempo que controverso.
Chi Kung vs desporto
Alunos, colegas e leitores ficam ofendidos quando considero o Chi Kung uma boa prática para idosos.
Eu não pretendo ser ofensivo quando defendo este tipo de exercícios para a 3ª idade.
E não quero limitar a prática só à 3ª idade, no entanto, considerando uma vasta gama de filosofias de treino e as potencialidades biomecânicas de um organismo jovem acho mesmo que existem outras alternativas muito interessantes.
A grande diferença entre exercício físico e qi gong é que o conceito de primeiro é mais lato. De tal forma que consegue englobar o chi kung. Mas podemos falar de exercício físico sem praticar chi kung.
O desporto pode implicar o levantamento de pesos, o cardio, o treino de ata intensidade, meditação, etc…
Vamos abordar diferentes formas de exercício e ver como podem ajudar a pessoa a ficar mais saudável.
Levantar pesos
Excelente para pessoas novas, meia idade ou idades mais avançadas (exigindo alguns cuidados).
É dos melhores exercícios que na idade adulta irão prevenir o aparecimento de osteoporose.
Levantar pesos ajuda a tornar os músculos mais fortes e acima de tudo obriga o osso a fortalecer.
O peso é uma força pelo que pode ser feita usando máquinas como outros aparelhos. O TRX por exemplo usa o peso do corpo para treino.
O treino de força (muito apreciado por homens e esteróides anabolizantes) é essencial para se manter ossos fortes durante a vida.
Cardio
Só levantar pesos pode fazer muito pelo crescimento do bíceps ou o fortalecimento do fémur mas não vai fazer muito pelo músculo cardíaco.
Só existe uma forma de treinar este tipo de músculo: fazer exercícios específicos para o músculo cardíaco.
Desde correr a saltar à corda. Existem treinos como artes de luta (boxe, muay thai, etc…) que dependem muito da capacidade cardíaca do atelta!
Treino de alta intensidade
Para construir mais músculo, para treinar o coração e acima de tudo para estimular as fibras musculares rápidas.
Na medida que envelhecemos vamos perdendo fibras musculares rápidas e ficando com mais fibras musculares lentas.
Treino de alta intensidade permite diminuir a perda de fibras musculares rápidas.
Variação de aulas em grupo
Aulas de grupos variadas são importantes porque obrigam a trabalhar todo o tipo de músculos no corpo.
Podem fazer-se aulas especificas para os abdominais, para os músculos da coxa, só de alongamentos, TRX, bounce, step, etc…
Além de permitir treinos mais focados em determinados grupos musculares também podem ter um impacto a nível cerebral relevante.
Estas aulas tem sequências variadas o que obrigam a pessoa a adaptar-se a novos sistemas e acima de tudo obrigam a pessoa a fazer isto durante momentos de grande stresse físico ajudando a melhorar a atenção e coordenação de movimentos!
O Qi Gong face a outros exercícios
Face ao que foi dito é possível observar várias limitações do qi gong face a um conceito mais vasto de exercício físico:
1 – o qi gong não fortalece os ossos da mesma forma que o treino de força.
2 – o qi gong não consegue trabalhar o músculo cardíaco.
3 – o qi gong não desacelera o desaparecimento de fibras musculares rápidas.
4 – o qi gong não treina a atenção, memória e coordenação de movimentos em estados de grande stresse físico.
5 – os movimentos do Chi Kung não estão pensados para corrigir alterações posturas ou alterar movimentos de cadeias musculares que possam gerar descompensações.
Isto não significa que não tenha beneficios.
O Chi Kung apresenta vários benefícios:
1 – através de exercícios de respiração e concentração consegue melhorar a memória e a atenção.
2 – ajuda a pessoa a lidar melhor com o stresse (o exercício físico também sendo que aqui o mais importante é a pessoa fazer algo que goste desde qi gong a boxe!)
3 – particularmente bom em pessoas de idade mais avançada que não conseguem carregar pesos.
O qi gong consegue ser muito relevante para ajudar a diminuir problemas na 3ª idade relacionados com fraqueza articular e muscular.
Cegueira ideológica e Qi Gong
No entanto o Qi Gong não é só um conjunto de instruções para executar um grupo de movimentos que melhoram a saúde.
Na maioria das vezes o Chi Kung está associado a uma visão místico-mágica da realidade tanto pelas interpretações asiáticas como pelas influências new age ocidentais.
Desta forma o Qi Gong é descrito como uma forma de mobilizar uma energia (que funciona como uma mistura de entidade divina e forças fundamentais da natureza).
O Chi Kung não trabalha somente a componente física ou emocional mas também a espiritual.
Não é só uma ginástica mas uma forma do terapeuta tratar o paciente através da projeção da sua própria energia ou da manipulação da energia do paciente.
É esta componente esotérica, esta desconexão entre o mundo real e a pura fantasia, que torna a prática ridicularizável.
É a componente do Chi Kung que não se consegue distinguir do misticismo inútil do Reiki.
Mas ao contrário do reiki ou do toque terapêutico o qi gong é uma ginástica que efetivamente pode apresentar grandes benefícios para a saúde física e mental das pessoas.
O qi gong num mundo sem bom senso
No entanto, em vez de ser desenvolvido numa vertente clinica lógica e sem superstições idiotas termina num circo onde o senso comum não consegue bilhete.
Um espetáculo triste de superstição e credulidade humana e total ausência de razão.
Num destes espetáculos um mestre em qi gong usa o seu “poder energético” para fazer cair uma série de pessoas. Sem lhes tocar ele consegue manipular os seus corpos e faze-los cair.
A audiência aplaude e ninguém parece ser capaz de ver o quão idiota está a ser por participar num espetáculo onde a estupidez humana é a verdadeira vencedora.
Perda de contacto com a realidade
Por vezes estes mestres acabam por acreditar tanto no que fazem que perdem totalmente a capacidade de discernir a realidade da sua ficção. Perdem capacidade de usar a razão.
Um destes mestres, provavelmente farto de vencer lutas contra alunos influenciáveis, decidiu lançar um prémio onde oferecia 5000 dólares a qualquer lutador que decidisse enfrentá-lo. Pode ver o resultado do combate no filme que se segue.
Não posso dizer que tenha pena do mestre (até admito que tive pena de nunca ganhar 5000 dólares tão facilmente).
E sim, adorava ver a cara dos poucos alunos que tenham percebido o quão ridículo tem sido ao deixarem-se manipular tão facilmente por um bruxo sem qualquer tipo de valor.
Quando a crença prejudica a clinica
No entanto quando este tipo de pensamento é aplicado na clínica e pessoas saem magoadas isso já me dá pena e provoca, tenho de admitir, uma certa revolta.
Vejo colegas meus que não desinfetam a pele ou não usam luvas porque isso afeta o circuito da “energia” no corpo.
Colegas meus a afundam-se em crenças idiotas de acupunturas esotéricas ou acupunturas quânticas em nome de uma qualquer crença que nem eles conseguem explicar bem.
Nós devíamos ser capazes de pensar criticamente sobre as nossas crenças.
E deveríamos ser capazes de saber distinguir as nossas crenças pessoais do nosso trabalho clínico.
Infelizmente essa fronteira entre o aceitável clinicamente e a crendice saloia parece ter sido completamente desfeita.
O futuro numa sociedade que se quer cada vez mais racional e com bom senso não é brilhante se a classe das medicinas complementares continuar assim.
O mundo não pára porque meia dúzia de pessoas decidem manter-se num estado de hibernação intelectual. Alguns acabam em hibernação hospitalar
Reflexões finais
Em saúde devemos levantar a questão: qual a utilidade clinica de determinado exercício?
O Qi Gong pode ter várias vantagens mas nenhuma o diferencia de qualquer outra forma de exercício. Pelo contrário.
As vantagens do Chi Kung podem ser obtidas por outras técnicas e muitos exercícios oferecem benefícios que o qi gong não consegue.
Por outro lado a componente de crença que acompanha o Qi Gong separa-o de todas as outras formas de exercício clínico ou prática desportiva e aproxima-o mais da religião.
Neste caso, as crenças que acompanham o Chi Kung acabam por se tornar contraproducentes e não adequáveis a uma sociedade cientifica e a cuidados de saúde que se querem realistas na intervenção e nos resultados.