Avaliação Crítica dos Pontos a Favor e Contra a Existência de Pontos Gatilho

Este artigo visa realizar uma avaliação crítica da existência de pontos gatilho (PGs), também conhecidos como trigger points, analisando a evidência científica disponível e ponderando os argumentos a favor e contra a sua existência como entidades patológicas distintas. Compreender a validade dos pontos gatilho é crucial para profissionais de saúde que buscam otimizar o tratamento da dor miofascial.

Introdução

A síndrome de dor miofascial (SDM), caracterizada por dor muscular e sensibilidade, é frequentemente atribuída à presença de pontos gatilho. A teoria subjacente postula que estes pontos, localizados nos músculos esqueléticos, são fontes de dor local e referida. Apesar da sua ampla aceitação, a validade científica da teoria dos pontos gatilho tem sido questionada. Este artigo examinará criticamente a evidência disponível, considerando os aspetos clínicos, patológicos e neurofisiológicos relacionados aos PGs.

Pontos a Favor da Existência de Pontos Gatilho

1.Achados Clínicos Consistentes: Muitos profissionais de saúde relatam identificar pontos gatilho com base em critérios clínicos como bandas tensas palpáveis, sensibilidade local e padrões de dor referida. A consistência destes achados na prática clínica sugere a existência de fenómenos físicos subjacentes relacionados.

2.Resposta ao Tratamento: Alguns pacientes relatam alívio da dor após intervenções direcionadas aos PGs, como agulhamento a seco, injeções ou técnicas de libertação miofascial. Esta resposta ao tratamento é frequentemente citada como evidência de que os pontos gatilho desempenham um papel na dor miofascial.

3.Estudos Bioquímicos: Alguns estudos, como os de Shah et al. utilizando microdiálise, encontraram níveis elevados de substâncias como CGRP, substância P e citocinas inflamatórias em áreas consideradas pontos gatilho. Estes achados sugerem alterações bioquímicas locais que podem contribuir para a dor e sensibilidade associadas aos pontos gatilho.

Pontos Contra a Existência de Pontos Gatilho

1.Falta de Consistência Diagnóstica: Uma revisão extensiva identificou pelo menos 19 conjuntos diferentes de critérios diagnósticos para SDM/PGs, revelando uma falta de consenso na definição de caso. A fiabilidade interexaminador na identificação de pontos gatilho tem sido consistentemente baixa, mesmo entre especialistas. Esta inconsistência questiona a validade dos critérios clínicos utilizados para diagnosticar PGs.

2.Evidência Patológica Limitada: Apesar das tentativas, não foram encontradas alterações histopatológicas consistentes nos músculos considerados conter PGs. Estudos iniciais que relataram alterações inflamatórias não foram confirmados, e a relevância clínica de achados como o aumento de fluido extracelular ou alterações na estrutura muscular em cadáveres permanece incerta.

3.Interpretações Alternativas de Achados Bioquímicos: Embora alguns estudos tenham encontrado níveis elevados de substâncias inflamatórias em áreas de PGs, esses achados também podem ser consistentes com inflamação devido a dano tecidual ou alteração da função nervosa periférica, em vez de uma patologia inerente ao tecido muscular. Além disso, níveis elevados foram encontrados também em áreas de controlo, o que questiona a especificidade dos pontos gatilho.

4.Questionamento da Validade dos Modelos Animais: Modelos animais utilizados para estudar pontos gatilho, como os que envolvem a palpação de músculos de coelhos até provocarem um reflexo miotático, são questionáveis quanto à sua relevância clínica. A indução artificial de sensibilidade muscular não replica necessariamente as condições complexas da dor miofascial em humanos.

5.Explicações Neurofisiológicas Alternativas: A sensibilidade muscular e a dor referida podem ser explicadas por mecanismos neurofisiológicos conhecidos, como sensibilização central, disfunção do sistema nervoso autónomo ou alterações na modulação da dor. Estas explicações alternativas não requerem a existência de entidades patológicas distintas como os PGs.

Implicações Clínicas e Investigação Futura

Apesar das controvérsias em torno da existência dos pontos gatilho, a dor miofascial é uma condição clínica real que causa sofrimento significativo. É crucial que os profissionais de saúde adotem uma abordagem baseada em evidências para o diagnóstico e tratamento da dor miofascial.

A investigação futura deve concentrar-se em:

* Desenvolver critérios diagnósticos mais objetivos e fiáveis para dor miofascial e pontos gatilho.

* Investigar os mecanismos neurofisiológicos subjacentes à dor miofascial e à formação de PGs.

* Avaliar a eficácia de diferentes abordagens de tratamento direcionadas aos pontos gatilho através de ensaios clínicos rigorosos.

Conclusão

A evidência científica para a existência de pontos gatilho como entidades patológicas distintas é fraca. Embora os achados clínicos e a resposta ao tratamento sugiram que os pontos gatilho podem desempenhar um papel na dor miofascial, a falta de consistência diagnóstica e evidência patológica, juntamente com explicações neurofisiológicas alternativas, levantam sérias dúvidas sobre a validade da teoria dos pontos gatilho.

É importante reconhecer que a dor miofascial é uma condição complexa que requer uma abordagem holística e baseada em evidências. Os profissionais de saúde devem considerar uma variedade de fatores, incluindo aspetos biomecânicos, psicológicos e sociais, ao diagnosticar e tratar a dor miofascial.

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Aviso: Este artigo fornece uma visão geral crítica da evidência científica sobre PGs e não deve ser interpretado como aconselhamento médico. Consulte sempre um profissional de saúde qualificado para diagnóstico e tratamento.

Fontes
[1] Quintner, J.L., Bove, G.M., & Cohen, M.L. (2015). A critical evaluation of the trigger point phenomenon. Rheumatology, 54(3), 392-399.
[2] Shah JP, Heimur J. New frontiers in the pathophysiology of myofascial pain. The Pain Practitioner. 2012;22(2):26-29.
[3] Unverzagt C, Berglund K, Thomas JJ. Dry needling for myofascial trigger point pain: a clinical commentary. Int J Sports Phys Ther. 2015 Jun;10(3):402-18.
[4] Quintner, J.L., Bove, G.M. & Cohen, M.L., Comment on: A critical evaluation of the trigger point phenomenon: reply. Rheumatology, 2015;54:1127 1128

Artigo escrito com apoio de IA.