Acupuntura no Acidente Vascular Cerebral (AVC)
TABELA DE CONTEÚDOS
A acupuntura no AVC consiste na inserção de agulhas filiformes em determinadas áreas do corpo de forma a estimular músculos, nervos e outros tecidos.
Esta abordagem deve ser encarada numa lógica de apoio à reabilitação, pois é a contração ativa dos músculos que faz com que o paciente consiga recuperar eficazmente.
Os tratamentos de acupunctura não devem ser pensados fora dos objetivos propostos pela reabilitação.
Meta-análises e estudos sobre acupuntura no Acidente Vascular Cerebral
Existem meta-análises que afirmam que a acupunctura tradicional chinesa ainda não apresentou resultados diferenciadores na recuperação de AVC chamando a atenção para a fraqueza metodológica dos estudos (Park 2001; Wu 2009; Kong 2010).
Outros estudos com follow up prolongado indicam a existência de efeitos benéficos nos tratamentos com acupuntura (Kjendhal, 2014).
Nenhum estudo (que tenhamos conhecimento) analisou a eficácia da acupuntura contemporânea com abordagens pensadas em sistema nervoso ou miologia funcional no tratamento do AVC.
Um estudo analisou o efeito de acupunctura elétrica e concluiu que o tratamento mais benéfico seria uma associação de acupuntura elétrica (a sensação de chegada de qi não foi considerada relevante) como programas de reabilitação específicos (Wong 19999).
Outros estudos também defendem a acupuntura elétrica transcutânea (Yan 2009) e outros não encontram benefícios na aplicação da acupuntura no AVC (Johansson 2001).
Outros estudos parecem sugerir que esta terapia apresenta efeitos benéficos. Um estudo demonstrou que a acupunctura poderia ter um efeito benéfico na reorganização do cérebro após AVC (Lee 2003).
No entanto, está bem definido os problemas com os controlos que usam acupuntura “sham”, pois esta não é fisiologicamente inerte.
Benefícios da acupuntura no AVC
São 2 os grandes benefícios que os pacientes podem obter com o uso de técnicas invasivas no tratamento de sequelas de AVC:
Tratamento da dor
Tem resultados excelentes no alivio da dor o que vai ajudar pacientes com AVC a recuperar mais facilmente, pois a ausência de dor vai permitir responder melhor aos exercícios de reabilitação.
Recuperação neuro-muscular
Com e sem estímulo elétrico deve ser usada no tratamento de espasticidade muscular e atrofia muscular, decorrentes do AVC.
Existem técnicas especificas para se obterem os melhores resultados consoante exista espasticidade ou atrofia muscular.
A acupuntura vai ser capaz de fazer o músculo responder ao estímulo ativo mesmo em pacientes cuja resposta inicial aos tratamentos de reabilitação não é positiva.
DNHS© e a adoção da acupuntura pelos fisioterapeutas
DNHS© significa Dry Needling for Hypertonia and Spasticity. Ou seja é punção seca para hipertrofia e espasticidade.
Esta técnica de acupuntura no tratamento do acidente vascular cerebral não foge à regra.
De qualquer forma o uso de técnicas invasivas com ou sem estímulo elétrico tem sido amplamente adotado pelos fisioterapeutas nos tratamentos de reabilitação e pacientes com AVC.
Esta adoção acontece porque esses profissionais claramente vêem vantagens destas técnicas no tratamento da dor e reabilitação neuro-muscular.
No video abaixo é possível ver-se um fisioterapeuta aplicar acupuntura ou punção seca para tratar hipertrofia e espasticidade muscular num paciente com Acidente Vascular Cerebral.
Médicos em Alcoitão usam acupuntura na reabilitação de pacientes com AVC desde pelo menos 2015
O Centro, que pertence à Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, diz-se pioneiro ao associar a acupuntura ao plano de reabilitação dos utentes com problemas musculares ou esqueléticos, tendo feito tratamentos já em 50 doentes, com “excelentes resultados”.
Carmo Cary, médica fisiatra em Alcoitão (Cascais), explica que a acupuntura não serve, em si só, para reabilitar doentes, mas sim para tratar a dor.
A maioria dos utentes submetidos a acupuntura no Centro tem dor no ombro em resultado de um AVC (acidente vascular cerebral), mas há também casos de outras patologias.
É o caso de Isabel Barros, doente com esclerose múltipla, que começou a fazer acupuntura há cerca de um ano, devido a dores fortes na sequência de uma queda motivada pela doença.
Depois de ter estado internada em Alcoitão, referenciada pelo Hospital Amadora-Sintra, Isabel passou por processos de fisioterapia e reabilitação e iniciou a acupuntura.
“Há um alívio muito grande. A dor passa. Tentei uma grande quantidade de comprimidos e uma consulta da dor num hospital. Apesar disso, nada me resolveu. Só a acupuntura”.
Garante que não sente dor na aplicação das agulhas e que o tratamento é até relaxante.
Atualmente, há em Alcoitão três médicos com uma pós-graduação em acupuntura preparados para fazer este tratamento complementar.
Numa fase inicial, só os doentes internados eram encaminhados para esta intervenção terapêutica, que depois começou a ser aberta aos casos em ambulatório.
Contudo, só no próximo ano é que os profissionais de Alcoitão terão espaço definido nas suas agendas para as consultas de acupuntura.
“É adequado a muitas patologias e resolve muitas situações com o mínimo, ou zero, efeitos secundários. Se em vez de as pessoas se encharcarem de analgésicos ou outra medicação, que tem efeitos secundários, conseguirmos resolver com sessões de acupuntura, é ótimo “, comenta à agência Lusa a médica Carmo Cary.
A fisiatra considera ainda que há vantagens em ser um médico a executar esta técnica:
“acho que a mais-valia de ser um médico a fazer este tipo de tratamento é que conhece exatamente a anatomia. Isso evita alguns acidentes que podem acontecer quando a acupuntura é feita por técnicos não tao profissionais”.
Da meia centena de doentes que já fez acupuntura em Alcoitão, mais de metade referiu melhorias ao nível da dor e, nalguns casos, essa diminuição fez que voltassem a conseguir realizar alguns movimentos.
Foi o caso de Lisete Redondo, que iniciou um programa de acupuntura por fortes dores nos ombros que começaram há mais de uma década.
Chegou a fazer séries de fisioterapia, mas sem resultados. Depois de experimentar a acupuntura diz que “nada tem paralelo” a esta técnica.
“Estou muito melhor. Nem tenho palavras. É como a noite do dia. Ainda não estou a 100 por cento, mas estou a 90 por cento”, afirma, contando que voltou a conseguir fazer movimentos que antes lhe eram impossíveis de realizar por causa da dor.
Lisete Redondo, que quase todas as semanas vai a Alcoitão, faz os tratamentos ao abrigo da ADSE, que tem acordo com o Centro, tal como acontece com outros subsistemas, já que não há atualmente um acordo direto com o Serviço Nacional de Saúde, apesar de os utentes poderem ser referenciados por outro hospital ou médico de família.
Técnicas de acupuntura no AVC
Existem diferentes técnicas de acupuntura para AVC.
Essas técnicas variam consoante os sintomas do paciente (alterações sensitivas, alterações motoras, etc…), tipo de AVC (cortical ou medular), a sua história clinica, os objetivos desejados e a experiência do acupuntor.
Neste artigo vamos abordar 4 técnicas de acupuntura para AVC que são muito eficazes na recuperação de pacientes com AVC.
Acupuntura elétrica
A acupuntura elétrica apresenta um sucesso interessante a recuperar pacientes com AVC.
É uma técnica que exige grande conhecimento sobre o tipo de estímulos elétricos a usar e o tipo de tecido que desejamos puncionar.
O profissional deve ser capaz de integrar estes conhecimentos com conhecimentos avançados de eletroterapia de forma a adaptar o tratamento ao paciente o melhor possível.
Esta técnica pode ser usada em pacientes com atrofia muscular, espasticidade muscular e é muito comum em AVC corticais.
Técnicas para espasticidade muscular
Existem técnicas especiais com agulha isolada para facilitar a recuperação de pacientes que apresentem quadros de espasticidade muscular.
Técnicas para atrofia muscular
Técnicas de manipulação de agulha para atrofia muscular também podem ser usadas para espasticidade muscular apesar do contrário não ser tão frequente.
Neste caso distingue-se as técnicas de manipulação de agulha para atrofia muscular pois são mais usadas neste tipo de sintomas.
De notar que as técnicas de atrofia muscular exigem mais manipulação de agulha que as técnicas de espasticidade e podem usar-se isoladamente ou em combinação com acupuntura elétrica.
Crâniopuntura
Pode usar-se em combinação ou isoladamente.
Consiste na inserção de agulhas no craneo sendo muito comum no tratamento com pacientes com AVC.
Combinação de técnicas de acupuntura para AVC
Muitas vezes o segredo do tratamento e um paciente com AVC depende da capacidade do acupuntor em integrar diferentes técnicas de acupuntura para AVC e diferentes paradigmas de raciocínio clínico.
Por exemplo, um paciente que apresente espasticidade muscular nos flexores do braço pode ser tratado com uma combinação de técnicas especificas para tratar espasticidade muscular nos flexores com técnicas combinadas para atrofia dos extensores em associação com estímulo elétrico.
Estas técnicas podem ser alternadas com crâneopuntura ou isoladas desta, sendo essa variação definida por fatores externos ao paciente e ao terapeuta tais como:
1 – disponibilidade financeira;
2 – tempo de consultas;
3 – integração com tratamentos de fisioterapia, etc…
Dúvidas comuns dos nossos pacientes
É possível Tratar AVC com acupuntura e recuperar os pacientes a 100%?
A recuperação do paciente está muito dependente de vários fatores como idade, extensão da lesão cerebral, envolvimento do paciente nos tratamentos, tratamentos iniciados atempadamente, etc…
Ou seja não depende unicamente da acupuntura.
Muitos pacientes não vão conseguir recuperar a 100%.
Pode-se tratar AVC só com acupuntura?
O que vai recuperar o paciente com AVC é a reabilitação pois é a contração ativa do músculo que faz com que o paciente recupere a sua função.
A acupuntura vai estimular o músculo e o nervo de forma a que o paciente consiga responder mais rapidamente aos estímulos de reabilitação.
A acupuntura deve ser pensada de acordo com os objetivos propostos na reabilitação.
Atualmente existem fisioterapeutas, enfermeiros e osteopatas que aprendem técnicas de reabilitação no Acidente Vascular Cerebral.
Quantas consultas são necessárias?
É muito dificil dizer. No entanto a maioria dos pacientes necessita de tempos de tratamento prolongados pois quando vem às consultas de acupuntura já se encontram em estados crónicos.
Quanto mais crónico e quanto mais grave mais consultas precisará.
Quantas consultas semanais?
Uma a duas consultas semanais. Nos casos mais recentes de AVC leve a moderado, na maioria das vezes uma vez por semana é suficiente.
Em casos crónicos e severos por vezes é necessário duas vezes por semana.
O tratamento é sempre igual?
Os tratamentos variam consoante a evolução dos sintomas do paciente. Na medida em que alguns sintomas desaparecem e outros podem surgir o terapeuta deve adaptar o seu tratamento.
O tratamento é sempre definido atendendo a uma análise de biomecânica, estudo de biologia funcional e sistema nervoso do paciente.
Quando devo começar os tratamentos?
Após um Acidente Vascular Cerebral os tratamentos de reabilitação devem começar imediatamente.
Se conseguir associar tratamentos de técnicas invasivas com a reabilitação para o acidente vascular cerebral ainda melhor.
Fazer acupuntura na orelha ou nos dedos na fase aguda do acidente vascular cerebral ajuda a salvar vidas?
Isto é um mito que já se fala desde pelo menos 2009.
A acupuntura pode ser usada na fase de reabilitação como complemento mas não é usada, nem tem qualquer benefício na fase aguda.
se suspeitar que está a sofrer um AVC deve imediatamente procurar as urgências hospitalares.
Conclusão sobre uso da acupuntura no Acidente Vascular Cerebral
Existem alguns pontos relevantes no uso de acupuntura no AVC que é importante o leitor reter.
Em primeiro lugar, as técnicas invasivas devem ser sempre complementares à reabilitação ou fisiologia de exercício pois é o exercício o tratamento de primeira linha, para o acidente vascular cerebral.
Em segundo lugar a acupuntura parece conseguir ajudar a aliviar a dor e a diminuir a espasticidade muscular melhorando a resposta do paciente aos tratamentos ativos.
O sucesso desta técnica, apesar dos problemas existentes na investigação, fizeram que fosse adotado tanto por médicos como por fisioterapeutas na reabilitação de pacientes com acidente vascular cerebral.