Acupuntura sem fronteiras: nós e eles

Todos desejam a acupuntura e ninguêm a quer partilhar.

Mas também ninguêm consegue impedir os outros de fazerem.

Sendo os outros todos aqueles que não enquadramos como nossos.

acupuntura é placebo

Médicos, acupuntores e fisioterapeutas

Os médicos fazem acupuntura e chamam-lhe acupuntura médica.

Certamente só os médicos podem exercer e vedam os seus cursos a outros profissionais ao mesmo tempo que tentam tirar o conhecimento possível aos outros profissionais.

Os fisioterapeutas fazem acupuntura e chamam-lhe fisioterapia invasiva.

Ademais só os fisioterapeutas a podem fazer… e os médicos obviamente.

Mas mais ninguêm numa ação que se assemelha a resquícios culturais da falta histórica de autonomia profissional.

Os acupuntores fazem acupuntura, chamam-lhe acupuntura e ameaçam processar/perseguir qualquer profissional de saúde não acupuntor que tenha a ousadia de aplicar esta terapia.

E choram no facebook como ninguêm.

Tem como desporto favorito ameaçar e denegrir nas redes sociais qualquer acupuntor que ensine acupuntura a outros profissionais de saúde.

E ninguêm está apto para fazer acupuntura.

Para os acupuntores tanto os médicos como fisioterapeutas não tem formação suficiente em acupuntura.

Para os fisioterapeutas os acupuntores não tem formação cientifica.

Para os médicos mais ninguêm devia fazer acupuntura porque é necessário diagnóstico médico, etc…

Acupuntura sem fronteiras: falta de visão

Os médicos, fisioterapeutas e acupuntores falham numa coisa. Tem falta de visão.

Tentam pegar numa terapia e a todo o custo garantir que ninguêm a consegue usar.

No entanto o presente não permite que isto se faça e o futuro muito menos.

No futuro devemos pensar cada vez menos em profissões e em interesses de classes profissionais e mais em competências. 

mitos da acupuntura

Entre interesses profissionais e aquisição de competências

Na maioria das vezes que os médicos aconselham os pacientes a fazerem acupuntura (algo cada vez mais comum) estão a pensar em competências (acupuntura) e não em profissões.

Ou seja, não interessa com quem faz acupuntura desde que faça acupuntura.

As pessoas vão procurar acupuntura. Não vão procurar um acupuntor, fisioterapeuta ou médico.

Não existe nenhuma lei que garanta que só os médicos, fisioterapeutas ou acupuntores consigam usar esta terapia e muito menos existe vontade política de perseguir pequenas empresas de formação.

Nacionalismo profissional

Ao contrário do que muitos acupuntores acreditam, a lei dá-lhes direito a fazerem acupuntura e a usar o título de acupuntores mas não impede outros profissionais de saúde de aprenderem acupuntura ou de lhe darem outros nomes (como os fisioterapeutas fazem de forma bastante aberta).

Fomos moldados a pensar em classes profissionais e não em competências técnicas mas tal como os contratos efetivos são coisa do passado também o são as profissões.

Vai ser cada vez mais difícil aos profissionais terem leis a defender o seu território (veja-se o à vontade com que os enfermeiros entraram na reabilitação que tradicionalmente era função dos fisioterapeutas).

Especialmente com técnicas novas.

Por exemplo, os médicos falharam na instituição do ato médico; não conseguiram impedir outros profissionais de saúde de fazerem mesoterapia e, neste momento, estão a perder o domínio da imagiologia médica.

Qualquer profissional de saúde consegue fazer cursos de ecografia músculo-esquelética e o avanço tecnológico vai fazer com que qualquer pessoa, daqui a uns anos, consiga fazer alguns exames imagiológicos a partir do seu telemóvel.

Nessa altura profissões como os médicos de família estarão acabadas.

A última coisa que deveríamos estar a pensar, enquanto classe profissional, é como ajudar os nossos colegas a entrarem num mundo sem profissões.

Quantos terapeutas hoje em dia não misturam técnicas de fisioterapia, acupuntura e osteopatia nos seus tratamentos?

Quantos osteopatas não tem tratamentos integrados com técnicas de fisiologia do exercício?

Quantos fisioterapeutas prescrevem suplementos e dão conselhos alimentares para atletas?

pilares da acupuntura

Acupuntura sem fronteiras: adeus acupuntores

Os perigos da acupuntura sem fronteira

Muitos acupuntores queixam-se da falta de trabalho e da forma como outros profissionais usurpam as suas funções.

Os problemas de trabalho não tem a ver só com esses profissionais mas sim com vários fatores intrínsecos à profissão:

1 – Tem a ver com a falta de preparação técnica e cientifica dos acupuntores (incapacidade de fazer diagnósticos corretos e adaptados às necessidades dos doentes, dificuldade em saber fazer triagem de doentes e definir limites de ação, uso pobre de ferramentas terapêuticas, etc…),

2 – Com a falta de competências transversais (gestão, marketing, integração tratamentos)

3 – E com o excesso de profissionais liberais.

O excesso de acupuntores, especialmente com fraca formação, afeta a qualidade do atendimento e aumenta a oferta face à procura.

Os fisioterapeutas e enfermeiros tem o mesmo problema com o excesso de profissionais (aumento de oferta face à procura).

O facto de terem profissões legal, cultural e historicamente bem implementadas facilita a sua migração para outros países (sim as profissões ainda tem valor, mas vão perder parte dele no futuro).

Competências clinicas transversais

A falta de competências clinicas transversais faz com que apresentem uma oferta terapêutica mais limitada e menos sucesso clínico.

A capacidade de integrar tratamentos é relevante para se obter maior eficácia clinica e implica um aumento de competências clinicas transversais.

Uma comparação interessante seria entre os cursos de acupuntura estética e os cursos de fisioterapia dermato-funcional.

Este último tem um maior leque de competências clinicas  transversais.

Outra seria comparar a diversidade de cursos e destinatários presentes nas empresas de formação para fisioterapeutas e nas empresas de formação para acupuntores/especialistas de medicina chinesa.

As empresas de formação para fisioterapeutas apresentam maior diversidade de cursos, mais inovações e são direcionados para um maior leque de profissionais de saúde.

Em poucas palavras: oferecem competências  clinicas transversais.

terapeutas tratamentos de acupuntura

Globalização do conhecimento

Os acupuntores olham para o ensino não oficial como o Trump olha para a economia:

1 – focam-se no medo em vez da esperança,

2 – procuram leis que impeçam a evolução do mercado,

3 – tentam defender os interesses através de regalias legais em vez aumentarem a sua competitividade

4 – mostram uma falta de visão que irá colocar o futuro de muitos em risco.

Competências transversais gerais

A falta de competências transversais gerais tira capacidade de olhar para sua prática com o olhar de um gestor de empresas ou de um especialista de marketing.

Este problemas afeta profissionais de saúde de diferentes backgrounds.

Certamente é um problema relacionado com o desfasamento entre o ensino superior e as necessidades reais do mercado de trabalho.

De forma curta podemos afirmar que existe uma mistura de fatores que afetam o futuro dos acupuntores.

Outros profissionais a fazerem acupuntura é o mínimo dos seus problemas.

Vantagens da acupuntura sem fronteira

Os acupuntores deveriam focar-se nos aspetos positivos pois mais profissionais de saúde a fazerem acupuntura significa maior prestígio para a arte e mais profissionais a aconselharem os seus pacientes a fazerem acupuntura.

Profissionais com diferentes backgrounds podem dar novas luzes de investigação e na elaboração de novas intervenções que podem ser clinicamente mais vantajosos.

Veja-se o desenvolvimento que se tem observado na chamada “acupuntura médica” e “fisioterapia invasiva”.

A evolução do mercado no sentido de garantir acupuntura sem fronteiras para todos os profissionais também esbate as fronteiras de outras profissões que os acupuntores deveriam usar para dinamizar a sua clinica diversificando a oferta terapêutica e potencializando a qualidade de atendimento.

Ou seja, os acupuntores deveriam

1 – esquecer as empresas de formações da classe com os seus cursos pouco diversificados e, muitas vezes clinicamente irrelevantes,

2 – deixar de dar ouvidos a politicos falhados das redes sociais que pretendem iniciar uma caça às bruxas no seio da acupuntura

3 –  focar-se em formações que lhes garantam competências transversais e capacidade de competitividade com outros profissionais de saúde no mercado privado.

O diálogo construtivo e cientificamente válido com outros profissionais de saúde é o garante futuro de reconhecimento profissional.

Muitos acupuntores perderam 10 anos a defender e justificar licenciaturas academicamente pobres e clinicamente irrelevantes. Muitos ficaram pelo caminho.

Os poucos que sobraram dessa altura vão passar os próximos anos em ameaças e promessas de luta contra quem quer que faça acupuntura. Muitos vão ficar pelo caminho.

imagem de fundo departamentos

Diluição de fronteiras na saúde

O problema da acupuntura sem fronteiras está relacionado com a aquisição das mesmas competências técnicas por profissionais de saúde diferenciados.

Isto gera um conflito entre as competências técnicas e a definição de identidade profissional.

As ideias que defendo partem do pressuposto que futuramente as classes profissionais de saúde vão ser cada vez menos relevantes e ter menor capacidade de defender os seus interesses face às necessidades do mercado e de desenvolvimento profissional do próprio profissional.

Mas surge a questão:

quais são os fatores que possibilitam este choque entre aquisição de competências e delimitação de funções da classe profissional?

Fatores socio-históricos na diluição de fronteiras na saúde

Novas competências sem classe profissional claramente definida

Tanto a acupuntura como a osteopatia são bastante recentes enquanto técnicas terapêuticas, aceites no ocidente, com autonomia na prática face à classe médica dominante.

Fica difícil a uma classe profissional fraca e mal formada defender a sua prática do interesse de uma série de classes profissionais mais desenvolvidas culturalmente e estabelecidas historicamente.

Por isso os acupuntores não conseguem impedir a acupuntura médica ou a fisioterapia invasiva.

Por outro lado, novas técnicas terapêuticas que surgem da integração de várias áreas acabam por não se definir profissionalmente.

Dentre os vários exemplos destacam-se:

1 – Técnicas de reabilitação que tanto são usadas por osteopatas, fisioterapeutas ou enfermeiros;

2 – Técnicas de diagnóstico e tratamento postural que são acessíveis a osteopatas, fisioterapeutas, terapeutas ocupacionais, fisiologistas do exercício, etc…

Evolução dos cuidados de saúde

Os cuidados de saúde irão evoluir cada vez mais para métodos naturais e menos artificias, logo menos definidos por classes profissionais.

Qualquer profissional de saúde pode prescrever suplementos, aconselhar exercícios físicos, de reabilitação ou manutenção, aplicar técnicas manuais (que serão cada vez mais importantes), etc…

Menos medicamentos e mais suplementos, menos cirurgias e mais RPG, acupuntura e osteopatia será o slogan do futuro. Sem dúvida que esta evolução afetará áreas desde a cirurgia à medicina estética.

Acredito que esta evolução será acompanhada de mudanças radicais na forma como olhamos a nossa saúde, a nível individual e coletivo, pois a saúde deixará de ser um direito mas um dever.

No entanto deixarei estes pensamentos para outro artigo.

Evolução da tecnologia

Implica a passagem de competências técnicas altamente especializadas para as competências gerais de qualquer pessoa.

Até há pouco tempo era impensável pequenas empresas gastarem largas dezenas de milhares de euros para comprar aparelhos de imagiologia médica.

No entanto a evolução da tecnologia com a diminuição do seu preço torna esta tecnologia mais acessível facilitando a sua adopção por vários profissionais de saúde.

E quanto mais barata e aprimorada estiver esta tecnologia mais profissionais a vão usar. Como exemplo veja-se o crescimento da acupuntura ecoguiada pelos fisioterapeutas.

Quando os melhores ecógrafos forem vendidos a preços de poucos milhares ou centenas de euros qualquer um irá desenvolver a sua prática com os mesmos.

Isto afeta e irá afetar profissões desde médicos de família a podólogos sem esquecer nutricionistas (cursos baratos online e presenciais, tecnologia acessível fazem com que muitos licenciados percam trabalho para outros profissionais de saúde com especialidades ou formações mais compactas).

tratamento manual de osteopatia

Formação fora da escola normal

O desenvolvimento de empresas de formação fora do ensino normal vai marcar uma revolução cada vez maior no panorama das competências sendo que a prioridade destas empresas é o lucro.

Pressões económicas

Imagine um curso de acupuntura para fisioterapeutas sem alunos suficientes. Entretanto 2 enfermeiros tentam inscrever-se no curso e a sua inscrição é necessária para o curso ir em frente.

Acha que a acupuntura vai ficar só na mão dos fisioterapeutas?

Os fisioterapeutas tentaram vender a EPI como técnica de fisioterapia, mas rapidamente surgio a sua concorrente EPTE que em alguns casos garante cursos para fisioterapeutas e podólogos.

Se o mercado exigir que essas técnicas sejam ensinadas a outros profissionais as empresas vão seguir o mercado.

Por outro lado, estas instituições e os seus formadores vão tentar vender os seus produtos como revolucionários e inovadores de forma acaptar o maior número de alunos.

EPI, EPTE, DNHS, POLD e Osteoetiopatia são exemplos que saltam á vista.

E todas estas “novas técnicas” implicam a invasão ou associação de outras áreas, sendo a acupuntura e osteopatia as mais comuns.

Fronteiras nacionais e profissionais

O problema da inexistência de fronteiras nacionais no que concerne ao ensino também promove maior fluxo de competências entre profissões.

A fisioterapia invasiva foi importada de Espanha e não há nada que os acupuntores portugueses possam fazer em relação a isso.

Os fisioterapeutas portugueses podem achar que o método de busquets é só para fisioterapeutas mas qualquer osteopata português pode ir a França aprender diretamente com o criador da técnica e os fisioterapeutas portugueses não podem fazer nada em relação a isso.

Ou seja, o facto de existirem inúmeros profissionais liberais que podem fazer formação complementar em diversas instituições movidas pelo lucro e marketing e em países com divisões laborais distintas faz com que as técnicas de uma dada profissão sejam ensinadas a profissionais que tradicionalmente não as usam.

Trabalhadores liberais movidos pelos resultados

Melhoria de vida económica e excesso de profissionais vai aumentar o número de trabalhadores liberais que tem de se mover com base nos melhores resultados possíveis.

Ninguêm vai para o privado gastar centenas de euros em 60 sessões de fisioterapia ineficazes.

Um fisioterapeuta no privado tem de usar outras ferramentas que aumentem a sua eficácia clinica. A acupuntura e osteopatia estão no topo da lista.

A podologia, a posturologia e revoluções práticas (integração de tecnologia diversas para potencializar os resultados) vão aumentar ainda mais a falta de definição de fronteiras na saúde.

osteopatia acupuntura em lisboa

Técnicas partilhadas e impossibilidade de definir fronteiras fiscalizáveis

Como distinguir muitas técnicas de osteopatia e de fisioterapeia no dia a dia?

Se se pode dar um nome diferente à acupuntura, colocar técnicas velhas com nomes novos e linguagem mais pomposa e misturar-se técnicas ao ponto de não se conseguir distinguir uma profissão da outra então como se pode esperar que as profissões se mantenham?

Vai existir um cada vez maior abatimento da noção de divisões laborais.

Vender, produzir, vender

A necessidade de vender e produzir seja conhecimento ou tecnologia faz com que seja cada vez mais difícil a uma área segurar uma determinada técnica.

A EPI pode ser vendida só para fisioterapeutas mas quem é que nos impede de estudar os artigos cientificos disponíveis na net e de adquirir a máquina que os vendedores terão todo o gosto em vender?

Ou de compreender os pontos fortes e fracos da técnica e tentar obter os mesmos resultados mas com tecnologia mais barata?

Quem conseguiu impedir os médicos acupuntores de lerem os livros de Medicina Tradicional Chinesa disponíveis nas livrarias?

Quem consegue impedir qualquer outra profissão de saúde de fazer o mesmo?

O método Pold é vendido como técnica de fisioterapia mas quem é que nos impede de comprar o livro escrito pelo criador da técnica? A sua tese de doutoramento, por exemplo, está disponível gratuitamente na net.

E quem é que nos impede de comprar o livro de Harmónicas do Lederman e comparar as técnicas?

Vender livros, produzir teses e artigos, vender livros e tecnologia.

A necessidade de produzir trabalho e conhecimento e depois vende-lo é o motor do mercado dos profissionais de saúde e não há barreiras profissionais que se consigam sobrepor a isso.

Exemplos da clinica diária num mundo onde há acupuntura sem fronteiras profissionais

Um fisioterapeuta recebe um paciente com tendinite. Faz Eletrólise Percutânea (acupuntura elétrica), ou neuromodelação periférica (acupuntura) e aplica técnicas de treino excêntrico e reencaminha o paciente para outro colega para exercícios de reabilitação.

Outro doente com o mesmo problema vai tratar-se com um acupuntor que lhe faz acupuntura elétrica (eletrólise percutânea), depois aplica técnicas de treino excêntrico e de seguida reencaminha para um fisiologista de exercício para reabilitação.

Obviamente que podem existir pequenas diferenças na aplicação de cada técnica que tem impacto profundo na recuperação do paciente, assim como o terapeuta. Não quero entrar nesse ponto.

Desejo chamar a atenção para um simples facto. Apesar de background diferentes (fisioterapia e acupuntura) os terapeutas estão a fazer a mesma coisa.

Na prática qual a diferença em termos de divisão laboral?

Onde se encontram as fronteiras na saúde?

Qual a probabilidade desses terapeutas darem formações um ao outro ou encontrarem-se nas mesmas formações, apesar do seu background diferente?

Começaram como profissionais com funções diferenciadas mas tiveram de adquirir competências transversais e adaptar-se de forma a ter uma prática clinica rentável e satisfatória.

As competências adquiridas indiferenciaram a sua identidade profissional na mesma medida que definiram as suas competências clinicas.

tratar com medicina chinesa

Ausência de fronteiras não é um fenómeno exclusivo à acupuntura

O problema não é só acupuntura sem fronteiras pois quando uma classe abre as portas para aquisição de novas competências está também a permitir que as suas competências próprias sejam adquiridas.

Por outro lado o que define a classe profissional e as competências da mesma são um conjunto de fatores sociais. Na ausência desses fatores delimitadores é normal observar-se o tipo de invasão de competências que temos vindo a observar.

O que se aplica à acupuntura aplica-se a outras áreas. Neste momento é possível aprender técnicas de osteopatia como técnicas harmónicas ou músculo-energéticas sem se ser osteopata.

E quantas pessoas acreditam que é crucial ter uma cédula profissional de fitoterapia para prescrever suplementos alimentares?

Onde se vai fazer a fronteira entre a nutrição, a fitoterapia e a naturopatia?

Como na prática se vão conseguir distinguir estes profissionais?

O que impede um naturopata de fazer um curso online de nutrição funcional?

O que impede um nutricionista de comprar um livro de naturopatia?

Os fisiologistas do exercício vão ter cada vez maior importância porque os seus conhecimentos implicam competências extremamente importantes na reabilitação de pacientes.

Os fisioterapeutas vão querer esses conhecimentos e os osteopatas vão atrás.

O que significa que os fisiologistas vão ver a sua área invadida mas ao mesmo tempo vão ver portas a abrirem-se para a aquisição de novas competências.

Sem dúvida que cursos partilhados entre fisioterapeutas e fisiologistas de exercício são cada vez mais comuns.

Muitas pessoas ficam ofendidas se eu defender que a acupuntura não deve ser só para os acupuntores pois, para elas, a acupuntura sem fronteiras é um anátema.

Também defendo que a osteopatia não será só para os osteopatas nem a medicina para os médicos.

A acupuntura para acupuntores ou fisioterapia para fisioterapeutas não é uma questão de gosto mas sim de compreender como o presente está a moldar o futuro e como nos podemos adaptar da melhor forma.

Os médicos não conseguiram impedir a universalização da técnica da mesoterapia mas conseguiram impedir a administração de medicamentos.

Quanto tempo falta até outros profissionais conseguirem administrar medicamentos vendidos sem receita médica?

Atualmente já se fala em mesoterapia profunda e novas técnicas como hidrotomia percutânea falam na administração de medicamentos.

Estes fatores sociais e históricos levantam problemas:

tem lógica um futuro anárquico onde não se consegue distinguir o fisioterapeuta do acupuntor ou um nutricionista de um fisiologista de exercício?

Pensamentos finais sobre acupuntura sem fronteiras

Recentemente tratei uma aluna de medicina que me referiu ter sabido num estágio que fez, que todos os médicos anestesiologistas do Hospital de Santa Maria fazem acupunctura.

Entretanto estou a tratar outra doente que me pede um relatório para entregar ao seu médico que por acaso foi responsável pela introdução da acupuntura no Hospital público onde trabalha.

Ou seja, existem cada vez mais médicos a fazerem acupuntura e eu tenho cada vez mais doentes, sendo alguns deles alunos de medicina e outros médicos jubilados.

Os médicos não acupuntores que se vieram tratar comigo não o fizeram porque sou médico ou porque sou acupuntor mas sim porque faço acupuntura.

Os meus doentes não olharam para a profissão (caso o fizessem teriam ido tratar-se com médicos) mas sim para a competência técnica.

Simultaneamente os fisioterapeutas aprendem acupuntura e depois chamam-lhe fisioterapia invasiva pois seria difícil para eles definir uma identidade profissional com técnicas que definem outras profissões.

Os médicos acupuntores também só aconselham médicos acupuntores pois supostamente existem uma série de razões que os tornam mais adequados.

Existe, por estes profissionais, a necessidade de ganhar novas competências que aumentem a sua capacidade clinica mas ao mesmo tempo uma luta para não perderem a sua identidade profissional.

A acupuntura sem fronteiras tem esta capacidade única de criar crises de identidade e conflitos.