Mãos e Dedos dormentes

Dedos dormentes é um sintoma incómodo para muitos pacientes. Podem ter muitas causas associadas a traumas ou a doenças degenerativas.

A apresentação do sintoma também varia muito: pode afetar todos os dedos ou só 1 ou 2; pode manifestar-se somente em alguma atividade, em alguns casos agrava mais de noite quando o paciente está a dormir.

Consoante a intensidade dos sintomas, idade do paciente ou causa dos sintomas existem inúmeros disponibilizados pela medicina convencional e pelas terapias não convencionais.

Nervos da mão

Alterações de sensibilidade nas mãos como dedos dormentes estão associados a problemas dos nervos locais.

Existem 3 nervos principais nas mãos:

Nervo cubital

Responsável pela enervação do dedo mindinho e face lateral do dedo anelar.

Nervo mediano

Responsável pela enervação da face posterior da ponta dos dedos anelar (face medial), médio e indicador. Também enerva a face anterior da mão.

Nervo radial

Responsável pela enervação de parte da face anterior da mão e do polegar.

Cada vez que existem alterações de sensibilidade nas mãos como dedos dormentes, um destes nervos encontram-se afetados.

Hand Sensory Nerves

IMAGEM: a amarelo a zona de enervação do nervo mediano; a roxo o nervo radial e a verde o nervo cubital

Possíveis causas para sentir os dedos dormentes

Pontos gatilho

Pontos gatilho podem provocar dedos dormentes. Em particular pontos gatilho nos músculos escalenos e pequeno peitoral podem fazer pressão sobre o plexo braquial e sobre os vasos que irrigam o braço fazendo com que as extremidades sejam mal irrigadas.

Pontos gatilho em músculos da mão também podem provocar sensação de dedos dormentes.

Síndromes de compressão nervosa

O nervo cubital é o nervo com maior número de síndromes.

É comum compressão do nervo cubital no canal cubital (no cotovelo) ou no canal de guyon (no punho).

Estas compressão originam o síndrome do canal cubital ou o síndrome do canal de guyon.

Guyon canal syndrome zones

IMAGEM: canal de guyon no pulso.

Cubital Fossa2

IMAGEM: nervo cubital no cotovelo.

O nervo mediano passa por um canal central no pulso e costuma sofrer compressão local originando o síndrome do canal cárpico.

IMAGEM: estruturas que compõem o canal cárpico.

O síndrome do nervo radial é originado quando este fica comprimido, pelas estruturas adjacentes, na face lateral do cotovelo.

O uso de canadianas também pode provocar compressão do nervo na região axilar originando vários sintomas nos membros superiores.

Patologia cervical

As vértebras da coluna lombar estão separadas por discos cuja função é servir de amortecedor nos movimentos da coluna.

Se o disco romper ou se deslocar pode comprimir a raiz nervosa provocando vários sintomas incluindo dedos dormentes.

Outras patologias que podem comprimir os nervos na coluna são os osteofitos ou alterações degenerativas como artroses.

Lesão do sistema nervoso periférico

Fratura óssea com lesão do nervo ou compressão do nervo podem provocar sintomas como dor, formigamento ou dedos dormentes.

É comum fraturas do úmero originarem lesões no nervo radial com consequente perda de função dos músculos extensores do braço.

Doenças degenerativas

Existem doenças degenerativas caraterizadas pela perda de sensibilidade e função dos músculos.

O exemplo mais conhecido será a diabetes com a neuropatia diabética.

Sindrome do desfiladeiro torácico

Como o nome indica, o desfiladeiro torácico é a região que vai do pescoço até ao ombro passando pelo tórax.

Nesta região passa o plexo braquial (conjunto de vasos e nervos que vão enervar o membro superior).

Alterações nos músculos escalenos, dos padrões respiratórios ou posturais podem comprimir estas estruturas originando diversos sintomas nos membros superiores como dor ou dedos dormentes.

Os nossos tratamentos para dedos dormentes

Existem vários tratamentos para dedos dormentes, consoante a causa do problema.

Apesar de neste artigo advogar o uso de acupuntura e osteopatia (terapêuticas disponibilizadas pelo nosso gabinete em Lisboa), estes nem sempre são os tratamentos mais indicados e o seu uso não implica a falta de acompanhamento médico.

Qualquer doente com sintomas de dedos dormentes deve ser acompanhado pelo seu médico e não deve nunca omitir os tratamentos que faz sejam convencionais ou não convencionais.

Nas próximas linhas vamos focar-nos na abordagem integrada entre osteopatia, acupuntura e exercício que aplicamos no nosso gabinete.

Acupuntura manual e elétrica

Tratamento de síndrome do túnel cárpico com acupuntura elétrica

Consoante as causas de dedos dormentes a acupuntura pode ser bastante útil.

A acupuntura deve ser um tratamento de eleição no tratamento de pontos gatilho.

A acupuntura também pode ser um tratamento muito útil nos síndromes de compressão nervosa como síndrome do canal cubital ou síndrome do túnel cárpico.

Deve ter-se cuidado ao analisar dedos dormentes na possível presença de túnel do carpo e pontos gatilho pois estes últimos podem simular túnel do carpo.

A acupuntura é muito usada, e com grande sucesso, no alivio de sintomas de hérnias discais.

A acupuntura não cura a hérnia mas pode aliviar os sintomas que dela decorrem e melhorar a qualidade de vida dos pacientes. O tratamento da hérnia exige uma equipa multidisciplinar.

As técnicas invasivas podem ser usadas para ajudar a recuperar qualquer lesão traumática do sistema nervoso periférico desde que não exista um secção total do nervo.

Por exemplo a acupuntura pode ajudar a recuperar a função de músculos, eliminar a dor e tratar formigamento após fratura óssea com lesão parcial do nervo.

Não existem muitos estudos científicos sobre o uso de acupuntura em patologias degenerativas.

A variedade de doenças degenerativas e a sua raridade faz com que a experiência clinica muitas vezes seja pobre, pelo que não existem informações muito seguras acerca da utilização da acupuntura em muitas patologias degenerativas.

Osteopatia

A osteopatia tem a vantagem e conseguir associar um diagnóstico avançado com uma grande diversidade de técnicas.

O diagnóstico osteopático é essencial não só para definir o tratamento osteopático mas também para direcionar o tratamento de acupuntura.

As técnicas osteopáticas costumam ser bastante usadas em problemas como síndromes de compressão nervosa, síndrome de desfiladeiro torácico e patologia cervical.

Reabilitação ativa

As técnicas neurodinâmicas são técnicas osteopáticas que podem ser usadas de forma passiva ou ativa.

Na maioria das vezes que se tratam síndromes de compressão nervosa costumo aplicar estas técnicas de forma passiva numa fase inicial do tratamento e acabo a demonstrar ao paciente como as pode fazer de forma ativa.

Integrar técnicas que permitam trabalhar as propriedades neuromecânicas do nervo afetado é essencial para a recuperação do paciente.

Exercícios simples de alongamentos específicos, ou técnicas de inibição ativas podem ser relevantes para ajudar o paciente a ganhar autonomia em relação às suas queixas.

Análise estatística de casos clínicos reais tratados no nosso gabinete

Para esta parte do artigo fiz uma recolha de dados de uma amostra de 24 pacientes tratados no nosso gabinete de acupuntura em Lisboa, de 2017 ao presente.

A lista presume ser uma amostra representativa do nosso trabalho e foi compilada usando 3 palavras-chave: “dedos dormentes”, “mãos dormentes”, “formigueiro mãos”.

Os dados apresentados abaixo não foram avaliados de forma independente e não devem ser entendidos como comprovação clínica de eficácia dos nossos tratamentos. Também não devem ser generalizados nem confundidos com estudos científicos.

Da nossa amostra de 24 pacientes, 9 (37.5%) eram do sexo masculino e tinham uma média de idades de 50.8 anos. O grupo de pacientes do sexo feminino apresentava uma média de idades de 53 anos.

Desta população de pacientes, 25% apresentava alterações no nervo cubital, 25% no nervo mediano, 12.5% no nervo radial e 37.5% apresentavam vários territórios nervosos afetados.

dedos dormentes formigueiro

No gráfico da esquerda a divisão de pacientes de acordo com o sexo e no gráfico da direita a divisão de pacientes de acordo com os territórios nervosos afetados.

Para análise das queixas foram usadas, as causas de mãos e dedos dormentes, descrita neste artigo.

Ao todo dos 24 pacientes, 6 desistiram. Consideram-se desistências pacientes que tenham desistido até à segunda consulta sem ser possível avaliar o resultados dos tratamentos.

50% dos pacientes desistiram na primeira consulta e 50% desistiram na segunda consulta. 1 dos pacientes, que desistiu na segunda consulta, já apresentava alívio significativo dos sintomas.

Devido aos inúmeros fatores que podem levar os pacientes a desistir numa fase tão precoce, e à não associação desses fatores com a eficácia da terapia não é possível usar os dados desses pacientes.

Dessa forma, os resultados de eficácia serão apresentados com uma população de 17 pacientes restantes.

Para avaliar os resultados foram criados 4 grupos:

1 – agravamento dos sintomas (6%);

2 – sem resposta aos tratamentos (12%);

3 – resolução parcial dos sintomas (24%);

4 – melhorias significativas ou resolução completa do caso (59%).

mãos dormentes formigamento

Tabela à esquerda: SCN – Síndrome de compressão nervosa; PCD – Patologia Cervical e Dorsal; Lesões SNP; DD – Doenças Degenerativas; DT – Desfiladeiro Torácico. Tablea à direita: 1 – agravamento das queixas; 2 – sem resposta aos tratamentos; 3 – resolução parcial das queixas; 4 – melhoras significativas ou resolução completa dos sintomas.

A nível de causas é possível observar que as 2 mais comuns são síndromes de compressão nervosa (canal cubital túnel cárpico, etc…).

A nível de eficácia é possível observar que a grande maioria dos pacientes sentiu alivio das queixas. No entanto, 1 paciente com síndrome de túnel cárpico, continuou a sentir agravamento das queixas e parou os tratamentos para fazer cirurgia.

12% não responderam aos tratamentos e foram aconselhados a parar os mesmos ao final de 5 consultas.

Ao todo foram feitas uma média de 5.4 consultas por paciente.

Casos Clínicos

Mãos dormentes por síndrome de desfiladeiro torácico

Paciente do sexo feminino, 34 anos, deslocou-se ao gabinete de acupuntura e osteopatia com sintomas de mãos dormentes, apraxia e sensação de peso intensa. Existia a dúvida médica da presença de síndrome do túnel cárpico.

Apesar dos sintomas afetarem ambas as mãos notara-se um agravamento da mão esquerda na última semana com dor e incapacidade de movimentar corretamente os dedos indicador e polegar.

Na palpação notou-se a existência de pontos gatilho nos escalenos e observou-se limitação na rotação direita da cabeça. Ambos os testes de Tinel e Phalen eram positivos. A paciente apresentava síndrome de desfiladeiro torácico bilateral com maior evidência no membro superior esquerdo.

A paciente tinha sido medicada com Exiv e Lepicortinolo.

Para o tratamento da paciente foi feita uma combinação entre acupuntura e diversas técnicas osteopáticas. A paciente não apresentou nenhuma resposta no primeiro tratamento pelo que se intensificou o tratamento osteopático e se reduziu o tratamento de acupuntura aos pontos gatilho.

A paciente respondeu muito bem ao tratamento com diversas técnicas osteopáticas notando-se desaparecimento imediato de mãos dormentes. Ao todo a paciente fez 5 tratamentos de acupuntura e osteopatia. As queixas relativamente ao polegar e indicador esquerdos desapareceram. A maioria dos sintomas desapareceram e ficaram alguns sintomas mais atenuados e residuais.

Nesta fase a paciente decidiu parar os tratamentos.