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viseira proteção

Covid-19 ou Coronavirus e medicina chinesa

Alguns circulos nas redes sociais celebram o facto que a China está a conseguir combater eficazmente o Covid-19 ou Coronavirus usando uma combinação de medicina ocidental e medicina chinesa.

Segundo uma fonte citada pelo polígrafo do Sapo:

“Boas notícias da China. Os casos de novas infecções por Covid-19 estão a diminuir há mais de uma semana e aumentam o número de doentes recuperados que têm alta dos hospitais! Como eu dizia no meu video, existem várias plantas da medicina tradicional chinesa que estão a ser utilizadas, juntamente com a acupuntura e o tai chi, para aumentarem o sistema imunitário dos pacientes infectados”

“Não tenho dúvidas em como foi uma sorte esta epidemia se ter iniciado na China, porque assim já sabemos que a combinação da medicina convencional com a MTC tem excelentes resultados”

“Espero que em Portugal sejam tomadas medidas urgentes, para que os profissionais das medicinas naturais sejam inclúidos em equipas multidisciplinares, para ajudarem a tratar os possíveis infetados.”

Uma coisa é certa. O governo chinês está a recorrer à medicina Chinesa para ajudar a tratar o Coronavírus.

Significa isto que a MTC é eficaz para tratar o Coronavírus?

É esta combinação de medicinas que explica a diminuição de casos do Covid-19?

Deveria Portugal tomar medidas urgentes e integrar especialistas de MTC em equipas multidisciplinares?

Independentemente da resposta a estas questões parece não existir dúvida: foi uma sorte esta epidemia ter começado na China!

futuro da farmacoterapia medicina chinesa

Como começou a epidemia de Coronovírus?

“if you keep being stubborn, fail to repent and continue illegal activities, you will be brought to justice”

Aviso da polícia de Wuhan a Li Wenliang. Li era um oftalmologista que começou a avisar acerca de um novo coronavírus que as pessoas não conheciam. Morreu a 6 de Fevereiro por infeção de Coronavirus – The Economist

O coronavírus é da mesma família que o SARS e a história é exatamente a mesma.

Mercados de carne desregulados onde animais saudáveis e doentes são mantidos em condições pouco higiénicas e mortos e onde a carne fica ao ar livre durante horas.

A carne vendida vai desde animais de estimação (cães), animais de quinta (porcos, galinhas) ou animais exóticos (morcegos e cobras).

Evolutivamente já apanhámos as doenças dos animais de estimação e de quinta mas o contacto com outros animais costuma ser mais localizado geograficamente.

Ou seja o contacto mais próximo com outros animais traz novas doenças.

Tendo perfeita consciência disto e passados 20 anos do aparecimento da SARS o governo chinês não fez absolutamente nada para mudar a situação.

O governo chinês parece ser capaz:

1 – de criar campos de concentração para mais de 1 milhão de pessoas,

2 – parece ter fundos para militarizar as ilhas do mar do sul da China,

3 – parece ter poder para instituir um sistema de controlo populacional baseado num sistema de pontos…

… mas não parece capaz de mobilizar os meios, arranjar dinheiro e facilitar as reformas sanitárias necessárias nos mercados locais de carne!

A imagem do governo chinês piora ainda.

Tanto o governo regional como o governo central fingiram que não existia nenhum problema e começaram por negar a existência do mesmo.

E perseguiram e fizeram desaparecer chineses que denunciaram ativamente a situação. (2)

Só quando era impossível esconder a situação é que o governo reconheceu a existência de um problema.

Mas ainda é pior do que parece.

O primeiro laboratório a conseguir desenvolver uma versão da doença era chinês.

Este é um dos primeiros passos, muito importantes, para se desenvovler uma vacina.

No entanto o laboratório chinês recusou-se a partilhar os seus dados com a OMS e só mais tarde um laboratório australiano conseguiu o mesmo feito.(3)

Não foi uma sorte esta epidemia ter começado na China, mas sim uma inevitabilidade.

Foi uma consequência da incompetência e falta de boa vontade dos lideres chineses.

prescrição de fitoterapia medicina chinesa

Uma combinação para destruir o Covid-19

Segundo parece o que funciona melhor para combater o coronavirus é uma combinação de medicina chinesa e ocidental.

O próprio governo chinês indica que usa medicina chinesa em 80% dos casos.

Para as pessoas que ainda não compreenderam o pensamento do governo chinês: tudo serve para se publicitar a cultura e a liderança chinesa.

E a medicina chinesa faz parte do marketing internacional que a China usa.

Na reportagem da Sapo refere-se um médico chinês contra o uso combinado destas práticas.

Mas esse médico tem de falar na condição de anonimato, porque a posição oficial do governo chinês é oposta.

E o médico não quer fazer companhia aos chineses que se opôem à posição oficial do governo chinês.

O facto de se estar a usar a medicina chinesa em conjunto com a medicina ocidental não significa que a primeira ou uma combinação de ambas seja eficaz para combater o Covid-19.

Não há nenhum dado que possa sugerir isso.

Há quem defenda que a acupuntura e o Tai Chi podem ajudar a fortalecer o sistema imunitário e se calhar até ajudam ao diminuir o stresse e o impacto negativo que o stresse tem na imunidade.

Mas isso é completamente irrelevante face a um novo vírus como o Covid-19.

O desporto também fortalece o sistema imunitário e ninguêm espera resolver uma epidemia com uma meia-maratona!

A fitoterapia (uso de plantas medicinais) pode ser importante mas não há nenhum dado (nem houve tempo ainda porque é tudo muito recente) que indique que ajuda.

Existem interações farmacocinéticas que podem ser positivas mas também podem ser negativas e não se conhecem.

E a adição de mais principios ativos só vai complicar uma análise que se pretende simples.

Mas uma coisa sabemos que funciona: vacinas.

Outra coisa que funciona muito bem contra o coronavirus são politicas de saúde públicas bem pensadas.

Como as que foram usadas em Singapura:

1 – acesso a um bom sistema nacional de saúde;

2 – rastreio;

3 – quarentena de pessoas potencialmente infetados,

4 – rastreio da história de viagens de cada novo viajante,

5 – meios legais contra pessoas que violem as leis,

6 – uma população que aceita as regulamentações estatais.(4)

A medicina chinesa não precisa deste tipo de publicidade

Estar a usar este tipo de publicidade só descredibiliza a classe profissional.

Damos ideia que não temos qualquer capacidade critica face a informações aparentemente positivas.

Não sabemos distinguir opurtunismo politico de cuidados de saúde, não temos noção de epidemiologia, trabalho multidisciplinar, virologia, etc… mas queremos ser integrados em equipas multidisciplinares para curar uma infeção da qual não sabemos nada… e vamos curá-la com Tai Chi, acupuntura e muita ignorância farmacológica.

Passamos constantemente a imagem de profissionais ignorantes e sem noção da realidade para outros profissionais de saúde com os quais queremos criar equipas multidisciplinares!

wet market covid-19 coronavirus

Wet markets não alimentam a Medicina Chinesa

Recentemente o João Cerqueira aka Scimed e o Manuel Magalhães Sant`Ana escreveram um artigo relacionando a recente crise do COVID-19 com a OMS e a Medicina Tradicional Chinesa.

Inegavelmente, para os autores a melhor forma de proteger espécies e evitar pandemias seria banir a medicina chinesa, porque de acordo com os mesmos, os wet markets alimentam esta indústria corrupta e desnecessária.

“Se o leitor quer evitar uma pandemia semelhante no futuro e contribuir para a conservação de espécies, domésticas e selvagens, comece por ajudar a banir a medicina tradicional chinesa em todas as suas formas.”(5)

“Embora o consumo de espécies selvagens exista, é considerado uma delicatessen reservado a uma elite ou porventura para ocasiões especiais. O grosso dos animais selvagens que são vendidos nos mercados húmidos são-no para alimentar uma indústria muito diferente: a da Medicina Tradicional Chinesa (MTC)” (6)

Os artigos do Scimed costumam ser uma mistura de histórias de Marco Polo com Gulliver.

Frequentemente nunca sabemos quando acabam os factos e começa a ficção porque não existe fronteira entre uma interpretação idónea de factos sólidos ou uma conclusão abusiva devido á adulteração de factos.

As próximas linhas são uma resposta à forma como estes autores confundem análise objetiva com escrita criativa.

Como tal, vamos explicar o que são os wet markets, como funcionam e que relação tem com a Medicina Chinesa, assim como os muitos problemas sociais existentes.

No final falaremos um pouco sobre pandemias.

O que são wet markets e a sua história na China

Wet market é um mercado que vende produtos pereciveis

Primeiramente, nestes mercados vende-se todo o tipo de carne.

Os mercados que vendem só animais selvagens são chamados wildlife markets.

Apesar de na prática estas diferenças não serem relevantes porque no mesmo mercado vende-se todo o tipo de carne e porque os animais selvagens são, na sua maioria, produzidos em quintas.

Afinal, seria difícil alimentar os wet markets chineses somente com caça ilegal.

Entre as espécies criadas em quintas contam-se os Gansos selvagens, Pavões, Pangolins, Civetas, Porcos de diferentes espécies, Ratos, Cobras, Tartarugas ou Texugos. (7), (8), (9)

Muitos pequenos produtores de galinhas e porcos foram levados à falência por grandes empresas

Como tal, para sobreviverem começaram a produzir outros animais que lhes davam maior margem de lucro.

Frequentemente, estes animais são a fonte de sustento de chineses nas regiões agrícolas mais pobres da China, estimando-se que os wet markets sejam importantes para suprir as necessidades nutricionais proteicas de 39% a 50% da população.

wet markets chineses covid-19

Sobrevivência económica e ecológica

Uma aldeia em Zisiqiao (6) cria mais de 3 milhões de cobras por ano.

Afinal a cobra sempre fez parte da gastronomia local mas com o aumento da caça começaram a desaparecer as espécies locais e a escassear uma fonte de proteína relevante.

Em suma, um aldeão teve a ideia de tentar criar cobras em casa e, após um sucesso inicial muito grande, todos os outros começaram a adotar esse sistema.

Os wet markets na China, não são todos iguais

Existe uma grande variedade de produtos e condições higiénicas consoante a região da China, assim como também existem diferentes tradições gastronómicas.

No entanto, o artigo do Público não leva nada disto em conta.

Pega em exemplos isolados e generaliza sendo essa uma prática comum em muitas reportagens e artigos de opinião deste jornal.

O consumo de espécies selvagens não é só para uma elite

O negócio dos wet markets vale 73 biliões – dificilmente é para uma pequena elite (16).

De facto, a maioria das espécies vendidas são produzidas em quintas e são de fácil acesso à maioria das pessoas.

Obviamente que alguns tipos de carne são mais caras e acessíveis a um pequeno grupo de pessoas mas a maioria dos alimentos que se vendem nos wet markets são para as pessoas normais.

Inegavelmente, em determinados locais estes wet markets são a fonte de carne mais barata disponível para os chineses.

Basta olhar para fotografias de alguns wet markets, denunciados por muitos grupos ambientalistas ocidentais, para perceber que os seus clientes não são pessoas abonadas:

1 – Não estão construídos em estruturas solidas,

2 – não tem condições sanitárias típicas de mercados de luxo,

3 – não estão localizados em zonas nobres,

4 – não levam preços exorbitantes.

Por isso, quando os chineses tentaram reformar os wet markets em 2002 e transformá-los em supermercados as pessoas deixaram de comprar porque ficaram mais caros.

Certamente os ricos não iam ter problemas com isto.

Para se compreenderem os wet markets e a sua importância para as populações locais, ou a forma como se podem regular ou transformar noutros tipo de serviços como os supermercados, é necessário fazer análises etnográficas mais complexas do que a simples expressão de desprezo pela medicina chinesa.

Mas esse tipo de análises não costuma ser feita pelo João Cerqueira. (18)

eles tratam sintomas nós tratamos as causas

Onde se vendem produtos de medicina chinesa

Antes de mais nada, afirmar que os wet markets alimentam a medicina chinesa foi uma afirmação claramente abusiva, pois qualquer investigação minimamente bem fundamentada saberia que isto não é verdade.

A princípio podemos afirmar que parte das fontes que fornecem os wet markets também fornacem a indústria médica na China.

Mas em nenhum momento podemos dizer que os wet markets alimentam a medicina chinesa.

Os wet markets alimentam os chineses que a eles recorrem.

Em primeiro lugar, os produtos de medicina chinesa são vendidos em farmácias (hospitalares e não hospitalares) juntamente com medicamentos.

Ademais se for ao hospital e este lhe prescrever uma fórmula de fitoterapia chinesa você não vai ao wet market. Leva a prescrição médica para a farmácia hospitalar.

Em segundo lugar, alguns produtores de animais selvagens estão a usar loops legais para dizerem que produzem para medicina tradicional chinesa.

Como a MTC faz parte da propaganda oficial do governo e existe forte pressão política para se abraçar a cultura chinesa, quando o governo decide dar indicação de fecho a uma quinta que produz carne de pangolim, esta pode defender-se dizendo que produz escamas para medicina chinesa.

Obviamente que nesses mercados se vendem produtos usados pela medicina chinesa.

Mas isso não significa que o consumo que façam deles seja indicado pela medicina tradicional chinesa ou que seja umas prescrição médica.

No Ocidente qualquer pessoa pode comprar chás em supermercados ou medicamentos sem receita médica por sua livre recriação. Isso não é medicina.

Pangolins e Rinocerontes

Os pangolins são o mamífero mais traficado em todo o mundo sendo que antes desta pandemia quase ninguém o conhecia.

De acordo com os autores do artigo é a medicina chinesa que coloca em risco esta espécie.

Sem dúvida as escamas são usadas para medicina chinesa (independentemente do seu valor real terapêutico!).

No entanto:

1 – a carne é vendida para os wet markets como especiaria sem qualquer relação com medicina chinesa.

Na ausência desta pandemia, se a MTC deixasse de usar escamas de pangolim os chineses iam deixar de comer carne de pangolim?

2 – a Medicina Chinesa é irrelevante no Gabão, mas a carne de pangolim é muito consumida. (17)

Estes 2 factos mostram como são enviesadas as análises e interpretações destes autores.

Por outro lado o Rinoceronte foi proibido de ser comercializado tanto para mercados exóticos como para a medicina chinesa.

Recentemente o governo aprovou o uso de rinocentronte para investigações médicas mas manteve a proibição nos wet markets. (11)

No entanto a indignação internacional foi tão grande que o governo voltou atrás.

Os wet markets tem uma existência independente da indústria médica chinesa. Com toda a certeza não alimentam a medicina chinesa.

rinoceronte mitos medicina chinesa

O que é usado na medicina chinesa e o que o Scimed vende como medicina chinesa

O problema da medicina chinesa é que ninguêm quer saber realmente o que é ou que potencialidades tem.

A medicina chinesa para os ocidentais, com as suas fantasias vitalistas sobre energias fantásticas, não tem nada a ver com a medicina chinesa na China pois a cultura chinesa nunca falou em energias.

Este conceito de energia vs matéria é típico de culturas dualistas como a ocidental e nunca culturas normativas como a chinesa.

E depois vem o Scimed e outros céticos anti-TNC que ainda tem outra versão de medicina chinesa.

Para o Scimed se um chinês aconselha a bater com a cabeça na parede, então é medicina chinesa.

A esta imagem ele junta a superficialidade analógica com as crenças esotéricas dos ocidentais.

É uma versão muito mutilada de medicina chinesa e certamente muito conveniente!

As afirmações sobre o rinoceronte são um exemplo da analogia superficial e da proliferação de um dos mitos de acupuntura mais comuns:

1 – a medicina chinesa já usou (e parece que o governo quer fazer investigação sobre isso) corno de rinoceronte;

2 – alguns chineses consomem corno de rincoceronte porque acreditam que dá potência sexual.

3 – Logo a medicina chinesa usa corno de rinoceronte para tratar a disfunção sexual.

Não há nenhum livro de matéria médica chinesa a indicar o corno de rinoceronte para tratar impotência.

Na realidade é exatamente o oposto. Eu sei isto, porque ao contrário do Scimed dei-me ao trabalho de ler os livros de matéria médica chinesa. (14), (15)

Isto não significa que seja correto a MTC usar corno de rinoceronte mas significa que o Scimed não faz ideia do que está a falar na maioria das vezes.

Pontos em que o artigo do Público tem razão

Apesar de não concordar com algumas interpretações mais alucinadas do artigo, ele foca alguns pontos relevantes e nos quais concordo.

Apesar de achar que não foram desenvolvidos o suficiente no artigo gostaria de salientá-los aqui:

O governo chinês usa a MTC como parte da sua propaganda politica e muitos ocidentais aceitam e apoiam isso de forma acrítica

Quem não viu os filmes de profissionais de saúde e doentes chineses a fazerem tai chi em alas hospitalares para tratar covid-19?

Ou a divulgação de propaganda chinesa nas redes sociais por muitos ocidentais crentes?

Quantas vezes ouviram dizer que o Qi Gong melhora o sistema imunitário?

Como um comediante disse uma vez: estas pessoas leem harry potter como se fosse um documentário do National Geographic.

Inegavelmente a forma como muitos ocidentais aceitam acriticamente a propaganda chinesa é grave e só alimenta criticos como o Scimed.

Corrupção

A corrupção está instalada em todos os níveis do governo chinês.

E dos governos regionais sobre os quais o governo central tem muito menos poder do que se pensa no ocidente.

A caça ilegal, a forma como essa caça ilegal se mistura com as quintas legais ou as redes de distribuição oficiais é um exemplo de corrupção generalizada.

Recentemente o governo chinês decidiu voltar a aceitar o uso de corno de rinoceronte somente para investigação médica mas devido aos altos níveis de corrupção, muitos grupos de proteção dos animais, acham que vai criar um comércio descontrolado.

Sem dúvida que a corrupção a nível internacional tem sido igualmente desastrosa.

Não apenas a ação da OMS nesta crise e a forma como apoia o governo chinês tem sido lamentável, como também a sua vergonhosa duplicidade de critérios.

Por exemplo, na versão ocidental inclui a fitoterapia chinesa nos medicamentos que não servem para nada mas na versão chinesa já os inclui como tratamentos úteis.

Esta subserviência à China é explicada mais pela origem do atual presidente e da importância do seu pais no Belt and Road Iniciative do que pelas contribuições chinesas para a própria OMS.

Mas também mostra como os chineses conseguiram minar e desvirtuar instituições internacionais.

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Ambientalmente insustentável

O enriquecimento predatório que caracteriza a economia chinesa, no atual momento, parece-me, é o grande responsável por este fenómeno.

Ironicamente o país que mais domina a tecnologia verde é também aquele que não olha a meios para enriquecer com técnicas pouco sustentáveis.

No mercado dos fitofármacos a agricultura intensiva com o desgaste dos solos e uso não controlado de pesticidas está a alterar as propriedades bioquímicas de plantas com propriedades terapêuticas.

Noutros casos, a apanha ilegal está a levar algumas espécies quase à extinção.(8)

Frequentemente a corrupção permite adulterar fórmulas tradicionais e trocar plantas com diferentes propriedades terapêuticas.

Um dos piores exemplos vem não das plantas mas da forma como se exploram ursos negros em quintas.

Além dos 12000 ursos em quintas, estas também recebem muitos ursos provenientes de caça ilegal na Malásia (assim como Civetas da Tailândia por exemplo).

Se por um lado se leva um animal quase à extinção, por outro provoca-se um nível de dor e stress aos animais sem qualquer justificação.

Aos ursos são abertas feridas para se retirar a bilis enquanto são mantidos presos em jaulas minúsculas onde não se conseguem mover.

Em alguns casos o sofrimento é tanto que alguns ursos começam a auto-mutilar-se.

O objetivo é retirar a bilis do urso que é rica em ácido ursodeoxilico.

Apesar das várias indicações médicas deste ácido é possível produzi-lo em laboratório sobre condições controladas.

Então qual a razão que leva a mutilarem-se ursos para retirarem um produto que vem contaminado com sangue e pus de feridas infetadas?

No entanto, é importante relembrar que nem todos os wet markets são idênticos e que nem todas as formas de exploração animal para consumo é desprovida de análises de impacto ambiental.

Como vimos com as cobras em Zisiqiao a criação de cobras permitiu salvar as espécies locais, melhorar a economia local e garantir fontes de proteína relevantes.

É necessário separar os casos, analisar as diferentes espécies, estudar o fim a que se destinam, analisar a viabilidade económica e ambiental, etc…

Como evitar pandemias e proteger as espécies

A solução dos autores do artigo para salvar as espécies de extinção e evitar pandemias é bastante simples: banir todas as formas de Medicina Chinesa.

Inegavelmente é também a forma mais inútil que existe.

Sem dúvida que soluções inúteis são uma consequência lógica de se ter um raciocínio enviesado para os próprios preconceitos, falta de capacidade de análise biográfica e excesso de criatividade na interpretação de fontes escolhidas a dedo.

Salvar espécies

Banir a Medicina Chinesa não vai salvar o Pangolim.

Enquanto a Medicina Chinesa é irrelevante no Gabão, que fica a mais de 12000 km de Wuhan, a carne de Pangolim é muito apreciada nos mercados locais.

Com ou sem Medicina Chinesa a carne de Pangolim vai continuar a ser consumida desde o Gabão à China.

Por outro lado se existe pressão sobre algumas espécies como o urso negro também é verdade que existem exemplos de sucesso como a criação de cobras numa aldeia chinesa que permitiu salvaguardar as espécies locais de extinção, desenvolver a economia e ao mesmo tempo garantir uma fonte local importante de proteínas.

E o que acham que vai acontecer a determinadas espécies assim que deixarem de ter valor comercial?

O Burro era uma espécie muito comum usada para trabalho no ocidente.

A partir do momento em que deixou de ser relevante economicamente começou a desaparecer.

Alguém acha que o porco ou a vaca vão desaparecer rapidamente?

Mas o que acham que vai acontecer ao porco assim que deixar de ser consumido e não for rentável fazer criação?

Comercializar espécies locais não é necessariamente mau.

Por muito repugnantes que alguns alimentos sejam à nossa sensibilidade cultural não é muito diferente de levar um Sueco ao Júlio dos caracóis.

Contudo, precisamos estudar a viabilidade de comercialização de cada espécie, estudar os hábitos locais e ver quais os melhores métodos de salvaguardar a espécie, garantir fontes de proteína facilmente acessíveis a toda a população ao mesmo tempo que se permite crescimento económico.

Evitar pandemias

Banir a MTC também não vai evitar nenhuma pandemia.

A Ebola vem do Morcego em África e passou aos humanos através do consumo destes animais.

Então, experimentem banir a Medicina Chinesa para ver se o Ebola desaparece!

Para evitar pandemias é preciso:

1 – fazer um estudo dos perigos relacionados com a alimentação local e da forma de os evitar;

2 – regular o funcionamento dos wet markets (7), (17);

3 – fiscalizar os produtores, as redes de distribuição e os mercados finais;

4 – criar sistema de transparência que permita identificar problemas rapidamente, etc…

Mas acima de tudo é importante não mentir e fingir que o problema não existe e depois manipular instituições internacionais.

acupuntura segura neuromodulação periférica

Orientação da DGS para a pandemia do COVID-19

Recentemente foi publicada a orientação da DGS sobre as alterações necessárias para nos adaptarmos ao COVID-19. Nesse sentido, neste artigo procuro explicar quais são e a forma como me estou a adaptar às mesmas.

Certamente que para mim o problema tem sido onde estabelecer a fronteira entre tomar medidas coerentes e responsável ou tomar medidas excessivas baseadas no medo pois é minha opinião que a irracionalidade nunca ajudou ninguêm.

No mundo da acupuntura, onde no passado, as técnicas asséticas nem sempre são bem vindas, o COVID-19 poderá ser um fator de transição para a adoção de um conjunto de atitudes mais corretas por parte dos acupuntores.

Antes de tudo é preciso diferenciar que a prática da acupuntura e da osteopatia são práticas de risco baixo ao contrário do que acontece com outras áreas como a medicina dentária. Existem pequenas condicionantes, tanto na osteopatia quanto na acupuntura, que certamente, podem aumentar o risco mas, regra geral, são práticas de baixo risco pois não geram aerossois.

Em segundo lugar existem pequenas orientações da DGS que ajudam a diminuir ainda mais o risco na clinica de acupuntura.

O contacto direto e indireto

Primeiramente é importante ter consciência das formas de contacto do COVID-19 de forma a conseguir ter mais consciência dos reais perigos ou da melhor forma de proteção. As 2 formas de contacto são a direta via gotículas no ar e a via indireta através do toque em superficies contaminadas.

As gotículas no ar tornam-se mais propensas a infetar outras pessoas se o paciente tossir na sala e esta não se encontrar devidamente ventilada. Assim sendo se comunicarmos ao paciente que deve desmarcar a consulta caso apareçam sintomas agudos como tosse
e se ventilarmos corretamente o gabinete, então, a probabilidade torna-se minimo.

Por outro lado o contacto indireto é feito via toque em superficies contaminadas seguido do contacto com mucosas como boca ou nariz. Pequenas estratégias como diminuir o contacto do paciente com o máximo de superficies, desinfetar corretamente superficies em contacto permanente com o paciente (marquesa por exemplo) e proteger as mãos (luvas em alguns procedimentos) assim como a desinfeção regular ajudam a minimizar ainda mais este risco.

Inegavelmente, estas estratégias garantem uma proteção elevada num ambiente de risco minimo.

lado da cortina cortisona

Adaptação à orientação da DGS por causa do COVID-19

Antes de mais é de salientar que fica muito mais fácil para um pequeno gabinete como o meu, adaptar-se a estas medidas do que uma grande clinica. De maneira idêntica muitos colegas acupuntores e osteopatas que trabalhem nos mesmos moldes sentirão maior facilidade.

Apesar de existirem mais complicações em clinicas maiores também existe uma estrutura diferente capaz de atuar de forma mais complexa.

Atualmente a maioria das medidas mais importantes exigidas já eram realizadas por mim e o baixo número de trabalhadores (eu próprio) limita os problemas em definir o espaço que cada um pode frequentar, o tipo de tarefas de cada empregado, etc…

Eu já fazia marcações por telefone, já usava muitas medidas de assépsia preconizadas, já tinha o hábito de limpar e arejar o gabinete, etc

Mesmo assim existem pequenas adaptações: mais espaço entre consultas, mais comunicação com os pacientes na marcação de consultas, maior frequência na higienização do gabinete, mais proteções, etc…

O meu maior problema não tem sido criar condições de segurança para mim e para o meu paciente mas sim em tentar definir qual o tipo de investimento que devo fazer para não ter qualquer problema numa fiscalização.

Uma viseira pode ser completamente inútil para o tipo de trabalho que faço mas se a presença da viseira sossegar algum inspetor mais preocupado?!…

Nesse sentido eu irei definir nas próximas linhas cuidados e procedimentos a ter antes, durante e após sendo que a maioria dos procedimentos após a consulta são um remake dos procedimentos antes da consulta.

Procedimentos antes da consulta

1 – Antes de mais é aconselhado marcar consultas pelo telefone e evitar marcações diretas na clinica.

Como eu já fazia as minhas marcações e só atendo por marcação este problema fica resolvido logo de imediato.

Regra geral somente está no gabinete quem vem para tratamento.

Existem diferenças na comunicação do paciente: antes informava do preço, forma de pagamento, avisos da clinica relativamente às consultas, etc…

Atualmente temos de inquirir sobre a presença de sintomas respiratórios agudos ou febre.

Saber se esteve em contacto com alguêm infetado ou se esteve infetado e se sim se cumpriu os 14 dias de isolamento.

Na presença de alguns destes sintomas de infeção por Covid-19 devemos evitar atender estes pacientes e reencaminhá-los para SNS24.

Assim diminui-se ainda mais o perigo de contágio.

No entanto, caso seja imperioso serem tratados, os pacientes devem ser reencaminhados para o final do dia quando a possibilidade de cruzamento com outros pacientes é menor.

2 – Desaconselhar a presença de acompanhante a não ser que seja necessário (menores de idade, pacientes com limitações).

3 – Informar sobre a necessidade de trazer a própria máscara ou ter uma máscara cirurgica disponível para o paciente.

orientação da DGS covid-19

Durante a consulta

1 – Limitar ao máximo a necessidade do paciente tocar em portas, maçanetas ou outras estruturas.

Desinfetar e proteger as maçanetas mais manipuladas podem ser algumas das estratégias de segurança.

2 – A osteopatia apresenta 2 técnicas que podem aumentar o risco de infeção com coronavirus sendo elas:

A – algumas técnicas neurodinâmicas aplicadas aos pares cranianos em que é necessário colocar a mão dentro da boca do paciente e

B – técnicas de reckoiling e libertação diafragmática em que o paciente tem de fazer inspirações e expiração mais vigorosas.

As neurodinâmicas devem ser feitas sempre de luvas.

Existe um contacto muito controlado com as mucosas do pacientes em algumas neurodinâmicas (ouvido e boca) e o terapeuta está sempre protegido.

Como a seguir às neurodinâmicas costumo fazer acupuntura o que faço é trocar de luvas entre procedimentos para garantir que a saliva do paciente não entra em contacto com nenhuma superfície de trabalho.

Não existe perigo de produção de aerossois nesta técnica.

Depois temos técnicas de reckoiling e outras que podem exigir ao paciente fazer inspirações e expirações forçadas.

Nesse caso peço ao paciente que use a sua máscara durante o procedimento. Não impede a aplicação da técnica e controla o impacto dispersor de expirações mais fortes.

3 – A acupuntura não vai exigie muitos cuidados adicionais a quem já praticava bons cuidados de assépsia antes do Covid-19.

A orientação da DGS recomenda que em intervenções mais perigosas se usem 2 pares de luvas.

Pode pensar-se nisso durante a acupuntura mas face ao baixo risco e à segurança do procedimento e pequenos efeitos secundários muito controlados e limitados não vejo necessidade de cuidados adicionais.

A acupuntura deve ser feita de luvas, a pele deve ser desinfetada, a remoção de agulhas deve ser feita com algodão; dar tempo para ver se não sangra e caso exista algum pequeno sangramento pressionar localmente durante 1 minuto.

Após a consulta

1 – Facilitar formas de pagamento sem contacto. Na clinica usamos MBWay ou dinheiro.

2 – Desinfetar o gabinete dando mais atenção às superficies de contacto permanente com o paciente.

3 – Deixar respirar: muito importante.

Um estudo no Japão mostrou que poucos minutos com a janela aberta eliminava por completo gotículas contaminadas, com Covid-19, do ar.

A orientação da DGS chama a atenção para este ponto várias vezes e é, sem dúvida, muito relevante.

Equipamentos de proteção individual em tempo de Covid-19

Antes do covid eu usava uma túnica, pois adapta-se melhor ao trabalho osteopático e os procedimentos invasivos eram feitos com luvas.

Atualmente a orientação da DGS por causa do COVID-19 pede, exige ou aconselha fortemente (ainda não se percebeu) o uso de touca, máscara, óculos ou viseira, avental e proteção de sapatos.

Fica dificil perceber a fronteira entre uma prática segura ou um excesso de zelo baseado no medo face à percepção de baixo risco existente nestas áreas.

De qualquer forma, mesmo achando necessários ou exagerados algumas orientações, é preferível usá-los a sofrer uma fiscalização e dar espaço para conflitos com entidades reguladoras.

Eu já adquiri esses equipamentos de proteção individual e espero usá-los da seguinte forma:

Máscara dentro da clinica, em especial, no contacto mais próximo com o paciente.

Viseira e touca em alturas de maior proximidade com o paciente. No entanto parece-me que os óculos seriam preferíveis para trabalho de maior proximidade como a osteopatia.

Túnica de manga curta protegida por avental – braços desprotegidos que serão desinfetados após cada contacto

Proteção de sapatos para andar na clinica.

E sem esquecer o creme para as mãos porque desinfetar constantmente as mãos para quem tem a pele seca torna-se um martírio.

A única coisa que alterei foi a forma de proteção da marquesa. Se antes usava 2 protetores, atualmente uso só um na maioria dos pacientes. Desta forma foco os cuidados em material que é eliminado entre cada consulta e procedimentos que falicitam a desinfeção da marquesa ao mesmo tempo que poupo recursos financeiros para outros equipamentos.

novos acupuntores

Reflexões finais sobre coronavirus para a nossa classe

Após o aparecimento do Covid-19 rapidamente se formaram 2 campos em portugal.

Por um lado temos os acupuntores que usam a propaganda do governo chinês para exaltarem os benefícios clinicos da medicina chinesa na tratamento do Covid-19.

Do outro lado da barricada temos alguns céticos que acham que a medicina chinesa é o demónio que provoca todos os problemas no mundo, incluindo o Covid-19.

Estes 2 grupos quando e juntam parecem um jogo de futebol entre solteiros e casados.

Acima de tudo precisamos focar-nos nos factos:

O Covid-19 surge do lascismo governativo chinês e da má vontade política em tratar do problema numa fase inicial.

A melhor forma de minorar os seus efeitos está em politicas governativas integradas a nível de saúde pública, ensino e direito.

O futuro no combate ao Covid-19 está nas vacinas.

E usar esta doença para conseguir alguma forma de marketing temporário não vai ajudar a medicina chinesa!

Acabar com a medicina chinesa também não vai salvar o mundo do coronavirus.

Precisamos acabar com sonhos de grandeza ou guerra inúteis e focar-nos na melhor forma de cumprir o nosso trabalho mantendo a segurança dos pacientes.

Para tal não precisamos prometer curas milagrosas para o Covid-19 mas sim adaptar-nos às exigência da ACSS de forma a garantir uma prática segura e responsável.

A mim, parece-me que a orientação da DGS para nos protegermos do COVID-19 está muito bem pensada e ponderada.

Os pontos mais importantes para proteger o paciente do Covid-19 na consulta de acupuntura:

1 – numa linguagem clara com o paciente ao explicar os procedimentos;

2 – arejar o gabinete em todas as consultas;

3 – desinfetar superficies que tem maior contacto com o paciente;

4 – algumas técnicas de EPI em determinada circunstâncias.

Referências Bibliográficas

1 –Poligrafo sapo: medicina chinesa usada para tratar Coronavirus

2 – https://www.businessinsider.com/china-coronavirus-whistleblowers-speak-out-vanish-2020-2

3 – https://www.abc.net.au/news/2020-01-29/wuhan-coronavirus-created-in-australian-lab-outside-of-china/11906390?pfmredir=sm&fbclid=IwAR1b6eEVyO40PNRciWByfkdk5LQDXbo2Lp3cL7WILs786TpN6S7BX6dcJI8

4 – https://fortune.com/2020/02/28/singapore-coronavirus-contained-response/

5 – https://www.publico.pt/2020/04/16/ciencia/opiniao/coronavirus-medicina-tradicional-chinesa-organizacao-mundial-saude-1912453?fbclid=IwAR3lVuCO3_wCLQJh8E8UzrQf6mHwFtfaoLBkZBVPBtM8Q2vS2rI-MuVsUNI

6 – https://www.businessinsider.com/chinese-town-breeds-millions-of-snakes-2013-3#zisiqiao-village-is-in-the-zhejiang-province-on-chinas-southeastern-coast-1

7 – https://theconversation.com/why-shutting-down-chinese-wet-markets-could-be-a-terrible-mistake-130625

8 – https://www.theguardian.com/environment/2020/feb/25/coronavirus-closures-reveal-vast-scale-of-chinas-secretive-wildlife-farm-industry

9 – https://www.project-syndicate.org/commentary/wet-markets-breeding-ground-for-new-coronavirus-by-peter-singer-and-paola-cavalieri-2020-03

11 – https://theconversation.com/chinas-legalisation-of-rhino-horn-trade-disaster-or-opportunity-106770

13 – https://weetracker.com/2020/03/28/pangolins-trade-gabon-covid-19/

16 – https://www.straitstimes.com/asia/east-asia/chinas-wet-markets-come-under-scrutiny

17 – https://www.bloomberg.com/opinion/articles/2020-04-04/coronavirus-closing-china-s-wet-markets-isn-t-a-solution

18 – http://arts.cuhk.edu.hk/~ant/hka/documents/2008/HKA2_LUI.pdf