Daniel Oliveira: a ausência de autoridade
TABELA DE CONTEÚDOS
O Daniel Oliveira é um jornalista do expresso que volta e meia gosta de escrever sobre Terapêuticas Não Convencionais e ao mesmo tempo parecer uma autoridade no assunto.
A primeira vez que comentei um artigo dele foi em 2016 quando decidiu escrever no Expresso sobre o pagamento do IVA e acabou a fazer ataques à falta de evidência cientifica com alguns termos mais pejorativos.
O artigo intitulava-se “Vou ao SNS para alinhar os chakras” e pode resumir-se na incapacidade, do jornalista Daniel Oliveira, em compreender e analisar corretamente os problemas que afetam as TNC.
Artigos posteriores vieram confirmar ainda mais a incapacidade de analisar os problemas e de propor soluções válidas.
Quando o Daniel Oliveira do Expresso tem razão
Existe um ponto em que o Daniel Oliveira tem razão, nomeadamente, o esoterismo de muitas TNC sendo que a homeopatia ganha lugar de destaque.
Esta é a bandeira de guerra de muitos céticos e com razão.
Mas neste ponto, o Daniel Oliveira não avança nada de novo a não ser mostrar-se como uma versão pobre e ignorante de outros céticos como o David Marçal.
E tal como o David Marçal e outros céticos da moda, o jornalista do Expresso Daniel Oliveira prefere manipular argumentos e simplificar demasiado muitos problemas.
Disparates à lá Daniel Oliveira
Desde 2016 que o Daniel Oliveira tem tentado escrever algo inteligente sobre as Terapêuticas Não Convencionais. Sem sucesso.
E tudo começou com a questão do IVA… em 2016!
Pagar ou não pagar… eis a questão!
No artigo do Expresso, o jornalista escreveu:
“As Finanças aceitarem durante quatro anos uma isenção de IVA para depois virem exigir o seu pagamento com juros é um assalto. Nisto, os profissionais das terapêuticas não convencionais têm toda a razão. Não a têm na exigência de um tratamento fiscal igual ao da medicina convencional.”(15)
Depois de uma chuva de criticas no Facebook sobre a análise incompetente publicada no Expresso o próprio autor foi obrigado a admitir:
“Quanto à questão do IVA, que apenas tratei superficialmente, mas que era o tema que me levou a escrever o artigo, reconheço que me faltaram alguns dados que tornam, independente da minha posição de fundo sobre o tema, o meu texto incompleto e até um pouco injusto”(14)
Não foi um pouco injusto, foi muito injusto.
Porque a vontade de cair sempre na análise facilitista da critica homeopática, impede, na maioria das vezes de se compreender a maioria dos desafios sociais do dia a dia das diferentes TNC.
Mas como a resposta do osteopata Alexandre Nunes mostra o problema da discriminação do IVA era bem mais sério:
1 – Por lei os profissionais de saúde não pagam IVA sendo que
1.1 – as TNC estão regulamentadas como profissões de saúde,
1.2 – as cédulas profissionais são passadas pela ACSS,
1.3 – os consultórios tem de estar registados na ERS,
1.4 – as TNC vem registadas na Classificação Nacional de Profissões de Saúde.
2 – Existe discriminação social, inaceitável num estado de direito, entre diferentes profissionais de saúde a aplicarem as mesmas técnicas.
A ideia que um fisoterapeuta possa fazer acupuntura sem pagar IVA enquanto um acupuntor tem de pagar IVA para exercer viola, por completo, a noção de justiça social derivada do tratamento igualitário decorrente da existência de um estado de direito democrático.
Infelizmente o jornalista do expresso Daniel Oliveira não foi capaz de reconhecer o problema de justiça social em que se deveria focar.
2 pressupostos errados
Em 2019, após um programa do prós e contras, o Daniel Oliveira decidiu seguir uma via de argumentação ainda mais radical e ignorante.
A forma como o Daniel Oliveira apresenta a divisão entre terapeutas e profissionais de saúde é no mínimo anedótica.
Escreveu:
”Quando o “Prós e Contras” põe cientistas a debater com curiosos …”
Esta opinião foi partilhada por alguns comentadores, especialmente céticos anti-TNC mais radicais.
Pedro Marques Lopes escreveu:
“No programa da RTP Prós e Contras, na última segunda-feira, houve um debate em que de um lado estavam médicos e do outro uns senhores que praticam umas aldrabices a que, estupidamente, se convencionou chamar medicinas alternativas” (1)
Seguido por Vasco Barreto que provavelmente é o médico com as ideias mais infantis de todos os céticos anti-TNC.
“A derrota pode ser declarada mesmo antes da primeira intervenção, porque quando se dá palco a um grupo de charlatões o público fica com a impressão de que eles estão ao nível dos médicos e dos cientistas. Não estão, trata-se de uma equivalência tão falsa como pôr astrólogos a discutir com astrónomos.”
Há 2 ideias que são comuns na literatura e que simplificam demasiado o problema não permitindo uma análise correta do mesmo.
Em primeiro lugar o pressuposto errado que de um lado temos cientistas, pessoas informadas, honestas e do outro charlatões, ignorantes, curiosos.
Em segundo lugar o pressuposto que de um lado está a melhor evidência científica e só a melhor evidência científica e do outro a completa ausência de evidência científica.
O próprio programa que deu origem a estes artigos (Prós e Contras) parte deste pressuposto.
Estes 2 pressupostos base estão completamente errados.
Terapeutas e profissionais de saúde
Não existe uma diferenciação entre terapeutas e profissionais de saúde ou cientistas e curiosos como se quer fazer crer.
Em primeiro lugar, muito terapeutas TNC são profissionais de saúde:
1 – O número de fisioterapeutas que também são osteopatas é muito elevado.
2 – O número de fisioterapeutas que não se identificam como osteopatas ou acupuntores mas que aplicam estas terapêuticas no dia a dia ainda é maior.
3 – O número de profissionais de saúde que aplicam estas terapêuticas é cada vez maior como se pode ver pela adoção da acupuntura pela fisioterapia invasiva, nas clinicas de dor ou na enfermagem com estratégias de tratamento não farmacológicas.
Médicos a fazerem acupuntura ou homeopatia, fisioterapeutas com acupuntura e osteopatia, enfermeiros com acupuntura, nutricionistas com fitoterapia e medicina chinesa, etc…
A ideia que os terapeutas TNC são todos contra a medicina e os médicos e cientistas todos contra as TNC também é errada.
Existem terapeutas das TNC que defendem ideias sem apoio cientifico como a homeopatia, mas também existem profissionais de saúde não TNC que as defendem.
Existem terapeutas TNC contra a vacinação e quimioterapia (mais comum na homeopatia e naturopatia) e existem terapeutas a favor dos tratamentos médicos e da complementaridade (mais comum na osteopatia).
A melhor evidência cientifica e a dualidade de critérios do costume
A ideia que todas as Terapêuticas Não Convencionais não tem qualquer fundamento cientifico está errada. Está muito errada!
Existem terapêuticas sem sustentação cientifica (homeopatia) mas existem terapêuticas com cada vez mais forte sustentação cientifica.
A osteopatia e a acupuntura são cada vez mais aceites pelas diferentes profissões de saúde e começam a tornar-se predominantes em muitas guidelines internacionais.
Para o Daniel Oliveira, e outros céticos, vem a importância da evidência cientifica que é um ponto fulcral para separar astrólogos de astrónomos, cientistas de charlatões, médicos de terapeutas…
Supostamente a fitoterapia não tem evidência cientifica para ser usada e tudo o que não tem evidência cientifica não deve ser usado como cuidado de saúde.
No entanto, 50% da medicação usada em pediatria é prescrição off label o que significa que não tem evidência cientifica.
E existe fitoterapia com evidência cientifica e clinica obtida através de estudos de caso, estudos in vivo, estudos in vitro, redes neurais, etc…
Se a fitoterapia não tivesse sucesso clinico dificilmente as farmacopeias tradicionais poderiam servir de base de trabalho para as farmacêuticas procurarem novas moléculas para patentearem.
Muitas técnicas osteopáticas e a própria acupuntura tem mais evidências cientificas a favor do que muitos tratamentos de medicina ocidental.
A apresentação destes 2 pontos de vista como completamente antagónicos e facilmente diferenciáveis é enganador.
Como em todas as áreas de saúde temos de saber trabalhar com diferentes níveis de evidência.
Como o médico Mário Cordeiro escreveu corretamente:
“Também é errado designar esta por “científica”, dado que muitas das terapêuticas utilizadas nas “complementares” são cientificamente válidas (e muitas das que nós utilizamos na “medicina ocidental” ainda carecem de prova cabal…).”
Uma bússola sem ponteiros
O Daniel Oliveira poderia ser descrito como um xenófobo politicamente correto ou um racista liberal.
No fundo um daqueles intelectuais da extrema esquerda cujas capacidade analíticas estão em constante conflito com o mundo real.
A dualidade com que analisa as questões dificilmente suporta qualquer tipo de coerência intelectual.
Em 2016 fez confusões convenientes entre bruxaria e biomecânica. Bruxas, osteopatas, homeopatas e acupuntores: o lixo é todo o mesmo.
Em 2019 voltou a cometer a mesma proeza. O Daniel Oliveira vive na ilusão que de um lado só existem bruxos e do outro cientistas.
Imagine-se se ele pensasse o mesmo do Islão?
Isso não pode acontecer pois no ideal esquerdista do Daniel Oliveira o pecado está no Cristianismo e não no Islão.
Portanto, quando os problemas com o radicalismo islâmico começaram a aparecer ele escreveu:
“…Sim, há uma guerra. Fundamentalistas islâmicos e islamofóbicos são o inimigo. Cristãos, judeus, muçulmanos e ateus que defendem a tolerância e a liberdade religiosa são aliados”(13)
Imaginem um mundo onde o Daniel Oliveira escrevesse:
“Sim, há um problema. Extremistas a favor ou contra estas terapêuticas são o inimigo. Terapeutas e profissionais de saude que defendem princípios científicos e uma discussão mais aberta são aliados!”
O daniel Oliveira tenta ser uma bússola moral e intelectual sem saber apontar para Norte ou Sul!
Método cientifico e marketing
“Nenhuma destas terapias da moda segue este método. E é isso que as defende: com a propaganda certa, podem continuar a errar eternamente. Elas sim, baseiam-se na tradição”
“Instalou-se a ideia de que a abertura a este tipo de modas é sinal de um maior pluralismo, típico de sociedades democráticas. Mas é a ciência que está predisposta a confrontar-se com o escrutínio, a experimentação, a prova e o contraditório.”
Estas comparações entre ciência e Terapêuticas Não Convencionais não poderiam ser mais ignorante.
Em primeiro lugar não tem lógica dizer que é a ciência que está predisposta a… como se esta fosse um agente causal humano.
A ciência refere-se a um sistema de obtenção e conhecimentos baseado no método cientifico.
Ou seja qualquer disciplina na qual se possa usar o método cientifico é cientifica.
Por outro lado, tanto os conceitos como os pressupostos básicos do Daniel Oliveira estão todos errados e pecam pela falta de conhecimento técnico, histórico e cientifico.
A evolução cientifica como impulsionadora da fitoterapia
Um dos factores impulsionadores da fitoterapia foi o grande crescimento e inovação nas técnicas laboratoriais nos anos 80 e 90.
Com estas técnicas era possível estudar in vivo e in vitro a ação dos fitoquímicos presentes nas plantas medicinais ou fórmulas tradicionais.
A literatura científica é extremamente rica na compreensão e análise das vias celulares usadas pelos diferentes fitoquimícos.
Técnicas mais recentes, usando inteligência artificial, como as redes neurais, não só permitem estudar a relação que os diferentes fitoquimicos fazem entre eles como estudar a relação com aspetos fisiopatológico da doença ou genéticos do indivíduo.
Estudos científicos na acupuntura
Também existem imensos estudos a demonstrar que estes mecanismos fisiológicos (especialmente no tratamento da dor), tem relevância clínica.
Ao mesmo tempo que a comunidade de profissionais de saúde não aceita ideias tradicionalistas como “meridianos” ou esotéricas como “canais energéticos” aceita abertamente a acupuntura.
Método de raciocínio osteopático
A osteopatia é outra terapêutica cuja base é puramente cientifica.
O seu método de raciocínio fundamenta-se em biomecânica e neurofisiologia.
E existem imensos estudos válidos e de boa qualidade a comprovar a eficácia de uma série de técnicas osteopáticas em diversas queixas músculo-esqueléticas.
O abandono das TNC… sim, outra vez!
“Não é por acaso que em muitos países em que os Estados cederam à pressão pública esteja a haver recuos, com sucessivas retiradas de apoios financeiros … Perceberam que os passos que tinham dado fragilizaram políticas públicas de saúde.” (2)
Lembra-se de eu ter escrito que o Daniel Oliveira era uma versão mais ignorante e pobre do David Marçal? Quod Erat Demonstrandum!
Este argumento do abandono das TNC já foi desmentido noutros artigos. No entanto gostava de ressalvar que o uso deste argumento é claramente falso e mal intencionado.
Os exemplos usados costumam referir a Espanha e o Reino Unido onde recentemente se acabou com o financiamento público à homeopatia.
Também a França tem visto um forte movimento anti-homeopatia que tem inclusivamente afetado o negócio a empresas importantes como a Boiron.
Já repararm que os exemplos são todos focados na homeopatia?
Se é verdade que o Reino Unido está a eliminar o apoio público dado à homeopatia também é verdade que um osteopata ganha tanto ou mais que um fisioterapeuta.
No mesmo Reino Unido um fisioterapeuta que saiba acupuntura tem emprego garantido e ganha mais.
E o fisioterapeuta que não sabe acupuntura vai aprender esta técnica num curso pago pela entidade patronal.
Nos EUA a osteopatia é um curso equiparado à medicina.
O diretor clínico da NASA é um osteopata.
E a acupuntura é cada vez mais usada como tratamento de primeira linha em muitos quadros de dor e cada vez mais aconselhada por um conjunto de instituições governamentais e não governamentais.
O mundo não está abandonar estas terapias como um todo. Pelo contrário.
Quando tudo se reduz ao próprio umbigo
“Defendi, por uma questão de segurança, no início deste século, a regulamentação destas terapêuticas. … Mas nunca me passou pela cabeça que elas viessem a ter qualquer tipo de equiparação à medicina. Nem que viessem, na crescente mercantilização da Academia, a ser integradas em pós-graduações de farmácia ou como disciplinas da Ordem dos Médicos. Reconheço que alguns dos passos legislativos que por cá apoiei podem ter contribuído para isto. Talvez tenha sido demasiado otimista quanto aos intentos comerciais deste sector.”(2)
Este é um dos parágrafos que prova a discrepância que existe entre o mundo real e o que o Daniel Oliveira acha que é o mundo real.
O daniel Oliveira nunca pensou no início do século que estes cursos viessem a ter qualquer tipo de equiparação à medicina?
A Sociedade Portuguesa Médica de Acupuntura foi oficializada em 2001 e os primeiros cursos de acupuntura para médicos foram reconhecidos pela Ordem dos Médicos em 2002.
E depois, o jornalista do Expresso, ainda pensa que as ações dele é que podem ter contribuído para esta situação?!
Não foram. O Daniel Oliveira não contribui-o para nada disto:
1 – A Acupuntura e a Osteopatia cresceram dentro e fora de Portugal por causa do valor cientifico e clinico destas terapêuticas.
2 – Independentemente da ideologia política do Daniel Oliveira, os centros de tratamento de dor crónica precisam de médicos com conhecimentos de acupuntura.
3 – A acupuntura médica já existia antes de qualquer legislação.
4 – A fisioterapia invasiva não foi uma invenção do Bloco de Esquerda.
Partiu da necessidade dos fisioterapeutas estrangeiros e nacionais usarem ferramentas mais eficazes para o tratamento de dor.
5 – Das melhores equipas de futebol do mundo, às principais associações médicas ou guidelines internacionais a Osteopatia e a acupuntura são cada vez mais aceites e mais recomendadas!
E nada disto tem ou teve a influência do Jornalista do Expresso.
O ataque à democracia
“A ideia justa de que todos temos direito a uma opinião transformou-se na ideia destrutiva de qualquer possibilidade de vivermos em comunidade de que todos temos direito a uma verdade.”
Daniel Oliveira“… Pelo contrário, a confiança cega na tradição e no testemunho, em que se baseia o pensamento pré-científico, é típica de sociedades menos predispostas à democracia.”
Daniel Oliveira“Quando isso finalmente acontecer, integrando-se terapêuticas não científicas nas faculdades de medicina e nas ordens profissionais, a guerra pelo progresso, que se baseou na aceitação generalizada do pensamento científico, estará definitivamente perdida. E, com ela, a civilização que permitiu a construção de sociedades democráticas organizadas em torno da razão.”
Daniel Oliveira
Para o Jornalista do Expresso a integração estas terapêuticas no SNS e nos currículos escolares representam um ataque direto à democracia.
Este ponto de vista não poderia estar mais desfasado da realidade, por vários motivos.
Historicamente simplesmente não se sustenta em qualquer precedente ou dado fiável:
1 – A homeopatia (a mais esotérica de todas as TNC) foi inventada na Alemanha há 200 anos.
Imensos médicos fazem homeopatia na Alemanha e na França é aceite por outros tantos médicos mas não é por isso que estes países sofreram retrocessos civilizacionais.
2 – A Coreia do Sul sempre aceitou formas de acupuntura e tratamentos tradicionais e tornou-se uma democracia vibrante.
3 – A acupuntura é extensamente usada no Japão democrático.
4 – O que dizer da medicina Ayurvédica na Índia? Qual foi o momento da sua transição democrática que foi afetado por esta medicina tradicional?
5 – E a Medicina Chinesa e suas terapêuticas na China?
Os momentos de adoção ou rejeição destas terapêuticas estão relacionadas em algum momento com avanços e recuos democráticos na história desta país?
Não há relato de nenhuma democracia que se tenha perdido porque adotou Terapêuticas Não Convencionais.
Além de não ter qualquer precedente histórico, é também desfasada de qualquer análise realista da atualidade:
1 – a homeopatia é cada vez mais aceite pelos farmacêuticos por diversos motivos mas em nenhum momento este facto ficou pautado pelo abandono do método cientifico por parte da classe profissional;
2 – a acupuntura tem sido abraçada por imensos profissionais de saúde.
Isto não se pautou pelo abandono do método cientifico mas sim pela implementação do método cientifico no estudo e racionalização da acupuntura;
3 – o osteopatia teve origem numa série de ideias cientificamente erradas que em nada descreve a evolução do raciocínio osteopático em termos de análise biomecânica e neurofisiológica.
Ou seja, podemos dizer que os ingleses gastaram dinheiro público desnecessariamente em tratamentos homeopáticos.
Esse dinheiro poderia ter sido importante para salvar vidas e fazer algo realmente útil. Mas dificilmente isso provocou um retrocesso civilizacional.
Em suma, o Daniel Oliveira está a criar papões para justificar o seu lugar como comentador de assuntos que não compreende nem sabe analisar.
O que realmente afeta a democracia
Existem vários fatores que são realmente prejudicial para uma democracia pluralista. Entre esses fatores destacam-se:
1 – a manipulação mal intencionada de argumentos;
2 – a análise superficial que leva a categorizações simplistas e ao preconceito;
3 – a falta de diálogo construtivo;
4 – a falta de humildade e a cegueira ideológica que nos impede de procurar pontos comuns que possam servir de ponto de partida numa discussão civilizada.
É a nossa capacidade de criar identidades comuns e dialogar construtivamente usando essas identidades que garante a sobrevivênia de uma democracia pluralista.
Mas será virtualmente impossível ao jornalista do Expresso conseguir perceber isto sem perceber que ele é uma parte importante do problema.
Os maiores movimentos anti-democracia que afetam o ocidente advêm de correntes pós-modernistas ligadas à extrema-esquerda da qual ele faz parte!
Atendendo ao seu historial politico e argumentativo dificilmente conseguirá perceber isto. Mas até ao Daniel Oliveira a democracia vai conseguir sobreviver!
Quando a falta de autoridade contesta a autoridade sem saber onde pára a autoridade
“Nulius in verba” (Não aceites a palavra de ninguêm)
Moto da Royal Society“These are dangerous times. Never have so many people had access to so much knowledge, and yet been so resistant to learning anything.”
Tom Nichols, The Death of Expertise
O jornalista do Expresso vive muito afetado pela forma como hoje se contesta a autoridade.
O ocidente passa por uma crise existencial em que a autoridade é colocada em causa mas esse problema deve ser investigado em maior pormenor noutro tipo de artigo.
Aqui interessa analisar a forma manipulava com que o Daniel Oliveira tentar usar o argumento da autoridade de forma falsa e oportunista.
Ele parte do principio que a autoridade cientifica está a ser posta em causa por bruxos anti-sistema. No entanto este pressuposto é errado.
Ao contrário do que o jornalista Daniel Oliveira quer acreditar, algumas áreas, dentro das TNC estão a ser aceites pela comunidade cientifica internacional.
Falsos pressupostos de uma questão que não gera consensos o que torna difícil definir a autoridade a seguir.
Que autoridade devemos nós seguir? Os médicos?
E nos médicos devo seguir a autoridade que me fala em trabalho conjunto (Mário Cordeiro) ou em humilhar publicamente os terapeutas (Vasco Barreto)?
Devo seguir aqueles que dizem que a acupuntura é uma fraude (João Cerqueira) ou aqueles que dizem que está comprovada cientificamente (Tiago Pacheco) (10)?
Devo seguir o cético Ernst Edzard que afirma que a acupuntura não é mais que um placebo ou a Joint Comission dos EUA que considera a acupuntura um tratamento de primeira linha?
Devo seguir sites como Science Based Medicine que não aceita a acupuntura (11) ou seguir sites como o Harvard Health Publishing que defende a eficácia da acupuntura (12)?
O moto da Royal society é
“…an expression of the determination of Fellows to withstand the domination of authority and to verify all statements by an appeal to facts determined by experiment.”
Mas como vimos, nos escritos do Daniel Oliveira não existe qualquer base factual ou experimental.
Então que autoridade tem ele para escrever sobre estas áreas?
Mais uma vez, dificilmente o jornalista do Expresso, Daniel Oliveira, alguma vez conseguirá perceber que ele é parte integrante do problema.
Reflexões finais
A maioria dos comentadores, como o Daniel Oliveira do Expresso, vive de ideias demasiado infantis e imaturas para conseguirem uma análise objetiva e séria dos problemas de saúde dentro e fora das TNC.
O mundo não é preto e branco. A divisão entre médicos e charlatões, que nos pretendem vender, é imaginária, simplista e injusta.
O preto e o branco são uma minoria num mundo maioritariamente cinzento. Mas é esta minoria que tende a monopolizar o discurso público.
É verdade que não existe sustentação cientifica, nem evidência de qualidade a suportar as alegações de algumas TNC.
É verdade que existe uma componente anti-científica em algumas áreas das TNC.
Mas apresentar todas as TNC como movimentos anti-ciência ou movimento que não aceitam ou não beneficiam do método cientifico é factualmente falsa.
Estas análises superficiais onde a generalização simplista impera facilita o trabalho de humoristas ou comentadores ignorantes e céticos mal intencionados mas dificilmente ajuda a um diálogo honesto sobre a validade cientifica das diferentes Terapêuticas Não Convencionais.
Referências Bibliográficas
(1) https://www.dn.pt/edicao-do-dia/06-abr-2019/interior/proximo-debate-televisivo-sera-que-e-o-sol-que-anda-a-volta-da-terra-10766058.html?fbclid=IwAR0GyamAE2JoCFirpkbfipzcY0Y26fvXy57sCmIoVDfFLu8RbGfRXjM-OTk
(2) https://leitor.expresso.pt/diario/segunda-25/html/caderno1/opiniao/a-ciencia-que-seja-humilde-e-deixe-o-mercado-funcionar?fbclid=IwAR2piHE_sXOpU2uNTfeYQz8aWbkyfI_L4YgFRFqjeNGhTkUq5unkUiYzboY
(3) https://www.publico.pt/2019/04/05/ciencia/opiniao/parar-charlatanice-sao-medicinas-alternativas-1868143?fbclid=IwAR0EYJpU_n2kRv3GovS_AQyMZVJmFE4DlleteZoN90GKc8ZYbbLrmw_U0xU
(4) https://observador.pt/opiniao/homeopataratas/?fbclid=IwAR3kIX89Wq5oqxFyhWtbs_2w0lUJkF9cuxBEJ6ghaOyu_aX7MQTw7IyrnLA
(5) http://cmdss2011.org/site/wp-content/uploads/2011/07/Declara%C3%A7%C3%A3o-Alma-Ata.pdf
(6) https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC6137759/
(7) https://www.bbc.com/news/technology-47279253
(8) https://www.iosteopathy.org/wp-content/uploads/2018/09/Quality-in-Osteopathic-Practice-180910.pdf?fbclid=IwAR1wEBJZvom5ESn20UZWs5lNom9KHy6XTd85kgUzsI0DfDPlHPf269NI4bg
(9) https://www.publico.pt/2013/05/02/sociedade/opiniao/medicinas-alternativas-ou-complementares-1593106
(10) https://observador.pt/opiniao/o-debate-das-medicinas-alternativas/?fbclid=IwAR0x9xBHrXwgaGKUqZfnSzzP9ivBAkMriBJ9vXTGabKzJzpqV78sEghMzqw
(11) https://sciencebasedmedicine.org/reference/acupuncture/
(12) https://www.health.harvard.edu/alternative-and-complementary-medicine/acupuncture-for-pain-relief
(13) https://expresso.pt/blogues/opiniao_daniel_oliveira_antes_pelo_contrario/2016-03-30-Europa-tambem-e-Islao
(14) https://www.facebook.com/danieloliveira.lx/posts/1139137526153693
(15) https://expresso.pt/blogues/opiniao_daniel_oliveira_antes_pelo_contrario/2016-06-02-Vou-ao-SNS-para-alinhar-os-chacras