Eles tratam sintomas, nós tratamos as causas
TABELA DE CONTEÚDOS
Eles tratam sintomas, nós tratamos as causas foi, sem dúvida, um dos slogan mais vendidos durante a minha licenciatura em medicina chinesa.
Quando se fala dos outros ou “eles” fala-se dos médicos.
Os médicos só tratam sintomas dos pacientes, segundo o pensamento de alguns, enquanto a medicina chinesa é capaz de analisar e intervir nos “desiquílibrios energéticos” por trás dessas manifestações.
Porque é que a medicina ocidental não consegue fazer o mesmo?
Porque é um produto do reducionismo cientifico incapaz de ver o ser humano na sua globalidade e ignorante face á realidade energética do paciente.
Este é um slogan que se vende para criar nos alunos uma sensação e superioridade moral, intelectual e clínica.
Há vários motivos pelos quais eu me oponho a este tipo de discurso.
Arrogância energética e o desprezo pelas conquistas médicas
Em primeiro lugar afirmar que os médicos só tratam sintomas e não conseguem chegar às causas sugere que todo o conhecimento alcançado pela medicina ocidental na compreensão dos mecanismos oncológicos e as suas diferentes terapias é um conhecimento superficial das causas que provocam o cancro.
Presumimos, então, que os genes são uma consequência e não a causa das neoplasias?
Logo a terapia genética só trata as manifestações e não as causas!!!!
E os estudos que demonstram a interação existente entre a genética e os hábitos de vida (tabágicos, alimentares, etc…) no aparecimento de diversas neoplasias?
Isso são causas ou manifestações?
Logicamente que, neste caso, uma neoplasia é uma manifestação decorrente de uma determinada informação genética associada a certos estilos de vida.
A oncologia é só a ponta do icebergue.
O que dizer do sucesso que a medicina ocidental teve no tratamento das doenças infeciosas?
Na compreensão dos seus mecanismos de acção?
Na descoberta dos agentes virais ou bacteriológicos causadores dessas maleitas?
Isso são tudo consequências?
São tudo sintomas?
E, pensem agora, nos milhares de exemplos que eu posso arranjar se aprofundar outros campos da medicina ocidental como neurologia, cardiologia, nefrologia, gastroenterologia, etc…
O esoterismo dos acupuntores ocidentais
Em segundo lugar, este discurso, denuncia uma abordagem da medicina chinesa sob uma perspectiva esotérica, tipicamente ocidental.
As pessoas são livres de acreditarem no que quiserem. Um profissional de saúde não é mau profissional porque acredita em Deus.
No entanto, pode ser incompetente quando prescinde das explicações cientificas e de uma abordagem clinica em detrimento de uma intervenção religiosa.
Em medicina tradicional chinesa é a mesma coisa.
O acupunturista ou fitoterapeuta pode acreditar no que quiser, mas pede-se profissionalismo quando analisa o paciente, sendo esse profissionalismo definido pelos seus conhecimentos clínicos e não pelas suas crenças esotéricas.
E a credibilidade do seu discurso advêm do facto de saber fazer essa distinção.
Tratam sintomas ou a realidade energética do paciente?
A afirmação inicial parte do princípio que existe uma “realidade energética” superior à análise de sintomas.
No entanto aquilo que é designado como “síndrome energético” (Vazio de Yin, Humidade-Mucosidade, etc…) não são mais do que formas de classificar sintomas.
Quando escrevo que um paciente apresenta dor por Estase de Sangue digo que esse paciente apresenta dor tipo facada, melhora com movimento, agrava com pressão e à noite.
Dor por Humidade-Calor pode traduzir-se em: dor que agrava com calor e tempos húmidos, melhora com frio, agrava com pressão, é acompanhada por sensação de peso.
Qualquer “síndrome energético” não é mais do que uma forma muito particular de classificar sintomas.
No quadro abaixo irei fazer uma comparação simples dos sintomas de uma colecistite com um padrão de Humidade-Calor no Fígado:
colecistite | Humidade-Calor no Fígado |
Dor no hipocôndrioNaúseas e vómitos
Anorexia Agravamento dos sintomas com ingestão de gorduras febre |
Dor no hipocôndrio Agravamento com palpação Sensação de peso no hipocôndrio Náuseas e vómitos Anorexia Agravamento dos sintomas com ingestão de gorduras Febre Estados de irritabilidade |
As diferenças não são muitas e encontram-se em pormenores de análise somente.
Qualquer médico ou acupunturista que enfrente estes sintomas sabe fazer o diagnóstico dentro da sua área de conhecimentos.
É evidente que a medicina chinesa é diferente da ocidental pois tem métodos de diagnóstico diferentes, terapêuticas diferentes e parte de pressupostos culturais diferenciados.
Partir daí para uma afirmação de superioridade no tratamento das causas de determinadas patologias vai uma grande distância.
Os outros tratam sintomas nós tratamos as causas mas na maioria das vezes os outros somos nós!
Síndrome ou padrão clínico e doenças
Ao longo dos anos muitos colegas chatearam-se comigo por usar termos desconhecidos como padrão clínico e criticar termos bem estabelecidos como “síndrome energético“.
Num artigo próprio critiquei esta tradução errada de qi por energia. Aqui pretendo somente mostrar que a classificação da medicina chinesa não envolve estes termos e parte sempre da ideia de coleção e sintomas.
Na obra, ON THE STANDARD NOMENCLATURE OF TRADITIONAL CHINESE MEDICINE do prof. Xie Zhufan, na página 103, relativamente “General Diagnostic Terms” é analisada a seguinte terminologia técnica:
1 – zhèng – syndrome (e também) pattern
2 – zèng míng – syndrome name
3 – biàn zhèng – pattern identification
4 – biàn bìng – disease differentiation
Ou seja na medicina chinesa são usadas 2 categorias de classificação de sintomas: doenças e padrões ou síndromes.
Raciocínio clínico e a necessidade de causa
A única afirmação correta neste campo é que a medicina chinesa tem uma forma de pensar clinicamente coerente que lhe permite diferenciar causa de manifestação, dentro do seu enquadramento teórico.
A medicina chinesa estuda a correlação e causalidade dos sintomas ao longo da timeline clínica do paciente de forma a conseguir criar um enquadramento lógico que lhe permita separar o urgente do não urgentes, a manifestação da causa, etc…
Isto não significa que:
1 – a definição de manifestação e causa da medicina chinesa seja correta;
2 – que seja superior a outras formas de análise semiológica (claramente não é!)
3 – que consiga definir corretamente todas as causas;
4 – que a sua noção de causa parta de conceitos esotéricos como “síndromes energéticos”!
Compreender os conceitos orientais de causa e manifestação
“Eles tratam sintomas, nós tratamos as causas” ou “A Medicina Ocidental (MO) só trata sintomas” são slogans de propaganda que impedem a correta compreensão dos conceitos chineses de causa e manifestação.
O que reparei ao longo das discussões no blogue, em salas de aula ou convenções, é que muitos dos colegas não faziam ideia do que significava manifestação ou causa – também se pode chamar raiz – em Medicina Chinesa.
Por “manifestação” e “causa” ou “raiz” em MTC podem entender-se várias coisas pois não são conceitos extáticos nem imutáveis.
No seguinte quadro apresenta-se de forma simplificada o que pode significar “manifestação” e “causa” em MTC.
RAIZ | MANIFESTAÇÃO |
Condição inicial da patologia | Condição posterior da patologia |
Patologia crónica | Patologia aguda |
Causa da patologia | Consequência da patologia |
Olhando para o quadro facilmente nos apercebemos que os seus diferentes significados tornam o discurso “eles tratam sintomas, nós tratamos as causas” completamente disparatado.
Tratar a “causa” pode ser impossível uma vez que pode representar uma patologia crónica sem tratamento ou a causa de uma patologia que não tenha tratamento como é a velhice – consequência natural do desenvolvimento humano – ou um acidente – algo que passou e não se pode remodelar -.
No entanto, imensas pessoas continuam a defender este tipo de discursos.
Intensidade do sintoma a definir a causa e a manifestação
Vamos supor que existem 2 pacientes: o paciente Maidong e paciente Gouqizi.
Ambos os pacientes receberam nomes de drogas chinesas que nutrem o Yin ou, não fossem eles, sofrer de um vazio de yin.
No quadro abaixo descrevo os sintomas de cada um destes pacientes.
Queixa principal – manifestação | Suores nocturnos | palpitações |
Padrão clínico – causa – vazio de yin do coração | Palpitações, insónia, agitação física e psíquica, boca e garganta seca. | Suores nocturnos, insónia, agitação física e psíquica, boca e garganta seca. |
O leitor já deve ter reparado na armadilha, pois não existe diferença nenhuma nos sintomas dos 2 pacientes.
A única diferença está na intensidade com que sentem um sintoma em particular.
Qual a diferença entre manifestação e causa neste caso especifico?
A diferença reside unicamente na intensidade com que o paciente sente determinados sintomas.
Regra geral, um paciente apresenta vários sintomas e quando recorre ao acupunctor ele refere unicamente aquele sintoma que mais o incomoda.
Quando se refere que também se tratam as causas, nos típicos discursos holisto-energéticos, procura diferenciar-se esta causa como algo além do sintomático. Não é.
A “causa”, neste caso, são todos os sintomas que coexistem com o sintoma que se manifesta com maior intensidade, ou que incomoda mais o paciente.
Tratar a causa é a mesma coisa que tratar sintomas, pois só não são queixas principais.
No entanto até este ponto de vista é redutor na MTC, porque o termo “causa” não se designa somente ao padrão clínico. O padrão clínico pode ser causa e/ou manifestação.
O que é importante reter é que quando muitos acupunctores afirmam “tratamento sintomático” se referem ao tratamento da manifestação.
Esta associação, como mostrado, não é correcta por vários aspectos:
1 – a causa, neste caso, também são sintomas;
2 – o seu tratamento é tão sintomático quanto o tratamento da manifestação, uma vez que é a presença de sintomas e a intensidade com que se manifestam que direciona o tratamento.
O problema não está só no erro de associar a manifestação a um sintoma e a causa a algo extra-sintomático.
O problema reside também em não se compreender que “manifestação” e “causa” não são conceitos estáticos e que podem ser aplicados a diversas situações.
Costumo dizer que a MTC é uma medicina de contexto, algo que passa despercebido à grande maioria das pessoas.
Da diarreia ao divórcio: um conto de manifestações e causas
Um paciente pode apresentar diarreia por vazio de qi do baço que teve origem num padrão de estagnação de qi do fígado que atacou o Baço, estagnação essa que surgiu em consequência de um divórcio litigioso.
Neste caso existe um encadeamento causal, onde “manifestação” e “causa” se confundem ao longo da história clínica do paciente.
Diarreia – manifestação; vazio de qi do baço – causa
Vazio de qi do baço – manifestação; estagnação de qi do fígado – causa
Estagnação de qi do fígado – manifestação; divórcio – causa.
Ou explicando, simplificadamente a partir da causa primária.
Um divórcio litigioso gera grandes estados de irritabilidade e maior instabilidade emocional que geram sintomas digestivos como dificuldade em fazer as digestões, enjoos, gastralgias e que com o tempo geraram sintomas como astenia física, suor espontâneo e diarreia.
Este exemplo chama a atenção para vários aspectos.
Em primeiro lugar temos a diferença entre causa e manifestação pela intensidade dos sintomas – algo já demonstrado.
Como já mostrei afirmar “eles tratam sintomas, nós tratamos as causas” é errado, dentro deste ponto de vista, porque as causas no fundo são grupos de sintomas.
Em segundo lugar, o que numa perspectiva é considerado como “causa”, noutra perspectiva é “manifestação”.
Um padrão clínico (supostamente é a causa que se quer tratar, em particular quando se pensa nele não como uma colecção de sintomas – que é o que é – mas sim como um síndrome energético – exactamente o que não é) tanto pode ser considerado “manifestação” como “causa”.
Novamente chamo a atenção para este facto que torna o chavão em causa completamente errado.
Causas sem tratamento
A sequência lógica do raciocínio anterior leva-nos a outra questão relevante pois existem causas que não tem tratamento.
Na história passada era o divórcio. No entanto podemos pensar numa série de outros problemas como acidentes de viação, desastres naturais ou outro tipo de eventos externos não controlados pelo paciente.
A nossa biologia é a responsável pela principal causa de doenças e mortes em todo o mundo: o envelhecimento.
Obviamente que este tipo de causas não são tratáveis pelo que a frase “eles tratam sintomas, nós tratamos as causas” se torna totalmente errada.
Curiosamente muitas biotecnológicas médicas começam a falar em terapias para atrasar, parar ou mesmo reverter o envelhecimento humano.
A intervenção clinica sem lógica de causas e manifestação
Um paciente tem um acidente de carro, sofreu um ataque cardíaco e morreu.
Felizmente ficou ligado à máquina e recebeu a tempo um transplante de coração e atualmente tem uma vida perfeitamente saudável.
Qual é a causa e qual é a manifestação?
Tem lógica falar no tratamento de causas e manifestação neste caso?
A medicina ocidental ao fazer o transplante tratou a causa ou a manifestação?
E se o doente tiver um enfarte devido à velhice:
o transplante é um tratamento da causa ou da manifestação?
E a medicina tradicional chinesa consegue tratar a causa neste caso?
A medicina chinesa é sintomática
Vender o slogan “eles tratam sintomas, nós tratamos as causas” de forma continua e deixamos a ideia de lado da importância do sintoma na medicina chinesa.
Como afirmado, este slogan está ligado à crença que os acupuntores tratam os desequilíbrios energéticos do corpo.
“Nós regulamos as energias do corpo”, uma vez que temos uma visão mais holista do processo fisio-patológico do ser humano.
No entanto tudo em medicina chinesa, desde a análise semiológica à aplicação de várias terapias, está dependente da presença e da relação entre uma vasta constelação de sintomas.
A teoria base e o diagnóstico sintomático da medicina chinesa
Pensemos agora nos conceitos base da MTC.
Os órgãos não têm existência real, por exemplo, pois o órgão físico é uma manifestação de um conceito mais abrangente e isto quando esse conceito tem manifestações físicas:
1 – O Triplo Aquecedor, por exemplo, não tem nenhuma correspondência física.
2 – O Pericárdio ou Mestre do Coração corresponde a um músculo na melhor das hipóteses,
3 – O Fígado é uma glândula, etc…
Quando olhamos para estes conceitos, chamados órgãos, como Coração, Baço, Fígado, etc… o que é que percebemos deles?
São formas de catalogar sintomas, da mesma forma que o são os padrões clínicos, as doenças ou o sistema de meridianos aka vasos longitudinais.
Por Coração, em MTC, compreende-se um conjunto de funções no organismo que se manifestam, quando em desarmonia, através de um conjunto de sintomas físicos e psicológicos.
O que realmente interessa é a capacidade de reconhecer os sintomas e tratá-los, saber agir.
Qualquer especialista deveria ter assente a ideia base de que a cultura chinesa é essencialmente normativa.
Ela cria teorias de forma a saber agir, a saber definir procedimentos.
E é isso que realmente interessa naquilo a que chamamos órgãos: reconhecer os seus sintomas e a melhor forma de os tratar.
Basta dispensar 5 minutos ao diagnóstico em MTC para notar que ele se baseia essencialmente na análise de sintomas e na relação que estes formam.
Sem sintomas não existe diagnóstico e por muito que algumas escolas realmente gostem de se focar unicamente em sinais clínicos como os obtidos pela língua ou pulso, dificilmente irão conseguir diagnosticar correctamente um paciente só com isso.
Não é a olhar para a língua de um paciente que eu consigo saber que ele tem dor no tornozelo que agrava com frio e melhora com calor e movimento, por exemplo.
Ironicamente vendemos o slogan “eles tratam sintomas, nós tratamos as causas” e praticamos uma forma de medicina que é essencialmente fisiológica.
O raciocínio clínico da acupuntura tradicional chinesa é sintomático
A catalogação de pontos de acupuntura em sistemas de meridianos segue uma lógica semelhante.
Os pontos pertencem a determinado meridiano devido à sua capacidade de tratar um determinado sintoma. Por isso existe algo a que chamamos patologia dos meridianos.
Desconstruir os protocolos de acupuntura tradicional chinesa ou construi-los a partir dos princípios terapêuticos não é mais que um exercício sintomático.
O seguinte protocolo foi retirado da obra de Ganglin Yin: 12VC, 6MC, 4BP, 36E, 44E, 6BP, 9BP.
Olhando para o protocolo eu sei duas coisas:
1 – em primeiro lugar que a queixa principal está associada ao estômago (neste caso seria gastrite)
2 – em segundo lugar que existe um padrão de Humidade-calor no Aquecedor Médio (AM).
Os sintomas apresentados pelo autor são:
1 – dor epigástrica tipo distensão acompanhada de sensação de queimadura agravando com ingestão de alimentos,
2 – regurgitação ácida,
3 – boca seca,
4 – sabor amargo na boca, etc…[i]
O que eu fiz foi simples: olhei para um conjunto de pontos e, através da lógica de construção de protocolos, descobri qual era a queixa principal (sintoma mais relevante) e o padrão clínico (sintomas associados) e descrevi os sintomas do paciente.
Isto parece sintomático o suficiente para o leitor?
A matéria médica chinesa também é sintomática
A Medicina Chinesa é essencialmente sintomática e o seu pensamento está feito de forma a tratar sintomas.
Se já dei um exemplo de acupuntura, permitam-me agora citar um exemplo retirado da obra “Gynecology of Traditional Chinesa Medicine”.
Neste livro da especialidade os autores, no tratamento da metrorragia e metrostaxis, devido a calor no sangue, referem os seguintes sintomas:
“Occurrence of menstrual blood not at the due time, or profuse and fulminant blood flow, dripping bleeding, bright-red or deep red color and thin texture menses, accompanied by disphoria, dry mouth, or fever, yellowish urine, constipation, red tongue with yellow fur, slippery pulse or thin and rapid pulse”[i]
Nestes sintomas é possível observar 3 categorias distintas de sintomas:
1 – sintoma da queixa principal (Occurrence of menstrual blood not at the due time),
2 – características próprias desses sintomas atendendo à forma como o padrão clínico se manifesta (bright-red or deep red color and thin texture menses)
3 – sintomas acompanhantes ou agravantes da queixa principal (accompanied by disphoria, dry mouth, or fever, yellowish urine, constipation),
4 – sinais clínicos (red tongue with yellow fur, slippery pulse or thin and rapid pulse).
Atendendo ao que disse acerca da cultura chinesa enquanto cultura normativa temos que todo o diagnóstico e terapêutica estão feitas de forma a permitir intervenções seguras baseadas nos sintomas do paciente.
Neste caso os autores aconselham a seguinte fórmula:
Radix Scutellariae (Huangqin)– 10 g
Fructus Gardeniae(Shanzi) – 6 g
Radix Rehmanniae (Shengdihuang)– 10 g
Cortex Lycii (Digupi) – 12 g
Radix Sanguisorbae (Diyu) – 15 g
Cortex Mountain Radicis (Mudanpi) – 10 g
Plastrum Testudinis (Guiban) – 10 g
Colla Corii Asini (Ejiao) – 10 g
Trachycarpi Carbonisatus (Chenzongtan) – 10 g
Nodus Nelumbinis Rhizomatis Carbonisatus (Oujietan) – 10 g
Radix Glycyrrhizae (Gancao) – 5 g[ii]
O mais curioso é que a seguir a estabelecerem a fórmula aconselham alterações à mesma de acordo com a variação sintomática que possa existir.
Desta forma os autores aconselham:
No tratamento da sede e febre adicionar:
10 gramas de Rhizoma Anemarrhenae (Zhimu)
10 g de Radix Ophiopogonis (Maimendong)
10g Radix Scrophulariae (Xuanshen)
No tratamento de hemorragia com coágulos adicionar:
10 g de Pollen Typhae (Puhuang)
6 g de Faeces Teogopterorum (Wulingzhi)
E assim sucessivamente para diferentes sintomas.
O que define a prescrição ou alteração de fórmulas, a construção de protocolos de acupuntura ou a dietética são essencialmente os sintomas do paciente.
A medicina sintomática na ausência de sintomas
Na ausência de sintomas não há doenças nem padrões clínicos de medicina chinesa.
É impossível diagnosticar um vazio de yin do pulmão sem sintomas pulmonares ou sintomas de vazio de yin!
A Medicina Chinesa só trata basicamente sintomas e não são os discursos embelezados dos seus aderentes que irão alterar esta realidade.
Não é por usarmos termos como “holismo” ou “energias” ou “desequilíbrios energéticos” que vamos negar este simples facto da MTC:
O sintoma é a razão de ser da Medicina Chinesa, é o fundamento da sua acção, é a sua essência clínica.
Será a Medicina Ocidental sintomática?
Agora que já vimos que a MTC é essencialmente sintomática e que não serve para muito na ausência de sintomas e sinais clínico deveríamos levantar outra questão:
É a Medicina Ocidental sintomática?
Será esta forma de Medicina essencialmente sintomática?
Que se baseia unicamente no alívio de sintomas?
Que não trata mais nada além disso?
A uma mulher é diagnosticada uma massa tumoral benigna na mama. Esta massa é pequena demais para ser sentida à palpação e a paciente não apresenta sintomas nenhums. É 100% assintomática.
O seu diagnóstico deveu-se a tecnologia médica de ponta que permite detectar tumores que nem são visíveis a olho nu, nem palpáveis.
Neste caso sabemos que a mulher sofre de uma neoplasia benigna da mama. Temos as provas científicas que o sustentam. A questão é esta:
O que é que a Medicina Chinesa tem a dizer sobre isto?
Os métodos de diagnóstico da Medicina Chinesa são totalmente incapazes de avaliar o estado clínico desta paciente:
1 – o interrogatório não vai denunciar nada porque ela não tem sintomas relevantes;
2 – a palpação local não vai denunciar nada uma vez que nem sequer tem massas palpáveis e mesmo que fosse palpável não daria virtualmente informação nenhuma sobre o tipo de massa!
3 – a palpação de outros sinais clínicos como o pulso ou a língua também não vai contribuir em nada.
Após diagnosticada a paciente é proposta para uma cirurgia de extracção do tumor benigno.
O tumor é extraído e a paciente fica tratada (pode ser mais complicado que isto, no entanto este artigo não pretende focar-se em todas as particularidades do tratamento do cancro da mama).
Neste caso a Medicina Ocidental, uma medicina essencialmente sintomática conseguiu tratar com sucesso uma paciente que nem sequer apresentava sintomas ao contrário da Medicina Chinesa que nem foi capaz de a diagnosticar.
A Medicina Ocidental consegue intervir com sucesso junto de doenças assintomáticas ao contrário da Medicina Chinesa que nada faz se não existirem sintomas.
Entre a medicina fisiológica e a tecnologia médica
Enquanto medicina fisiológica, a medicina chinesa, é essencialmente sintomática. Sem sintomas não existe diagnóstico e não se conseguem definir normas de ação terapêuticas.
No entanto o desenvolvimento de técnicas de imagiologia e laboratoriais avançadas permitiu um nível de diagnóstico sem precedentes à medicina ocidental.
Isto tornou a Medicina Ocidental mais independente dos sintomas do paciente.
Reflexões finais sobre “eles tratam sintomas, nós tratamos as causas”
“Eles tratam sintomas, nós tratamos as causas” é um slogan que visa aumentar a auto-estima e noção de superioridade clinica do acupuntor.
No entanto é um slogan péssimo:
1 – é arrogante porque parte da premissa que se consegue ser melhor do que aquilo que realmente somos;
2 – é ignorante porque demonstra incapacidade de pensar nos múltiplos contextos de causa e manifestação assim como uma brutal ignorância cientifica;
3 – é irónico porque uma medicina essencialmente sintomática refere ser capaz de tratar causa extra-sintomáticas e ridicularia outra medicina que efetivamente ganhou maior independência sintomática de só tratar sintomas;
4 – é divisivo pois é ofensivo para muitos profissionais de saúde, especialmente os médicos.
Não existe nenhuma realidade energética, não existe nenhuma capacidade extra-humana de tratar as causas e existem causas que nem sequer são tratáveis.
Uma coisa é certa, das duas formas de Medicina se existe uma que é essencialmente sintomática essa é a MTC.
Se isto é um motivo de orgulho ou tristeza para os seus profissionais não sei, mas muito certamente irão sentir-se indignados com estas afirmações.
Apesar dos inúmeros exemplos clínicos ou científicos que eu possa arranjar, as pessoas continuam sempre a remoer nos mesmos chavões holistas e energéticos… eles tratam sintomas, nós tratamos as causas, etc…
É caso para dizer: é sintomático.
Referências Bibliográficas
NANJING UNIVERSITY OF TRADITIONAL CHINESE MEDICINE, Gynecology of Traditional Chinesa Medicine, Publishing House of Shangai University of Traditional Chinese Medicine, Shangai, 2006
YIN, Ganglin; LIU Zhenghua; Advanced Modern Chinese Acupuncture Therapy, New World Press, Beijing, 2000
[i] Ganglin Yin, Advanced Modern Chinese Acupuncture, pág. 320
[i]Gynecology of Traditional Chinese Medicine, pág. 74
[ii] Idem, idem, pág. 75
É típico do ser humano criar divisões e tentar provar que seu lado é melhor que o outro, quando o correto seria unir forças. A medicina ocidental é importantíssima e avança a cada dia e ninguém pode dizer o contrário, mas trata o ser humano como um número e em camadas mais pobres trata somente sintomas com médicos que não olham nem na cara de seus pacientes, pois é fruto de bilhões de dólares em investimento e isso vai encarecendo o serviço ao ponto de se ter um bom tratamento somente quem pode pagar por bons médicos e bons hospitais. Que médico estudaria quase uma década para não cobrar barato pelos seus serviços? Que pesquisador investiria anos em seu trabalho para depois doar seu trabalho? Ou um investidos que gastou milhões em uma pesquisa para não prosperar no resultado? Isso encarece muito até um simples exame de imagem moderno a o resultado disso é um valor alto para uma medicina eficiente para quem pode pagar e uma medicina de sintomas para quem não pode. Por outro lado, a medicina chinesa é mais barata e cada pessoa tem um atendimento que pode durar de 30 a 190 minutos para entender todo o histórico da pessoa, levando a consultas que pode nem compensar para o profissional, devido o valor da hora do trabalho ficar muito barata, e, em alguns casos, a atenção não ser o suficiente para um atendimento do paciente. Como existe também as limitações de um exame mais aprofundado de muitos casos. O ideal seria uma junção para que uma complementasse a outra e o resultado foi o melhor para quem procurou ajuda para a saúde. A medicina natural foi o único recurso por milhares de anos e isso trás muito conhecimento, mas não vivemos mais em cavernas para dizer que a tecnologia e a ciência moderna assusta… Mas o que vai prevalecer é a disputas, o cabo de guerra. Infelizmente, que vença o mais lucrativo $$$