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marcos anatómicos pontos de acupuntura

Pontos de acupuntura

Por pontos de acupuntura (xué), entende-se uma “depressão” ou “buraco” que serve de contacto com o interior do corpo.

Na prática clínica corresponde a uma depressão localizada em regiões definidas topograficamente ao longo do corpo.

Na teoria da medicina chinesa nesta regiões acumula-se o qi e a punção dos mesmos permite garantir o livre fluir do qi.

De acordo com a mesma teoria este é um processo necessária para harmonizar funções básicas do organismo e criar homeostase interna.

Cada ponto de acupuntura possui um nome próprio.

Uma vez que os nomes chineses são mais confusos para um ocidental, é mais comum vê-lo descrito, no Ocidente, por um número e uma letra maiúscula.

Por exemplo o 4VC significa que é o 4º ponto de acupuntura do meridiano maravilhoso Vaso de Conceção (Ren Mai em chinês).

Todos os meridianos são identificados por uma maiúscula.

Isto pode trazer alguns problemas quando se lêem livros em Português, Inglês ou francês, uma vez que usam terminologias diferentes.

Neste artigo vamos usar a seguinte identificação:

Meridianos Yin do Braço

C – Coração

PC/MC – Pericárdio ou Mestre do Coração

P – Pulmão

Meridianos Yang do Braço

ID – Intestino Delgado

IG – Intestino Grosso

TA -Triplo Aquecedor

Meridianos yin da perna

BP – Baço/pâncreas sendo mais correto só Baço. Spleen (SP) em inglês.

F – Fígado

R – Rim

Meridianos Yang da perna

B – Bexiga

VB – Vesícula Biliar

E – Estômago

Meridianos extraordinários com pontos próprios

VC – Vaso de Concepção

VG – Vaso Governador

vesícula biliar na perna

Imagem: meridiano aka vaso longitudinal da vesícula biliar no membro inferior. Este é um dos 3 meridianos yang do membro inferior.

Tipos de pontos de acupuntura tradicional

Tradicionalmente existem 3 tipos de pontos de acupuntura: regulares, extra e ashi.

Regulares

Os pontos de acupuntura regulares são caracterizados por:

1 – possuírem uma localização exacta;

2 – um conjunto de acções (nutre o yin, ativa o sangue, etc…) e indicações clínicas (aliviar vómitos, dor ao urinar, etc…) específicas;

3 – pertencerem a um sistema de meridianos.

O que caracteriza o ponto de acupuntura regular não é a família de meridianos a que pertence mas tão somente pertencer a um meridiano.

Uma vez que existem meridianos maravilhosos que são constituídos por pontos de acupuntura dos meridianos principais temos que alguns pontos regulares se encontram em mais do que um meridiano.

O meridiano maravilhoso Dai Mai é constituído por pontos do meridiano do Baço e da Vesícula, por exemplo.

O meridiano maravilhoso Chong Mai é constituído por pontos dos meridianos do Rim, Vaso de Concepção ou Estômago.

Os únicos meridianos maravilhosos que possuem pontos próprios são (1) o Vaso de Concepção e o (2) Vaso Governador (Du Mai em chinês), mas falamos sempre de pontos de acupuntura regulares.

Extraordinários

De seguida temos os pontos de acupuntura extraordinários.

Existem algumas semelhanças com os anteriores, nomeadamente:

1 – possuem uma localização específica;

2 – possuem um conjunto de indicações clínicas (mais comumente descritas que as funções clínicas) próprias de cada ponto.

A grande diferença com os pontos regulares é que estes não pertencem a nenhum sistema de meridianos.

Na China eles são descritos pelo seu nome: Yintang, Taiyang, Yiqizhuixia, Zigongxue, etc…

No ocidente eles podem ser conhecidos pelo seu nome ou então por um sistema semelhante ao usado nos pontos regulares de acupuntura.

Recorre-se a um número e a diminutivos em maiúsculas sendo que o número continua a dar informação relativamente à ordem de apresentação dos pontos e as maiúsculas são usadas para dar a entender que se fala de um ponto extra e da região do corpo a que esse pontos extra pertence.

O extra Sishencong escreve-se EX-CP-1. EX significa extra; CP significa Cabeça e Pescoço. Logo é o primeiro ponto extra da cabeça e pescoço.

Existem algumas diferenças de apresentação consoante as diversas escolas.

Existem escolas que usam mais pontos extra e que os inserem mais facilmente nas suas terapêuticas.

Como tal é possível que o leitor encontre textos ou tenha aprendido uma forma de classificação ligeiramente diferente.

Pessoalmente, creio ser mais objectivo aprender os pontos extra pelo nome, uma vez que não existe tanta concordância, quanto aquela que existe nos pontos regulares.

Ashi

Finalmente temos os ashi. Estes são totalmente diferentes de todos os outros:

1 – Não tem localização especifica;

2 – não pertencem a nenhum sistema de meridiano;

3 – não tem nomes próprios nem apresentam uma grande variedade de sintomas que possam tratar.

Basicamente correspondem a regiões de dor.

A selecção de pontos de dor sempre foi uma das principais estratégias para tratar este sintoma, na Medicina Chinesa.

acupuntura é placebo dor

Imagem: uso de várias categorias faladas na clinica do dia a dia. Aqui também se podem incluir pontos gatilho que são uma forma de ashi.

Nomenclatura tradicional

Existem vários fatores que influenciam a nomenclatura que os chineses usam. Nas próximas linhas vamos dar alguns exemplos.

De acordo com a sua semelhança a elementos da natureza

Quando falamos de elementos da natureza fazemos referência a uma série de características relativas a plantas, animais, montanhas, rochas, etc… 

Vários exemplos podem ser dados.

1 – o 10P chama-se Yuji e localiza-se no bordo radial do primeiro metacarpo, a ½ distância entre os seus extremos, entre as peles palmar e dorsal.

Yuji divide-se em duas partes: Yu que significa peixe e Ji que significa bordo.

Ou seja, pode traduzir-se como o bordo do peixe, pois os chineses associam a forma do músculo palmar do polegar com um peixe.

2 – O 4IG tem um nome que se deve à sua semelhança com um vale.

Encontrando-se no bordo externo do 2º metacarpo, a ½ distância entre os seus extremos recebeu o nome de Hegu; He que se traduz por juntar e Gu que significa vale.

Ele localiza-se numa região semelhante a um vale ou á união de dois vales.

3 – Um ponto com um dos nomes mais engraçados pertence ao meridiano do Estômago.

O 35E localizado na depressão que se sente no bordo externo do tendão rotuliano (com o joelho flectido) foi baptizado de Dubi.

Du para vitela e Bi para nariz, dá-nos um nariz de vitela, pois quando dobramos o joelho a área do ponto ganha semelhanças a um nariz de vitela.


nomes de pontos de acupuntura

De acordo com a sua indicação clínica

1 – O 20IG situado no sulco nasolabial ao nível da inserção das asas do nariz é conhecido por Yingxiang: Ying traduz-se por bom e xiang cheiro.

Outras traduções possíveis seriam fragrância bem vinda ou perfume agradável.

O nome deve-se tanto à sua localização como às suas indicações clínicas.

Encontrando-se perto do nariz é um dos principais pontos de acupuntura usado no tratamento de qualquer problema que afecte este órgão dos sentidos em particular anosmia.

2 – O 29E situado a 1 cun superiormente ao bordo superior da sinfise púbica e 2 cun lateralmente á LMS é conhecido por Guilai.

Este termo significa volta para casa e as suas principais indicações clínicas fazem referência ao tratamento de problemas nos genitais e no útero.

O seu nome advêm-lhe desta última função, pelo que significa, mais correctamente, o regresso a casa da menstruação.

A planta de fitoterapia chinesa Angélica Sinensis, por seu lado, recebe o nome de Dang Gui: Dang traduz-se por Deve e Gui voltar.

Esta planta, de eleição para problemas menstruais, possui um nome semelhante ao 29E devido às suas indicações em problemas menstruais como amenorreia.

Este é um exemplo de como os nomes dos pontos de acupuntura e plantas usadas em fitoterapia se relacionam devido a uma indicação comum. 

No entanto já vi outra tradução ligeiramente diferente do 29E. Neste caso o caractér chinês poderia traduzir-se por sobe e volta referindo-se à sua utilidade em casos de prolapso uterino.

De acordo com a sua localização no corpo

1 – O 36E é capaz de ser o ponto de acupuntura mais conhecido e usado em todo o mundo.

O nome tem origem na sua localização e não nas suas imensas funções ou indicações clínicas.

Localizado 3 cun abaixo do ponto 35E e 1 cun lateralmente à crista tibial, na proeminência do músculo tibial anterior ficou conhecido como Zusanli:

1 – Zu signifa pé;

2 – San refere-se ao número 3;

3 – Li é um sistema de medida chinesa.

Este nome pode traduzir-se por 3 Li do pé ou 3 Li da perna e esta expressão faz referência à sua localização anatómica.

2 – A localização anatómica também define o nome do 11R.

O seu nome Henggu traduz-se como osso transverso ou osso púbico pois localiza-se no bordo superior da sinfíse púbica a 0,5 cun lateralmente à LMS (Linha Média Sagital).

De acordo com o padrão clínico

Quando mencionamos nomes relativos ao seu padrão clínico podemos falar de duas coisas distintas:

1 – por um lado falamos de pontos que fazem o cruzamento de dois ou mais meridianos;

2 – que tem uma função que se entende à luz da MTC (nutre o Yin em vez de tratar problemas menstruais).

Um primeiro exemplo seria o 30E, localizado no bordo superior da sinfíse púbica, a 2 cun lateralmente à LMS, recebeu o nome de Qichong.

O caractér Chong é o mesmo do meridiano maravilhoso Chong Mai; este é também o ponto de cruzamento entre o meridiano do Estômago e o meridiano Chong Mai e tem como função regular o Qi neste último.

Este é o ponto de reunião (Chong) entre o meridiano do Estômago e Chong Mai. Por outro lado o termo Qi no seu nome também indica a sua capacidade de regular o Qi no Aquecedor Inferior.

Um segundo exemplo, mais conhecido e usado, que recebeu o nome devido à sua função foi o 6BP.

Localizado 3 cun superiormente à proeminência do maléolo interno 1 dedo atrás do bordo interno da tíbia foi baptizado como SanYinJiao.

Novamente temos o caracter San que significa 3, Jiao que se traduz por intersecção e Yin mais conhecido por… Yin.

Este é o ponto de reunião/intersecção dos 3 meridianos Yin da perna (Baço/Pâncreas, Rim e Fígado).

Do mesmo meridiano, o 10BP recebeu um nome devido ás suas funções clínicas.

Localizado 2 cun acima do bordo superior e interno da rótula é usado, principalmente, para 3 tipos de distúrbios:

1 – tonifica o Sangue;

2 – ativa o Sangue;

3 – elimina calor do Sangue.

Devido a estas funções não admira que ficasse conhecido como Mar (Hai) de Sangue (Xue).

Topografia anatómica

Topografia dos Meridianos e Pontos é a disciplina responsável pela localização dos pontos de acupuntura.

Existem dois métodos para se encontrarem pontos de acupuntura:

1 – sistema de medida chinês (cun);

2 – marcos anatómicos específicos.

Estes dois métodos não se excluem, pelo contrário, complementam-se e o próprio sistema de cunho é feito a partir de marcos anatómicos.

topografia pontos de acupuntura

NOTA: anatomia palpatória é essencial para a definição de marcos anatómicos. Nesta imagem começamos a definir alguns marcos anatómicos que vão ser relevantes para o sistema de cun e a localização de pontos de acupuntura.

Marcos anatómicos mais importantes

Por marcos anatómicos entendem-se todas as estruturas orgânicas que possam servir para criar um sistema de referência.

Ossos, olhos, tendões, músculos, apófises espinhosas, linhas articulares, etc… todos contribuem com informação que permita criar um sistema de localização com informações relativas à longitude e latitude dos pontos de acupuntura.

Os marcos anatómicos ósseos são os mais importantes uma vez que os marcos anatómicos de tecidos moles podem sofrer variações.

Um exemplo que salta à vista é o mamilo usado como marco anatómico mas com muitas nuances, especialmente no sexo feminino.

As alterações que a mama sofre ao longo da vida da mulher torna o mamilo um marco anatómico muito volátil. Nesse sentido pode substituir-se por outros marcos anatómicos ou pelo sistema de cun..

Exemplos de marcos anatómicos

Marcos anatómicos faciais

Tomando o olho como exemplo podemos criar uma linha vertical na qual vamos encontrar uma série de pontos de acupuntura na face regulares e extraordinários.

1 – O Shangming localiza-se entre o supra-orbital e o globo ocular, com o paciente a olhar em frente directamente acima da pupila.

2 – O Yuyao encontra-se no meio da sobrancelha directamente acima da pupila.

3 – O 14VB que se encontra a 1 cun superiormente ao ponto médio da sobrancelha, acima da pupila.

Se dirigirmos a nossa atenção para baixo vamos encontrar pontos do meridiano do Estômago:

1 – 1E localiza-se directamente abaixo da pupila entre o osso e o globo ocular. Encontra-se oposto ao ponto extra Shangming.

2 – 2E localiza-se abaixo da pupila no foramen infraorbitário.

No entanto devemos sempre procurar o foramen infraorbitário em vez de dar tanta atenção à linha que se forma a partir da pupila pois não são raras vezes em que o foramen não se encontra alinhado com esta.

3 – 3E necessita de duas referências: a pupila (com o paciente a olhar em frente) e o bordo inferior das asas do nariz. O cruzamento destas duas linhas (latitude e longitude) dá-nos a referência necessária.

pontos de acupuntura na face

Marcos anatómicos no tronco

No tronco encontram-se marcos anatómicos de tecidos moles ou ósseos.

Várias estruturas ósseas como as costelas, clavícula, apófises espinhosas das vértebras ou espinhas ilíacas servem de referência.

Nos tecidos moles destacam-se o umbigo e os mamilos, sendo que estas estruturas podem ser usadas em conjunto.

Por exemplo o 14F e 24VB localizam-se usando os mamilos como referência e a grelha costal como referência.

1 – 14F localiza-se no 6º espaço intercostal directamente abaixo do mamilo;

2 – 24VB situa-se no 7º espaço intercostal directamente abaixo do mamilo.

A crista ilíaca e a sinfise púbica são outros exemplos de estruturas ósseas de grande importância.

Estas duas estruturas ósseas podem usar-se em conjunto para a localização anatómica de pontos de acupuntura ou em separado.

Em conjunto elas descrevem a localização do 31E.

Desenhando-se uma linha vertical descendente da crista ilíaca antero-superior e uma linha horizontal do bordo inferior da sínfise púbica localizamos o 31E.

Mas em separado também tem importância.

Ao longo do bordo superior da sínfise púbica vamos encontrar o 11R, 30E e 2VC.

Quando queremos encontrar pontos de acupuntura adjacentes a estes somos obrigados a iniciar a procura pelo bordo superior da sinfíse púbica.

pontos de acupuntura no ombro

Imagem: comparação entre 2 alunas nas diferenças de localização anatómica de pontos de acupuntura no ombro e acordo com variações de macros anatómicos.

Sistema de Cun

A grande vantagem do sistema de cun é que se adapta facilmente às características de cada paciente sendo um sistema de medidas personalizado e a grande vantagem do uso de marcos anatómicos é que permite tornar o sistema de medidas cun em algo palpável e objectivo.

Por exemplo da prega axilar anterior à prega de flexão do cotovelo vão 9 cun. Isto é idêntico a todas as pessoas. 

Não interessa se o braço é maior ou menor em centímetros porque a distância em cun é sempre a mesma.

Isto permite uma localização mais exata dos pontos usando um sistema personalizável e objetivo de localização de pontos.

Reflexões sobre as falhas práticas destes sistemas

O problema é que o sistema de marcos anatómicos está longe de ser perfeito e pode inclusivamente apresentar marcações extremamente desfasadas.

O mamilo na mulher

O mamilo foi o problema inicial detetado.

Entre a LMS (linha Média Sagital) e o mamilo são 4 cun de distância e este sistema pode ser usado para se marcarem uma série de pontos no tórax.

No entanto, o mamilo pode não ser o melhor marco anatómico em mulheres devido à variação do tamanho e forma das mamas.

A variabilidade existente na mama da mulher seja pela anatomia própria da mama seja pelos efeitos da idade na mesma tornam este sistema altamente ineficaz.

Até Peter Deadmen refere este problema ao escrever:

“in females the nipple is unlikely to lie 4 cun lateral to the midline and should not be used as a reference point”[i]

O problema das variações de tamanho e forma da mama na mulher, leva a incoerências topográficas.

Por exemplo, o 17E (estômago) localiza-se diretamente no mamilo e o 18E diretamente abaixo do 17E no 5º espaço inter-costal.

Em algumas mulheres esta descrição perde sentido e deixa de ter valor como referência anatómica.

O mamilo e a sua distância à LMS pode ser usado nos homens devido à menor variabilidade anatómica que estes apresentam mas mesmo assim surgem outros problemas.

Vários marcos anatómicos a concorrerem para o mesmo sistema de cun

Assumimos, então, que existem marcos anatómicos, na anatomia humana, que não são bons para as mulheres mas que podem ser usados nos homens.

No entanto mantêm-se a necessidade de se marcarem pontos nessa região do corpo nas mulheres.

A única forma de colmatar estas dificuldades, relativas à anatomia humana, é através do uso de outros marcos anatómicos.

Por exemplo, em vez de contarmos 4 cun da LMS ao mamilo podemos contar 8 cun da LMS à ponta do acrómio.

Ou então, pode usar-se outro sistema parecido com o dos mamilos, onde a distância de 8 cun entre mamilos é trocada pela distância de 8 cun entre o ponto médio das 2 clavículas.

Estas variações de marcos anatómicos permitem marcar pontos quando outros marcos anatómicos não permitem.

O problema surge quando se comparam as localizações dos pontos usando diferentes marcos anatómicos.

A existência de diferentes referências para o sistema de medidas cun é útil na medida que dá mais alguma capacidade ao acupuntor para encontrar os pontos de acupuntura que lhe interessam.

No entanto, na medida em que aumentam as referências anatómicas, aumenta também a discrepância entre os mesmos.

Por exemplo o leitor pode, em colegas do sexo masculino fazer a simples experiência de comparar as distâncias entre LMS, mamilo e ponto do acrómio.

Ou então comparar, mais uma vez em colegas do sexo masculino, a semelhança existente entre a marcação dos 8 cun referentes ao mamilo ou ao ponto médio das clavículas.

Se comparar os 3 sistemas de referência mencionados vai encontrar um mesmo ponto em 3 locais próximos mas diferentes e em alguns casos a distância entre cada um deles pode ser significativa.

sistema cun peito marcos anatómicos

Imagem: quando se usam sistemas de cun concorrentes na mesma região começam a obter-se localizações contraditórias.

Quando pontos diferentes tem a mesma localização

Uma outra incompatibilidade que pode surgir faz respeito à distinção dos pontosque deveriam ter localizações anatómicas diferentes.

No entanto é possível que descrições anatómicas diferentes acabem por se encontrar na mesma região.

O 20IG (Intestino Grosso) e 3E são disso um exemplo ilustrativo.

O 20IG e 3E encontram-se ao mesmo nível (linha de inserção das asas do nariz).

No entanto o 20IG encontra-se no sulco nasolabial e o 3E encontra-se directamente abaixo da pupila com o paciente a olhar em frente.

Não raras vezes estes pontos sobrepõem-se sendo este um caso onde as variações presentes na anatomia humana afetam a topografia dos meridianos.

Limitações anatómicas do sistema de cun

Outro problema que se tem de colocar está relacionado com as limitações anatómicas do sistema de cun… mesmo que este seja baseado nessa mesma anatomia.

O uso de referência dos 4 cun no abdómen é o melhor exemplo, pois existem vários tipos de sistema de cun concorrentes. Entre eles temos:

1 – 4 cun da LMS ao mamilo  – que se pode estender pelo abdómen;

2 – 5 cun da LMS à EIAS (Espinha Ilíaca Antero-superior)

Surgem agora dois problemas com a introdução deste novo sistema de medidas.

Em primeiro lugar, a marcação anatómica de pontos de acupuntura, baseado no mesmo, pode incompatibilizar-se com os outros sistemas já referidos. Não pode. Vai incompatibilizar-se.

Em segundo lugar não se pode limitar um deles a uma área do tronco. Por exemplo não podemos usar uma das primeiras medidas do tórax para marcar pontos no tórax nem as medidas do abdómen para marcar pontos no abdómen.

Fazer isto iria provocar um desfasamento na continuidade do meridiano não sendo possível ligá-lo.

Qualquer medida do sistema de cun usado no tronco tem de ser universal. Caso contrário surgem problemas relativos à localização anatómica de pontos de acupuntura.

cun abdominal e torácico

pontos de acupuntura no abdómen

Imagem: sistemas de cun abdominais e torácicos incompatibilizam-se e podem provocar grandes alterações nas descrições anatómicas do percurso dos meridianos.

Discrepâncias no membro inferior

No membro inferior encontram-se várias representações anatómicas do sistema de cun baseado nos marcos anatómicos.

Neste caso apresento algumas definições apresentadas por Deadmen, et ally, e de seguida de Ganglin Yin, et ally.

De acordo com Peter Deadmen:

  • A distância entre a proeminência lateral do grande trocanter (aproximadamente ao nível do bordo inferior da sínfise púbica) e a prega popliteia são 19 cun.
  • O tamanho da rótula são 2 cun.
  • A diferença entre a prega popliteia e o maléolo externo são 16 cun.
  • Diferença entre prega popliteia e maléolo interno são 15 cun.

Ganglin yin usa algumas medidas aproximadas:

  1. 16 cun entre a prega popliteia e o maléolo externo assim como a medida dos 19 cun;
  2. 13 cun bo bordo inferior do prato medial da tíbia até à ponta do maléolo interno.
  3. 18 cun do bordo superior da sínfise púbica até ao bordo superior do epicôndilo medial do fémur.

E Ganglin Yin limita anatomicamente a aplicação deste sistema de cun.

Na coxa o sistema de medidas de 19 cun usa marcos anatómicos da parte externa da coxa logo é usado para marcar pontos na face Antero-externa da coxa (meridianos yang como o meridiano do estômago) e usa o sistema de 18 cun para marcar os meridianos yin da coxa.

Na perna em vez do sistema de 15 cun usa um aproximado de 13 cun.

O sistema de 13 cun para os meridianos yin da perna (face interna) e 16 cun para os meridianos yang (face Antero-externa).

Ou seja, são limitados anatomicamente. A sua limitação torna-se relevante na medida que os tornam universais em determinadas regiões do corpo diminuindo a probabilidade de surgirem incompatibilidades.

Mas essa limitação anatómica só é possível devido à estrutura anatómica em si.

A forma das articulações, por exemplo, torna o membro inferior menos homogéneo que o tronco tornando mais fácil a limitação anatómica do sistema de cun.

A universalização da aplicação da medida de sistema de cun continua mas mais limitada.

Mas mesmo nestas circunstâncias surgem problemas. Levantemos a questão:

Qual a lógica de se dividir a face interna da perna em 13 cun (bordo inferior do epicôndilo medial da tíbia até proeminência do maléolo interno) ou uma medida semelhante de 15 cun (prega popliteia até proeminência do maléolo interno) e a face externa em 16 cun (prega popliteia até proeminência do maléolo externo)?

Esta lógica assenta somente no facto que as duas proeminências (maléolo externo e interno) não costumam estar ao mesmo nível encontrando-se o maléolo interno ligeiramente a cima.

No entanto esta diferença não é universal pelo que se introduz um erro logo no inicio da medição.

Esta medição só tem lógica em pacientes cujos maléolos apresentem uma diferença encontrando-se o maléolo interno numa posição superior (como é normal acontecer).

Obviamente que o problema dos maléolos é mínimo quando comparado com as diferenças observadas no tronco mas a existência dessas diferenças introduz elementos de erro.

pontos de acupuntura na perna

Imagem: discrepâncias entre modelos anatómicos e sistemas de cun concorrentes provocam grandes diferenças na topografia. Neste caso é possível observar 2 pernas de alunas com marcação de pontos de acupuntura na perna dos meridianos do Estômago e Vesícula Biliar e na discrepância entre eles.

meridianos na perna

discrepância sistema cun na perna

Imagem: nas 2 imagens acima é possível observar a discrepância existente entre os sistemas de cun na face interna vs face externa da perna. Esta diferença é feita para compensar a posição dos malévolo interno face ao externo. No entanto as grandes variedades anatómicas no ser humano fazem com que surjam sempre discrepâncias.

Um sistema biológico de números inteiros

Um ponto relevante no sistema de cun é o factor e ser um sistema de números inteiros (ou quase!).

Estranho? Como é que existe um sistema de medidas de números inteiros num organismo biológico?

O sistema de cun é baseado em números inteiros, assim como a localização dos pontos de acupuntura.

No ante-braço encontramos descrições como: “1 cun superiormente…”, “1 cun lateralmente 2 dois cun superiormente…”, “2 cun inferiormente a…”, etc…

marcos anatómicos e sistema de cun no braço

Por vezes, como acontece nos pontos shu das costas pode falar-se em números inteiros divididos ao meio.

O ramo interno da bexiga fica a 1,5 cun lateralmente à LMS (Linha Média Sagital).

Mas a maioria dos pontos de acupuntura encontram-se espaçados entre eles ou entre os marcos anatómicos usados para os encontrar por números inteiros.

Dificilmente se encontram pontos de acupuntura regulares a “1,34756 cun de…” ou “0,945 inferiormente a…”, ou “3,0125 cun lateralmente a… e 2,777 cun inferiormente a…”

Estas descrições não existem na topografia de pontos de acupuntura.

Se estas localizações existissem seria impossível encontrar pontos de acupuntura.

Quem iria decorar estas localizações todas e como seria possível medi-las a olho?

E como seria possível arranjar concordâncias entre as diferentes escolas para as centesimais quando nem concordância tem relativamente a localizações mais macroscópicas?

pontos de acupuntura nas costas

Uma realidade óbvia

Parece óbvio olhando para o sistema de cun e para a descrição da localização de pontos que estamos perante uma convenção social.

O sistema de medidas cun permite criar um sistema de grelhas linear ao longo do corpo que facilita a procura de pontos.

O sistema foi criado para ser objetivo, simples e eficaz em termos de operacionalização clinica diária. Daí a importância da topografia de pontos de acupuntura.

É fácil procurar o ponto de acupuntura 6MC (pericárdio) localizado 2 cun superiormente à prega de flexão do punho entre os tendões dos músculos flexor radial do carpo e longo palmar.

Basta-me, para tal, usar o sistema de medidas cun e os marcos anatómicos.

Entre a prega de flexão do cotovelo e a prega de flexão do punho existem 12 cun.

Se dividir o antebraço ao meio fico com 6 cun e se dividir essa metade ao meio fico com 3 cun.

Depois é fácil pegar nesses 3 cun dividi-los e contar somente os 2 cun que me interessam entre os tendões dos músculos referidos.

Com um pouco de prática e não são precisos mais de 3 segundos para chegar à meta.

O que aconteceria se o ponto de acupuntura se encontra a 2,31895 cun superiormente a…?

Não faço a mínima ideia mas de certeza que seria muito difícil encontrá-lo.

E provavelmente começariam a surgir aproximações por defeito… até chegarem a números inteiros.

A questão a que invariavelmente nos leva este raciocínio é simples:

se a localização dos pontos são convenções sociais (assim como o número de pontos num meridiano ou o número de meridianos regulares) então tem lógica considerar todos esses pontos de acupuntura como reais?

Se a topografia de pontos de acupuntura é uma convenção social construída no seio da cultura chinesa então falamos de algo que pretende chamar a atenção para uma determinada função (pontos próximos tem indicações clinicas semelhantes) dando uma lógica cultural como normas de ação bem definidas que sejam pragmáticas, acessíveis e úteis… como o sistema de cun e os pontos localizados através de números inteiros.

Isto não são necessariamente boas notícias para todos aqueles que acham que os meridianos e os pontos de acupuntura existem e já foram descobertos em estudos científicos.

Mas é uma boa introdução para a próxima parte do artigo.

Entre as convenções sociais e a realidade biológica

Recentemente surgiu um artigo[1] a afirmar que tinham provado a existência de pontos de acupuntura.

O artigo em questão tem o título “X-ray phase-contrast CT imaging of the acupoints based on synchrotron radiation Liu” e foi publicado no Journal of Electron Spectroscopy and Related Phenomena.

Para compreendermos esta questão precisamos de história, ciência e criatividade.

Um artigo polémico

Este artigo é polémico por uma série de fatores. Alguns próprios do artigo e outros relacionados com tudo o que se passa à volta.

Em primeiro lugar foi publicado numa revista com um factor de impacto muito pequeno: este factor de impacto pequeno significa que não há muitos investigadores interessados em mencionar os artigos publicados.

Isto por si pode não querer dizer nada pois precisamos analisar o artigo mas também pode querer dizer que a revista foi escolhida de propósito de forma a conseguir publicar o artigo.

Em segundo lugar está muito mal escrito e muito mal explicado.

O mau inglês do artigo não fala especificamente sobre o conteúdo do mesmo.

Mas quando aliado a uma revista de baixo impacto começa a levantar algumas suspeitas.

O verdadeiro problema está naquilo que não explicam, ou explicam erradamente. 

Existem, na minha opinião, 6 grandes falhas no artigo:

1 – baseia-se muito na análise do que é o CT mas quase não elabora nenhum raciocínio acerca dos pontos de acupuntura relacionados com a amostra usada no estudo.

Na realidade apresenta alguns erros incríveis, por exemplo, menciona que na área afetada só existem dois pontos de acupuntura quando na realidade existem outros.

O estudo aborda os pontos 36E e 37E e entre esses dois pontos existe, por exemplo, o ponto extraordinário lanweixue.

Ou seja, estão descritos pontos de acupuntura na área que os autores referem não ser de pontos de acupuntura.

2 – em princípio removeram parte do músculo tibial anterior do coelho (ou equivalente).

Como é que marcaram os pontos para os compararem com as imagens?

Os autores não explicam como fizeram isto e esta questão é relevante porque os pontos tem de ser marcados com referência a marcos anatómicos fora do músculo – como vimos anteriormente.

Seria virtualmente impossível aos autores do estudo localizarem os pontos a partir do pedaço de músculo recolhido.

Houve marcação prévia dos pontos ou os autores focaram-se somente em procurar duas regiões que pudessem corresponder aos pontos referidos?

Pelo que os autores descreveram eles limitaram-se a remover o músculo e a fazer estudos imagiológicos.

3 – Na discussão dos casos eles referem que os pontos 36E e 37E encontram-se em meridianos diferentes.

No entanto este estudo não prova a existência de meridianos, na realidade ele foca-se na existência de pontos que é uma coisa diferente.

Os autores confundem este aspeto e esquecem-se de mencionar que de acordo com a teoria do sistema de meridianos os dois pontos em causa pertencem ao mesmo meridiano (vaso longitudinal).

4 – os autores referem que no local dos pontos existe uma agregação micro-vascular que não é visível nas outras regiões que não contêm pontos de acupuntura.

No entanto estão descritos pontos de acupuntura nas áreas mencionadas.

Por outro lado, sabemos que alguns pontos se encontram em junções neuro-musculares mas muitos outros nãos e encontram nessas junções pelo que estas não podem ser usadas como explicação última da existência destas estruturas.

5 – eles generalizam os seus achados: pegaram na informação de 2 pontos de acupuntura (informação essa que está errada) e generalizaram para: existe micro-agregação de vasos em pontos de acupuntura.

E que tal fazermos a experiência para todo o meridiano do estômago em vez de somente dois pontos?

Será que os pontos localizados no abdómen apresentam as mesmas características que os localizados na perna (mesmo por cima do nervo peroneal profundo)?

6 – a amostra parece estar dividida em cun, sendo estes descritos como áreas não pontos.

De acordo com a teoria chinesa existem 3 cun a separar os pontos 36E e 37E, mas na amostra existem 2 cun.

Os autores não explicam se a amostra está dividida de acordo com os cun ou não, mas passam esta ideia.

Em terceiro lugar, o estudo foi patrocinado pela Fundação Nacional de Ciência Naturais da China, sendo que o resultado deste tipo de estudos pode ser relevante para futuros apoios de investigação.

E este resultado adapta-se perfeitamente à propaganda política de Beijing.

localização anatómica no ombro

 

O que são pontos de acupuntura?

Para saber se estas estruturas existem devemos primeiro perguntar o que são.

Qual a sua natureza?

Falamos de um só fenómenos fisiológico ou de um agregado de fenómenos fisiológicos?

É impossível provar a existência de algo que não se sabe definir.

Tradicionalmente, os pontos de acupuntura são depressões onde o qi do meridiano se acumula.

No entanto esta é uma explicação tradicional, não científica, e à qual nenhum investigador dá o mínimo de seriedade.

Para nós é inútil porque simplesmente dá uma definição vaga que não se pode estudar e está dependente de um conceito (qi) que também não tem objetividade:

1 – O qi é um conceito abstrato que não se presta a objetivações científicas;

2 – Representa uma ideia cujos significados podem variar consoante o contexto em que se emprega;

3 – Não é medível como deveria ser para se poder provar que existe e que se acumula em depressões especificas.

Mesmo não usando a definição mais tradicional e vaga podemos começar a estudar estas entidades pela sua classificação tradicional.

Tradicionalmente existem 3 tipos de pontos de acupuntura como vimos no início deste artigo

Regulares: tem localização especifica, indicações clinicas bem definidas e pertencente a um sistema de meridianos.

Extraordinário: igual ao anterior com a diferença que não pertence a nenhum sistema de meridianos.

Ashi: região de dor pois qualquer região dolorosa é considerada ponto de acupuntura.

Esta classificação tradicional indica que não falamos de uma entidade mas sim 3 entidades distintas.

Podem estas 3 entidades ter a mesma explicação fisiológica?

Tem de ter 3 explicações fisiológicas distintas?

Dentro de cada entidade pode existir mais do que uma explicação fisiológica?

No caso do pontos de acupuntura regulares a sua existência está dependente da existência de um meridiano.

No entanto, analisando a evolução histórica da medicina chinesa facilmente percebemos que os meridianos não tem existência própria, sendo construções sociais que permitiam aos chineses compreender o mundo e definir uma teoria que lhes permitisse definir normas de ação clinica.

Neste caso os pontos de acupuntura regulares não existem pois por definição são parte integrante de algo que não existe.

O mais curioso é que o meridiano não é mais do que uma forma de classificar pontos de acupuntura com indicações clinicas semelhantes.

Ou seja, junta alguns pontos de acupuntura numa categoria de forma a conhecer melhor as suas funções e depois dá uma definição desses pontos dependentes da categoria que se inventou para os conhecer.

Em segundo lugar podemos assumir que os regulares existem tal como os extraordinários, pois ambos partilham de duas características muito importantes:

Localização e indicações clinicas bem definidas.

No entanto os ashi não partilham das mesmas características. A sua localização está definida a partir da localização da dor e sem dor não existem ashi.

Os pontos de acupuntura ashi existem e deixam de existir consoante a presença de dor.

A existência volátil dos ashi contrapõe-se fortemente com a existência continua das outras 2 classificações. Isto indica que os pontos de acupuntura nunca tiveram uma definição universal.

Podem existir ou não, podem ter uma localização exata ou não, podem ter um conjunto de indicações clinicas ou não. Dificilmente se prova algo com abstrações filosóficas tão grandes.

Mas surge a questão: é possível estudar a existência destas entidades?

12 tipos de acupuntura

Podemos estudar pontos de acupuntura?

Mesmo com todas as considerações que se fizeram nas linhas anteriores é possível tentar estudar pontos de acupuntura regulares e extraordinários.

O facto de se dar uma localização exata dos mesmos assim como indicações clinicas próprias torna-os objetiváveis para a ciência.

Isso tem sido feito e tem-se descoberto que em muitos pontos de acupuntura existem alterações em termos de condutividade elétrica.

Também se descobriu que existe grande correspondência com pontos gatilho.

No entanto estas descobertas levantam alguns problemas:

1 – Imensos pontos de acupuntura não apresentam alterações de condutividade elétrica.

2 – Imensos pontos de acupuntura não correspondem a pontos gatilho.

Podemos considerar como pontos de acupuntura todos os pontos que não correspondem a pontos gatilho ou que não apresentam alterações de condutividade elétrica?

Ou terão obrigatoriamente de ser pontos gatilho ou pontos com alterações de condutividade elétrica?

Por outro lado é errado pegar nos pontos gatilho e em regiões com alterações de condutividade elétrica e englobá-los todos na mesma caracterização de pontos de acupuntura, quando na realidade falamos de dois fenómenos fisiológicos completamente diferentes.

Não podemos considerar os pontos de acupuntura localizados em regiões de menor condutividade elétrica como verdadeiros pois isso iria definir como falsos todos os outros.

Não podemos fazer o mesmo com a correspondência com pontos gatilho pela mesma razão.

Ou seja, não existe um fenômeno fisiológico global associado ao conceito “ponto de acupuntura”.

Pode-se argumentar que ausência de prova não é prova de ausência, no entanto este seria um argumento com o objetivo de mandar areia para os olhos.

A defesa da existência de entidades fisiológicas como os pontos de acupuntura não se pode sustentar neste tipo de argumento, pois o ónus da prova não está do lado céptico mas sim dos que defendem a sua existência.

Não se pode, num pensamento científico continuar com uma definição mais tradicional baseado em grande parte em  convenções sociais e depois usar o argumento da ausência de prova!

E até ao momento presente ninguém conseguiu demonstrar a sua existência.

pontos de acupuntura no ombro

Reflexões finais

Os pontos de acupuntura entendem-se como entidades que ajudam a categorizar dados e a definir regras de ação. Estas 2 características são essenciais numa cultura normativa como a chinesa.

O uso de marcos anatómicos e a forma como o sistema de cun foi criado para colmatar as fraquezas dos marcos anatómicos ajuda a definir normas de ação.

Mas obviamente que o sistema topográfico, o sistema de meridianos ou o ponto de acupuntura não foram criados a pensar numa análise objetiva ou como modelos explicativos da realidade. 

Os chineses pegaram em observações de fenómenos fisiológicos completamente diferentes, usaram de convenções sociais para estabelecerem o melhor possível um corpo teórico e criaram conceitos que dessem sustentação a esse corpo teórico.

Ao longo do tempo adaptaram novas observações clinicas com os conhecimentos antigos sem nunca abandonar os mesmos acabando com distinções que tornaram mais complexos os conceitos originais.

Por exemplo existem 364 pontos de acupuntura regulares porque existem 364 dias do ano.

O seu número está definido por critérios culturais como sendo a noção de micro-cosmos e macro-cosmos chinesa.

Como tal todos os pontos de acupuntura descobertos posteriormente foram classificados como extraordinários.

Não tem lógica pensar nestas 2 categorias (regulares e extras) como conceitos fundamentalmente diferentes.

O resultado final é uma abstração cultural com alguma utilidade clinica mas sem objetivação científica.

Isto não significa que não existam particularidades fisiológicas interessantes.

Mas neste caso precisamos dar atenção a essas particularidades fisiológicas e não à leitura que a cultura chinesa fez das mesmas.

1 comentário em “Pontos de acupuntura: 3 categorias e muitas dúvidas existenciais”

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