Céticos anti-TNC e terapeutas anti-ciência
TABELA DE CONTEÚDOS
Por céticos anti-TNC compreende-se um conjunto de pessoas para quem só existem terapeutas anti-ciência e que são totalmente contra estas terapias. Regra geral, só conseguem compreender estas terapias num prisma esotérico e anti-científico.
Por terapeutas anti-ciência compreende-se um grupo de pessoas que são profissionais de terapias não convencionais, abraçam crenças esotéricas e não aceitam o conhecimento cientifico.
Entre estes 2 extremos existem inúmeros profissionais de terapias não convencionais, profissionais de saúde, doentes e curiosos que tanto aceitam a ciência como algumas destas terapias.
Existem osteopatas que não aceitam nem acreditam na homeopatia, médicos e fisioterapeutas que fazem acupuntura, acupuntores que se focam principalmente em abordagens cientificas da acupuntura, etc…
Este artigo foca-se na descrição destes grupos extremistas, com maior ênfase nos céticos anti-TNC.
Compreender os céticos anti-TNC
Uma lista dos céticos anti-TNC mais conhecidos e mais dinâmicos na sociedade portuguesa incluiria nomes como: António Vaz Carneiro, João Júlio Cerqueira (aka Scimed), David Marçal, Daniel Oliveira, Carlos Fiolhais e autores Comcept.
Quando estudamos o background cultural e profissional dos céticos anti-TNC notamos vários pontos relevantes:
1 – Regra geral, tem boa a excelente formação científica (sendo a excepção o Daniel Oliveira);
2 – Alto sentido ético e associam este sentido à sua posição científica;
3 – Acreditam na defesa do interesse da saúde pública;
4 – falta de formação em saúde ou em áreas muito especificas da saúde;
5 – Cometem os mesmos erros argumentativos e lógicos que qualquer pessoa, especialmente os terapeutas anti-ciência;
6 – Tem uma visão mais hierárquica e estruturada da sociedade.
7 – e não trabalham para empresas farmacêuticas, nem fazem parte de nenhuma teoria da conspiração contras as terapias não convencionais!
A oposição fundamental nasce da percepção da recusa de aceitação dos princípios científicos, por parte dos terapeutas anti-ciência, que moldam o conhecimento que garante a sobrevivência e desenvolvimento das nossas sociedades.
E em muitos pontos tem razão:
1 – manipulação de ideias e conceitos científicos (energias e água com memória);
2 – posições sociais anti-científicas como o apoio a grupos anti-vacinação (que continuam apesar dos surtos de Sarampo ou a menor taxa de vacinação entre aderentes das medicinas complementares).
Como os céticos se vêm | Como vêm os terapeutas anti-ciência |
---|---|
Formação científica é essencial | Sem formação científica |
Alto sentido ético | Vendedores de banha da cobra |
Defesa do interesse público | Interesse público está dependente das suas crenças |
Argumentos baseados me ciência e lógica | Manipulação de conceitos científicos e teorias da conspiração |
Ouvir os céticos ant-TNC e compreende-los é essencial para se compreender os seus pontos argumentativos fortes, os seus valores e a suas fraquezas lógicas e argumentativas.
Discutir com os céticos anti-TNC
Pontos fortes: formação cientifica
O grande ponto forte é a sua formação científica com a adoção de um método de crítica racional.
É fácil para Carlos Fiolhais criticar os discursos energéticos de muitos acupuntores, assim como é fácil para David Marçal criticar as ideias de que os químicos são maus e o que é natural é que é bom.
Esses slogans, muitos vendidos por profissionais das terapias não convencionais, entram diretamente na área de saber desses críticos e permitem-lhes desmascarar imediatamente aquilo que surge como um discurso ignorante e fraudulento.
O conhecimento científico está associado à procura da verdade e qualquer forma de manipulação nunca será aceite.
A ciência procura sempre defender-se dos dogmas da religião e mágicos sem escrúpulos e os céticos vêem-se como herdeiros dessa tradição racionalista.
A religião e o pensamento mágico não só são inúteis, como cientificamente contrapruducentes e socialmente lesivos.
Para os céticos anti-TNC, os terapeutas anti-ciência, são os mesmos mágicos ridicularizados por Plínio e desmascarados por Lavoisier.
São o reflexo de crenças antigas que se justificavam em filósofos como Hipátia ou Kepler pelo tempo em que viveram mas não pelo tempo em que se vive atualmente.
Qualquer forma de pensamento que pretenda destruir a objetividade e imparcialidade científica será sempre vista como um ataque à ciência.
Por isso, o recente campo do pós-modernismo tem sido constantemente atacado por vários cientistas desde Richard Feynman, Alan Sokal, Jean Bricmont ou António Manuel Batista.
A aceitação social do relativismo pós-moderno, por muitos terapeutas anti-ciência só aumenta a desconfiança dos críticos em relação a estas áreas.
Pontos fracos
Discussões técnicas
O conhecimento técnico, de muitas destas áreas, é um dos seus pontos fracos, sendo que muitos acham que não é necessário.
Se a água com memória é uma farsa científica então qual a necessidade de saber como o homeopata faz o diagnóstico?
Apesar deste tipo de argumentação ser válida para a homeopatia, torna-se desvantajosa quando aplicada à acupuntura ou osteopatia.
Critica-se a osteopatia com base em algumas coisas que o Still afirmava e não com base na neurofisiologia e biomecânica subjacente ao diagnóstico osteopático.
O David Marçal, Scimed ou Carlos Fiolhais simplesmente não tem conhecimentos para um discussão técnica a este nível.
Os céticos das redes sociais ainda menos. Recentemente, no grupo de Facebook “O cético responde” falou da osteopatia como se esta acreditasse em meridianos!
Os céticos anti-TNC, nas críticas que fazem, tem de usar definições de acupuntura que não tem fundamentação técnica ou cultural porque é a única forma que tem de utilizar argumentação dentro dos moldes científicos que desejam usar.
Eles não são contra a acupuntura no sentido que inserir uma agulha no corpo inibe a libertação de citoquinas pró-inflamatórias e liberta citoquinas anti-inflamatórias.
Os céticos anti-TNC são contra a acupuntura que punciona pontos de acupuntura pertencentes a canais energéticos no corpo e que equilibram energias no corpo.
As definições de acupuntura que o Scimed usou, em discussões recentes comigo, eram infundadas e ridículas porque nunca se basearam na técnica mas sim nesta forma de ver o mundo.
Muitos críticos são contra a acupuntura mas não se fala em neuromodelação periférica, eletrólise percutânea, estimulação elétrica nervosa percutânea (PENS) ou qualquer outra forma de acupuntura que tenha uma explicação mais científica.
Por isso para o Scimed a acupuntura elétrica não é acupuntura (este autor tem uma realidade muito própria!).
Para muitos céticos anti-TNC, o potencial clínico da técnica e a definição da mesma confunde-se com os princípios ideológicos que alguns profissionais advogam, especialmente os terapeutas anti-ciência.
O exemplo mais prático terá sido, quando, em 2019, numa discussão na página pública do Scimed, um cético anti-TNC argumentava que os acupuntores nunca apresentavam estudos científicos a comprovar efeitos neurofisiológicos da acupuntura.
Quando lhe apresentei 5 estudos interessantes a resposta foi clara: “prefiro esperar pelo resumo”.
Estudos científicos
É comum ver criticas a referir que os acupuntores nunca mostram estudos e quando apresentam estudos, são estudos sem qualidade. E muitos céticos costumam ridicularizar a posição de muitos terapeutas, com alguma razão.
No entanto há aqui várias estratégias pouco honestas:
1 – existem problemas em muitos estudos no que se refere a definições de acupuntura “verdadeira” e a acupuntura “falsa”.
Na realidade, estão descritos imensos formas de acupuntura falsa (sham) que correspondem a técnicas válidas de acupuntura e nenhuma se mostrou ser fisiologicamente inerte.
2 – Outro problema, que se finge não existir, está relacionado com os resultados clínicos da acupuntura.
Na maioria dos estudos, no tratamento da dor, os resultados clínicos da acupuntura são superiores ao tratamento médico usual.
A acupuntura ficou conhecida como Rei dos Placebos porque era a única forma de explicar os seus benefícios clinicos ao mesmo tempo que não se conseguia diferenciar os resultados clinicos da “verdadeira” e “falsa”.
Os céticos anti-TNC evitam estes 2 factos para poderem fazer afirmações simplistas que ficam difíceis rebater porque falamos com pessoas sem grande conhecimento técnicos e sem vontade de aceitar a sua existência.
Mas são estes 2 factos aliados à segurança da técnica e relação custo-benefício que fazem com que seja cada vez mais adotada pelas guidelines internacionais no tratamento da dor e por mais profissionais de saude.
Isto também explica a razão pela qual, os céticos anti-TNC, se refugiam constantemente no mesmo tipo de fontes (Steve Novella, Edzard Ernst, Cochrane) ou fazem cherry picking de artigos convenientes.
Porque qualquer análise da maioria das meta-análises disponíveis e dos estudos publicados seria muito positiva para algumas terapias não convencionais como a acupuntura ou a osteopatia.
Falta de experiência clínica
A sua formação cientifica torna-os particularmente úteis para detetar fraudes imediatas como água com memória ou energias imaginárias mas a falta de formação e experiência em saúde faz com que não sejam capazes de discutir a acupuntura e a osteopatia nas suas componentes biomecânicas e neurofisiológicas.
De todos os céticos anti-TNC mais famosos, o Carlos Fiolhais é Físico Teórico, o David Marçal é bioquímico, o Daniel Oliveira é Jornalista e os poucos membros da Comcept, que conheci, não tem experiência em saúde.
Só 2 céticos anti-TNC mais conhecidos são médicos; um é médico de família e outro é de medicina interna.
Nenhum deles está habituado a tratar problemas músculo-esqueléticos.
Por exemplo, nenhum deles compreende a importância do estudo do padrão respiratório no tratamento do túnel cárpico nem sabem diferenciar a necessidade de uma abordagem mais centrada na mobilidade neural ou articular ou entre uma abordagem mais localizada ou mais funcional.
Por outras palavras nenhum deles compreende a necessidade de integrar abordagens mais invasivas e menos invasivas no tratamento do nervo e das interfaces anatómicas relevantes para o percurso desse nervo.
Nenhum deles aprendeu formas de pensar que permitem fazer uma leitura integrada de todas as componentes (nervosa, ligamentar, articular, muscular, fascial, etc…) envolvidas nas queixas dos pacientes.
Acupuntores (alguns…), osteopatas e fisioterapeutas, com formação nestas áreas, é que conseguem compreender esta abordagem, não porque abraçam uma qualquer ideologia anti-científica mas porque compreendem que podem olhar para o mesmo problema sob novos prismas sem violar os princípios lógicos exigidos por uma cultura científica.
A opinião de céticos anti-TNC médicos que não lidam com casos onde a acupuntura e osteopatia são úteis, está desafasada da opinião dos seus colegas que lidam frequentemente com indicações clínicas destas áreas.
Os terapeutas anti-ciência
Muitos céticos devem achar desonesto, da minha parte, estar a acusá-los de falta de formação em saúde ou de não terem capacidade de desenvolverem discussões muito técnicas quando muitos terapeutas anti-ciência são claramente piores.
E, pessoalmente, considero que os céticos anti-TNC tem sempre razão, quando discutem com a maioria dos terapeutas anti-ciência.
Estes, além de terem os mesmos pontos fracos dos céticos também falham redondamente a nível da formação e cultura cientifica.
A maioria dos céticos anti-ciência, não falha porque se opõe às posições mais radicais e crenças mais irrealistas de muitos terapeutas anti-ciência mas porque assumem que todas as terapias não convencionais e todas as abordagens são anti-ciência.
Não são. Existem acupuntores que acreditam em energias imaginárias e acupuntores que procuram estimular os mecanismos neurofisiológicos associados a esta técnica.
Os homeopatas acreditam que a água tem memória ao mesmo tempo que os osteopatas pensam em neurofisiologia e biomecânica.
Fatores que fundamentam as críticas dos céticos anti-TNC
O que gera estas críticas, este descontentamento crescente nas redes sociais?
Quando olhamos para a evolução dos movimentos anti-acupuntura vemos que tem sofrido alterações.
Se antes eram feitos por uma maioria de profissionais de saúde hoje são feitas maioritariamente por céticos, muitas vezes, sem o mínimo de experiência profissional em saúde.
As profissões de saúde que eram tão céticas em relação à técnica da acupuntura, há uns anos, são hoje das suas maiores defensoras:
1 – cada vez maior aceitação desta terapia pelas associações médicas a nível mundial, pelo seu uso por várias especialidades (reumatologia, anestesia, etc…);
2 – outras profissões (fisioterapia, podologistas, enfermagem, etc…)
3 – aparecimento de novos tratamentos médicos (neuromodelação periférica no tratamento de bexiga neurogénica, etc…).
Mas, ao mesmo tempo, que a acupuntura como técnica é aceite por estas profissões, os seus profissionais são desprezados como bruxos.
Os profissionais de saúde que aprendem acupuntura preferem usar outras terminologias que os diferencie dos acupuntores.
Ao mesmo tempo que os céticos anti-TNC criticam os acupuntores, não falam sobre punção seca feita por médicos e fisioterapeutas.
Temos de perguntar, então, o que gera estas críticas?
O efeito da falta de regulamentação e pressões económicas no ensino
Em primeiro lugar ausência de regulamentação fez com que qualquer pessoa pudesse abrir uma escola nas condições que imaginava.
Em segundo lugar as pressões económicas a que as instituições de ensino se encontravam expostas fez com que a qualidade de ensino, muitas vezes tivesse de baixar os níveis idealizados para conseguir sobreviver.
Neste contexto, vingaram escolas onde o preço barato e a ilusão do conhecimento eram suficientes para formar qualquer um.
Estes factos tornaram a classe permeável a práticas pouco científicas, menos responsáveis e menos capazes de atuar credivelmente num espaço académico.
Isto é visível não só nas crenças de muitos terapeutas anti-ciência como na sua incapacidade de dialogar abertamente sobre os fundamentos do seu trabalho.
O esoterismo escolástico
Por muito que nos ofenda, temos de ser capazes de admitir o excesso de conceitos esotéricos em muito currículos escolares.
Diferentes terapias terão diferentes graus de esoterismo associado, mas é inegável a sua presença e a influência que teve na seleção artificial de muitos alunos.
Alunos mais esotéricos e com menos formação científica vingaram neste tipo de cursos enquanto que os alunos com maior formação cientifica desistiram.
No final, este esoterismo escolástico é responsável por termos uma classe de acupuntores que trata energias, chama nomes nas redes sociais em grupos fechados mas não é capaz de discutir abertamente com cientistas, profissionais de saúde ou céticos.
Gurus e manutenção do status quo
Fica um pouco difícil defender uma prática como a acupuntura quando temos gurus que vão à televisão dar a entender que se tratam hérnias a “regular a energia do rim”.
Esta imagem da profissão é apresentada como universal e nunca se viu um programa de televisão onde os acupuntores discutissem as suas diferentes visões.
É sempre passada uma visão monocórdica, irrealista e indiscutível da classe.
Esta diferença, entre a idolatria pessoal e o valor objetivo do conhecimento, é um dos pontos que nos separa dos céticos anti-TNC e nos impede de discutir publicamente muitos problemas da profissão.
Como em qualquer ditadura de pensamento, a existência desse tipo de personalidades impedem a evolução do conhecimento e uma discussão mais democratizada dos valores técnicos, científicos e humanos de uma classe profissional.
Politica, ciência e representatividade social
Em primeiro lugar, a lei junta profissões e técnicas que a ciência não consegue juntar e isto facilita críticas mal intencionadas.
Misturar as fantasias homeopáticas de água com memória na mesma lei que as bases biomecâncias e neurofisiológicas da osteopatia, facilita o trabalho de céticos anti-TNC.
Céticos anti-TNC como o David Marçal ou o Daniel Oliveira, usam problemas na homeopatia para atacar a acupuntura e a osteopatia quando são terapias com problemas e desafios diferentes.
Em segundo lugar, a acupuntura evolui-o bastante em termos de raciocínio clínico e investigação cientifica mas a maioria dos terapeutas anti-ciência vive de fantasias energéticas que nada tem a ver nem com a medicina chinesa nem com a ciência.
Ou seja, a lei legalizou uma prática que se encontra desfasada da ciência atual e da própria tradição.
Finalmente, estas terapias tem um problema social grave:
1 – se forem todas separadas ficam com pequena representatividade pública o que impossibilita a defesa dos direitos de cada classe,
2 – se ficam juntas acabam num contrasenso em que técnicas cientificas estão a ser difamadas pela sua ligação a técnicas pseudo-cientificas.
Existe um dilema entre ter capacidade de defesa dos direitos enquanto classe e ser obrigado a recorrer a uma validade legal devido á impossibilidade de validade cientifica de algumas áreas.
A luta pelo IVA é uma prova deste dilema: teve origem em grupos de osteopatia mas precisaram de algumas associações de acupuntura para se conseguirem fazer ouvir em frente ao parlamento.
Marketing e ideologia
Se existe um ponto de indignação geral por parte dos céticos anti-TNC está relacionado com o nível de marketing descontrolado que se tornou endémico.
Desde que comecei a trabalhar (2004) já vi acupuntores a defenderem a cura da depressão, esclerose múltipla, fibromialgia, deixar de fumar, cancro, covid, etc…
Quando olhamos de forma mais geral, para algumas TNC, como a homeopatia, naturopatia e grupos de acupuntores observamos movimentos que não só prometem curas impossíveis como se manifestam abertamente contra práticas médicas essenciais como a vacinação.
Os terapeutas anti-ciência conseguiram criar uma santíssima trindade de ignorância cientifica, marketing e desprezo por tratamentos convencionais que se tornou o combustível que alimenta o ativismo cético nas redes sociais.
Isto não só afetou a imagem social destas áreas como a percepção da sua real eficácia ou validade cientifica por parte de muitos céticos anti-TNC.
Os profissionais desta área são cada vez mais conotados com bruxos e pessoas sem qualquer tipo de formação cientifica.
Percepções Erradas
O aumento de ataques sociais tem sido associado a percepções erradas sobre o movimento de céticos anti-TNC, sobre a sua natureza, o seu impacto social e a resposta que os os profissionais destas áreas devem dar.
Os principais ataques a estas áreas tem vindo de grupos de céticos de diferentes backgrounds profissionais e tem sido mais intensos nas redes sociais.
A forma como os terapeutas respondem a estes ataques tem variado desde desprezo, medo, raiva, frustração ou interesse intelectual.
Ao longo de várias conversas, detetei 2 percepções sobre este fenómeno que considero erradas!
A união é necessária para combater os céticos anti-TNC
Somos constantemente bombardeados com slogans:
1 – “Temos de ser unidos”;
2 – “a nossa união é essencial para ultrapassar os nossos inimigos”…
A chamada para uma união como forma de combate significa somente que ou não se compreende o ativismo cético ou existem interesses em usar os céticos anti-TNC para objetivos internos.
A união não vai proteger-nos, pois os movimentos dos céticos anti-TNC observados, tem origem em práticas ou crenças de terapeutas que são claramente anti-científicas.
As crenças mais atacadas pelos céticos anti-TNC são a água com memória dos homeopatas e energias imaginárias dos acupuntores.
Alguns dos pontos de maior irritação dos céticos advêm da oposição destes setores a práticas médicas essenciais nos dias atuais: vacinação e quimioterapia.
Unir estas terapias sem abandonar o misticismo e simples ignorância ideológica dos terapeutas anti-ciência não vai proteger-nos dos céticos. Vai alimentar o ativismo cético.
A base o argumento dos céticos não está no nosso número mas sim nas crenças.
Os céticos representam um movimento cívico capaz de destruir as TNC
As redes sociais podem mobilizar multidões e essa capacidade fez com que o Facebook fosse proibido na China.
Mas as redes sociais também podem dar a ilusão de poder social.
Uma ideia que os terapeutas tem é que estes movimentos céticos tem um grande poder pela capacidade de publicar artigos e viralizar as redes sociais.
O Scimed publica um artigo no site dele e recebe centenas de likes e partilhas.
Mas será que isso realmente implica poder fora das redes sociais?
Recentemente houve uma palestra dada por 4 céticos conhecidos, financiada pela fundação Manuel dos Santos em Leiria.
Isso provocou medo e descontentamento entre muitos praticantes, mas no final só existia um auditório cheio de ar.
O Scimed pode ser uma sensação nas redes sociais mas para o ser precisa ser ordinário e vulgar (show off vende), ter um grupo de narcisistas patológicos que se alimentam uns aos outros e focar-se em múltiplos assuntos fora das TNC e medicina (GMO, energia nuclear, aquecimento global, etc…)
Em 2019, apresentou um abaixo assinado contra as TNC entregue no parlamento com 700 assinaturas. Este abaixo assinado era uma resposta a outro abaixo assinado a favor das terapias não convencionais que conseguiu milhares de assinaturas.
Na altura, do abaixo assinado, o grupo do Scimed tinha mais de 2000 membros mas o abaixo assinado conseguiu 700 assinaturas, sendo que muitas não pertenciam ao grupo de Facebook do Scimed.
Ou seja, a maioria das pessoas que vai a esta página nem sequer concorda com o abaixo assinado (como ficou bem demonstrado com o desabafo irado do Scimed a seguir ao programa dos prós e contras).
Como Malcolm Gladwell notou, as redes sociais representam um ativismo de baixo risco, cujos participantes tem laços fracos a ligá-los.
Toda a gente gosta de ir ao grupo Scimed mas ninguêm está para se dar ao trabalho de assinar os abaixo assinados dele ou a ir ve-lo a Leiria dar uma palestra.
De centenas de likes a 0 espectadores!
Mais depressa, um cético com dor, recorre a um osteopata, do que vai ver uma palestra de outro cético falar sobre os riscos da osteopatia.
História e sociologia: quando a ciência e o sectarismo se juntam
A defesa de princípios científicos prende-se com uma visão social do mundo: por isso, facilmente, muitos céticos, confundem críticas científicas com argumentos usados por instituições que são claramente políticos.
Numa discussão na página de Facebook do Scimed, o mesmo escreveu que a punção seca não era acupuntura porque era feita por profissionais de saúde que não eram acupuntores.
Muitos céticos anti-TNC defendem argumentos sectários do lobbie médico porque olham para estes problemas em termos de herança histórica.
Os médicos são os herdeiros culturais de Galeno, Vesalius, Avicena, Garcia da Orta, Claude Bernard. São os guardiões da cultura científica na saúde humana.
Logo, aquilo que é visto como sectarismo e abuso de confiança por muitos acupuntores, osteopatas ou homeopatas, relativamente à Ordem dos Médicos, é visto como uma posição social normal alicerçada por uma herança histórico-cultural para muitos céticos.
Para o ex-bastonário da Ordem dos médicos, os praticantes TNC são uma fraude que só fazem placebo mas qualquer médico que só faça placebo é um excelente médico.
Os médicos não colocam em causa a tradição científica das nossas sociedades. Por isso a maioria dos céticos não se opõe a esta dualidade de valores.
Por isso o Carlos Fiolhais se opôs à entrada de licenciaturas de acupuntura e medicina chinesa nas Universidades e Politécnicos mas esteve calado estes anos todos relativamente à acupuntura médica.
Quando aparece algum tratamento milagroso anti-obesidade os céticos escrevem artigos e publicam livros e ridicularizar a ideia.
Mas quando médicos fazem tratamentos médicos inúteis e perigosos para emagrecimento não se ouve um único cético.
Quantos tratamentos anti-obesidade a usar quantidade proibitivas de medicamentos para mexer com o funcionamento da Tiróide foram usados sem uma única crítica?
Os médicos só são atacados por céticos quando defendem ideias desenquadradas filosoficamente (Pinto Coelho) e não quando fazem tratamentos que se sabe serem inúteis.
Justiça social e a luta das TNC e dos seus críticos
A noção de certo e errado surge de um instinto natural presente nos seres humanos e noutros animais com consciência de si: ela surge de experiência subjetiva de injustiça social.
Na forma como um ser acha que não está a receber o tratamento idêntico.
Frans de Waal mostrou, de forma muito inteligente como 2 macacos capuchinhos respondiam aos prémios que recebiam quando executavam uma dada tarefa.
Se dessem aos dois macacos capuchinhos, pepino, nenhum deles ficava chateado, pois tinham executado a tarefa e recebido o prémio.
Mas quando ambos executavam a tarefa e a um era dado pepino e a outro uvas, o macaco que recebia o pepino mandava-o fora e ficava irritado.
No video podem ver a resposta do macaco: agredir o cientista com o pepino.
Leis, ciência e a sensação de justiça social
A única coisa que nos diferencia dos macacos, pelo menos para já, é a forma como racionalizamos a nossa sensação subjetiva de justiça social.
As recentes discussões entre céticos anti-TNC e muitos terapeutas são um reflexo dessa mistura de leis, ciência e justiça social racionalizada.
Para os praticantes de terapias não convencionais, é uma questão de justiça social que eles sejam legalizados, já que existem uma série de profissionais de saúde a fazer o que eles fazem.
É justo para um homeopata não poder exercer quando um médico pode fazer homeopatia?
A luta contra o IVA assentou, igualmente, neste pressuposto de justiça social:
É justo pagarmos IVA quando fisioterapeutas, enfermeiros e médicos que fazem acupuntura e osteopatia não pagam IVA?
Ninguêm quer pepino quando o vizinho come uvas.
Mas muitos céticos tem razão quando abordam o problema sobre o ponto de vista científico.
Será justo áreas como a homeopatia serem reguladas, como profissões de saúde, quando não reúnem as bases científicas necessárias para o fazer, ao contrário de todas as outras áreas de saúde?
Será justo muitos profissionais das TNC procurarem por prestígio legal quando não o conseguem cientificamente?
Qualquer diálogo existente tem de levar em linha de conta que os pressupostos de justiça social se aplicam aos dois campos.
Em vez de estarem sempre a atacar a credibilidade moral dos seus oponentes, os vários partidos deveriam tentar compreender a base na qual assenta o pressuposto para uma sensação positiva de justiça social.
Os céticos anti-TNC podem falhar porque facilmente caem no facilitismo ideológico e na simplificação mas a premissa base da igualdade científica está correta e é socialmente justa.
Muitos profissionais, das terapias não convencionais, falham completamente na questão da justificação científica das suas práticas (água com memória, energias imaginárias, acupuntura quântica, etc…) mas o pressuposto base da igualdade social enquanto profissão está correto.
Pedro Choy vs João Cerqueira
Se houve um caso mediático que apelou fortemente à sensação de justiça social dos 2 campos foi o caso judicial, onde Pedro Choy processou João Cerqueira de ofensas pessoais.
O médico do Porto, depois de ser obrigado a um pedido de desculpas publico a uma enfermeira, acabou condenado por ofensas pessoais contra Pedro Choy.
Muitos acupuntores festejaram este acontecimento como uma vitória. A sua sensação de justiça social foi satisfeito após a condenação de uma pessoa que sempre os ofendeu.
Mas a sensação de justiça social de muitos céticos ficou agravada.
Será justo o João Cerqueira ser condenado por ofensas ao mesmo tempo que o Pedro Choy pode fazer todo o tipo de marketing na televisão?
A resposta nas redes sociais não podia ser pior. Agora não é só o João Cerqueira a ofender o Pedro Choy. São inúmeros portugueses a manifestarem-se no Facebook e Twitter.
Pode Pedro Choy processar todos os portugueses?
Esta vitória pode vir a mostrar-se pírrica, caso esta condenação transforme o Scimed numa qualquer espécie de mártir para ativistas mais inflamados.
Escala argumentativa da ala mais radical
Dentro do movimento dos céticos anti-TNC existe uma ala mais radical, que exprime bem a sensação de injustiça social sentida por muitos profissionais e curiosos.
Neste caso, um conjunto de indivíduos para os quais não existe um único argumento ou prova que apoie a posição dos profissionais que praticam estas terapias.
Estes são sempre vistos como “vendedores de banha da cobra”, “tretólogos”, “pseudo-terapeutas”, “charlatões”, etc..
Estes céticos anti-TNC tem posições argumentativas e lógicas que se repetem consoante a necessidade e que podem ser resumidas nos seguintes pontos:
1 – A terapia X é uma fraude, parte de princípios anti-científicos, logo os terapeutas são vendedores de banha da cobra.
Depois de se provar que existem mecanismos científicos plausíveis para algumas destas terapias, o argumento transforma-se.
2 – Isso não significa nada. Pode ter efeitos fisiológicos ou uma explicação plausível mas isso não significa que seja clinicamente válido, logo os terapeutas são vendedores de banha da cobra.
No entanto em algumas técnicas é possível provar que são clinicamente válidas e tem resultados semelhantes a muitos tratamentos convencionais.
3 – Se são semelhantes então não são necessárias porque já existem tratamentos eficazes. Logo os terapeutas são vendedores de banha da cobra.
No entanto, depois de se mostrar que existem técnicas que são clinicamente válidas e podem contar-se entre tratamentos de primeira linha a resposta é:
4 – Mas isso é uma técnica e uma técnica não valida a terapia toda. Logo, estes profissionais são vendedores de banha da cobra.
No entanto é possível demonstrar que não é só uma técnica ou uma indicação clinica mas várias e que algumas destas terapias são cada vez mais aceites pela comunidade de profissionais de saúde a nível internacional.
5 – Ok, mas isso que falou da osteopatia “é fisioterapia baseada na evidência” ou então se funcionou “é medicina porque tudo o que funciona passa a ser medicina”. Logo estes profissionais são vendedores de banha da cobra.
Nas palavras de Feynman, “Quod erat demonstrandum”!
Narcisistas patológicos e bodes expiatórios
Um bode expiatório é uma pessoa ou grupo de pessoas acusadas de um crime ou algo condenável e que não fizeram.
O bode expiatório permite-nos direccionar as nossas emoções mais negativas, as nossas fraquezas e diminui a ansiedade do desconhecido. E todos tem os seus bodes expiatórios.
Os bodes expiatórios são bons psicologicamente porque aliviam a ansiedade e o medo e são vantajosos politicamente porque permitem a manipulação das massas por pessoas que não tem capacidade de analisar ou resolver os problemas dessas massas.
Mas na realidade só ajudam a manter ou agravar os problemas existentes. Pela minha experiências a maioria dos céticos anti-TNC ou terapeutas anti-ciência são narcisistas patológicos que procuram bodes expiatórios.
O caso Steve Jobs de acordo com o médico Vasco Barreto
2 casos mais mediáticos foram as denuncias de 2 médicos: João Cerqueira e Vasco Barreto.
O João Cerqueira, como documentado, acusou muitos profissionais desta área de convencerem os pacientes a deixarem a quimioterapia, com base numa leitura viciada de um estudo escolhido a propósito.
Se há algo a retirar desse artigo é que não tinha qualquer fenómeno de causalidade para as acusações expostas no projeto Scimed.
Acusar, profissionais destas áreas, sejam terapeutas anti-ciência ou não, dos problemas de saúde é comum em narcisistas patológicos que procuram bodes expiatórios.
O médico Vasco Barreto escolheu o caso de Steve Jobs, fundador da Apple, que morreu de cancro por recusar tratamentos que lhe poderiam ter salvo a vida:
De seguida, o Vasco Barreto oferece-nos um link para um artigo que fala sobre este momento fatídico da vida de Steve Jobs.
Acontece que a história do Steve Jobs não tem nada a ver com “deixar-se seduzir por charlatões sem escrúpulos que vendem falsas esperanças”.
Além das muitas incertezas nesta história, se nos focarmos na sua biografia oficial a escolha de Steve Jobs teve mais a ver com as suas crenças pessoais do que ser convencido por “charlatões sem escrupulos”.
De acordo com entrevistas do seu biógrafo:
“Asked why “such a smart man could do such a stupid thing”, Isaacson said: “I think he felt: if you ignore something you don’t want to exist, you can have magical thinking. It had worked for him in the past. He would regret it.”
Mr Jobs’s wife, Laurene Powell, told the biographer: “The big thing was he really was not ready to open his body. It’s hard to push someone to do that.” She pleaded: “The body exists to serve the spirit”.”
Tanto o João Cerqueira como o Vasco Barreto criam os seus bodes expiatórios para conseguirem culpar alguêm pelos problemas que eles vêem no seu mundo.
Fazem cherry picking e constantes traduções ou interpretações erradas das suas fontes. de forma a poderem criar os seus bodes expiatórios.
O fenómeno de causalidade referido pelos 2 médicos é imaginário. Pode ser psicologicamente reconfortante mas dá uma ideia errada da realidade.
Super-heróis narcisistas
Acusar minorias dos problemas nacionais ou profissionais não é só uma forma de consolo psicológico. É também uma atitude narcisista patológica.
Ao se criar um vilão também criamos um herói. Mas tanto o vilão como o seu próprio heroísmo são imaginados.
A violência costuma ser verbal e psicológica mas pode evoluir para física. Exemplos de conspirações narcisistas típicas destes grupos:
1 – os médicos são todos uns vendidos da indústria farmacêutica (naturopatas, homeopatas);
2 – os terapeutas são todos contra a medicina e convencem os pacientes a não fazerem quimioterapia (céticos), etc…
O bullying vem na forma de ofensas públicas, ameaças sociais, judiciais e físicas, exclusão de grupos sociais, ofensas verbais, manipulação da opinião pública, etc…
Cancel Culture
Os ostracismo social é uma das ferramentas de grupos dominados por narcisistas patológicos. A cancel culture caracteriza-se pela política de tentar cancelar o livre discurso de pessoas que tem opiniões diferentes das nossas.
Tanto os terapeutas anti-ciência como os céticos anti-TNC adoram expulsar e discriminar pessoas com ideias diferentes apesar de serem grupos que apelam ao “espírito aberto” e ao “debate”.
O ostracismo, parece ser uma ferramenta comum em muitos grupos do Facebook por ditadores wannabe.
Em 2019 fui expulso e um grupo de acupuntura porque publiquei um artigo a defender o uso de luvas em acupuntura e muitos dos administradores do grupo eram contra essas ideias. Nenhum foi capaz de as discutir publicamente.
Na realidade, a maioria dos terapeutas anti-ciência fogem de discussões públicas como o diabo foge da cruz.
No mesmo ano acabei expulso do grupo privado do Scimed, apesar de nunca ter ofendido ninguém e quase não participar. Mas certamente é um grupo que não pode ser acompanhado por “tretapeutas”.
Em 2022, publiquei um artigo, num grupo aberto chamado “O cético responde”. O artigo era uma critica ao João Cerqueira e aos seus esquemas de manipulação de dados. Estava devidamente fundamentado e tinha bastantes estudos científicos.
No entanto, num grupo com mais de 2600 membros, supostamente moderados, abertos ao diálogo factual e devidamente fundamentado, só recebi ofensas e provocações.
Dos mais de 15 céticos amantes da ciência e da “discussão baseada na evidência”, que decidiram comentar, só um foi efetivamente de comentar o artigo. Todas as outras intervenções foram baseadas em ofensas pessoais.
No final, o artigo acabou banido do grupo.
Pensamentos finais
Para muitos terapeutas anti-ciência, o João Júlio Cerqueira será sempre um vendido da indústria farmacêutica e para o João Júlio Cerqueira os profissionais das TNC serão sempre uns profissionais da treta, uns vendedores de banha da cobra.
Somos todos vítimas de uma categorização social tirânica mas por escolha própria.
No entanto, os terapeutas anti-ciências e os céticos anti-TNC representam posições extremadas que não apresentam uma % significativa de profissionais, doentes ou curiosos que aceitam alguns tratamentos ao mesmo tempo que aceitam um discurso racional e cientifico.